Archive for Novembro, 2009

Ela tem 23 anos, não consegue se libertar do passado amoroso e pede ajuda

30/11/2009

ABAIXO, UMA CARTA QUE RECEBI. A autora, como nosso querido RR, pede que a publique, porque quer ouvir a voz neutra e sábia da comunidade sincera que temos aqui.  Como recusar o pedido aflito de uma garota de 23 anos que não sabe o que fazer?

“Sou uma jovem de 23 anos num apuro amoroso.

Dos meus 16 aos 22 anos namorei um homem mais velho que eu, e que me fazia muito, muito feliz. Sexualmente, não lembro uma vez sequer que não tenha me saciado. Foi meu primeiro homem, meu primeiro amante, meu primeiro tudo.

Ele é negro.

Fora os negros mesmos, só uma mulher que namora um negro sabe quanto racismo existe ainda hoje no Brasil, apesar de tantas palavras em contrário.

Minha família foi um problema desde o início. Sou a filha mais nova de uma família de classe média. Branca,  boa aluna. Moderna e anti-racismo, assumi minha paixão por ele. Todos eram contra, incluídos meus amigos. Com o tempo, e com muito esforço de minha parte, fomos aceitos como casal. Ou quase.

Nós éramos um casal feliz e apaixonado. Eu superprotegia ele contra o preconceito, e ele virou outra pessoa. Com dois anos de namoro, ficamos noivos! E eu passei no vestibular… O que foi um pretexto pro meu pai adiar o casamento por quatro anos.

Mas nem mesmo assim  fiquei desanimada. Eu tinha quatro anos pra programar o casamento dos meus sonhos.

Juntamos dinheiro, e fazíamos todos os tipos de planos juntos. Até sabíamos os nomes dos nossos filhos. Mas no último ano meu na universidade  passamos por uma crise séria.

Eu estava sem tempo. Trabalhava, estudava na faculdade e num curso de inglês e ainda tinha monografia… Ele entrou em uma banda de reggae, que ele adorava. Passamos a viver em mundos opostos, mas ainda estávamos juntos. Um dia ele faz comentários sobre uma nova amiga, uma vizinha – loira, mãe solteira. Ele parecia empolgado com a força e a garra da loira.

Até que eu percebi que ele estava apaixonado. Eu não sei como fui tão idiota. Disse pra ele ficar com ela, porque não iria dividí-lo com ninguém. (Sou egoísta e ainda cresci assistindo as traições de meu pai, as brigas dele com minha mãe e o perdão que ela dava.) Ele com medo, ou arrependido, fingia que não estava com ela, mas eu sabia que alguma coisa estava acontecendo.

Até que depois de nossa primeira briga homérica (o motivo foi ele dizer que “a vizinha sim era uma mulher de vergonha que sabia cuidar de um homem, que era uma guerreira”) ele criou coragem. Me disse que se “envolveu” com ela. Mandei ele embora. Chorei amargamente de arrependimento e raiva, senti que não tinha chão e que tinha investido minha fortuna em ações de uma empresa falida.

Numa conversa posterior, ele me disse que foram apenas beijos e amassos, nos dias em que eu estive na casa de praia com as amigas. (Eu o convidei, mas ele recusou o convite de passar um final de semana comigo na praia). Conversamos, choramos e eu deixei em “stand-by” até assimilar o ocorrido.

Até que a vizinha liga pra minha casa.

Ela pede pra marcar um encontro comigo, porque precisava me contar “algumas coisas”.  Arrogante que sei ser, disse que já sabia de tudo em detalhes e que não encontraria com ela por conta disso. Até que ela perguntou como eu poderia estar com ele depois de os dois terem transado diversas vezes e de maneiras diversas e inesquecíveis.

Se eu fosse um Titanic, Fabio, esse momento seria o do naufrágio!

Depois de ouvir detalhes da relação do meu noivo com a vizinha,  tive uma longa conversa com ele. Contei pros meus pai. Minha mãe (como era de se esperar) disse que era eu quem tinha provocado a situação. Fiquei atordoada e resolvi investir mais alguns trocados na empresa falida que era meu noivado. Por remorso, por medo e por amar demais.
Ele disse que estava arrependido. Me contou que era chantageado pela vizinha. Que ela me imitava,  pedia que ele a chamasse pelo meu nome. Ela usava roupas semelhantes às minhas. Me chamavam de “a noiva otária” e a vizinha parecia estar em todos os lugares que eu frequentava. Ela me encarava, falava mal de mim e ria da minha situação.
Passei sete meses ao lado de um homem dividido. Não suportava os carinhos e os beijos dele em muitos momentos, e enfrentei mais uma fase de preconceito e piedade agressiva da minha família. Eu estava apressando os planos do casamento, e ele dizia fazer o mesmo, mas quando fui verificar o quanto de dinheiro tinhamos para começar mesmo nossa vida …

Ele tinha gasto todo o dinheiro.

Descobri que ele tinha uma vida noturna bem agitada, e que eu nunca estava incluída nessas programações. Passou a beber, frequentar shows,  boates assiduamente, até que um dia soube que eu ainda era eu. De repente, acordei sentindo que carregava um peso que me era demais. De arruinada e deprimida, retomei minha personalidade forte e decidida e, em uma ensolarada manhã de quarta-feira. terminei em definitivo com uma relação desgastada, fracassada e que só me trazia sofrimentos.

Vivi momentos maravilhosos com ele, descobri outra vida, me tornei uma mulher madura e decidida com ele.  Acabamos seis meses antes do nosso suposto  casamento, e todos os dias quando me olho no espelho admiro a força e a coragem que me fizeram romper.

Mas confesso que sinto muita saudade dele.  Dos primeiros beijos escondidos, das conversas sobre o futuro, do perfume, do sorvete alta madrugada, das risadas. Da mania dos relógios, do bom humor, do aprendizado, da voz. Do último beijo, meu presente de aniversário, e das vezes que pedi para ele mudar.

Às vezes tenho vontade de procurá-lo.

Devo?”

Mulheres maduras e mulheres jovens: uma relação complicada

29/11/2009

ela está com medo de daqui a alguns anos ser impiedosa com mulheres como ela agora: uma visão minha do desenho de Roy Lichtenstein

TENHO UM AMIGO que também escreveu sobre Belle de Jour. Ele viu a entrevista que Belle de Jour deu a uma veterana decotada e disse que ali estava um “caso clássico, histórico” de inveja de mulher madura de mulher jovem. Meu amigo não é nenhum Tio Fabio, mas parecia um chinês de cavanhaque comprido e túnica ao filosofar o seguinte: “Envelhecer bem, numa mulher, é mais que tudo aceitar que existem novas gerações.”

Basicamente, não ficar com raiva, na maturidade, de quem está no esplendor.

Nadja, no apogeu finito da maturidade, me ligou imediatamente aos berros depois de ler o texto de meu amigo. No passado, fomos muito unidos, os três. Se não me engano, nós dois a disputamos como cavalheiros, e ambos a perdemos como losers.

“Ele não se emenda, hem?”

O ponto dela é que com os homens acontece exatamente o mesmo. Nosso amigo, portanto, fora machista. Ele está longe, e falei com ele pelo Skype.

“A Nadja ficou pxxx com o que você escreveu.”

“Quando ela não ficou?”

“Diz que você foi preconceituoso e machista. Que homem é igual nisso.”

Ele riu.

“Fabio, na mulher a questão da beleza é muito mais forte que no homem. Culturalmente.  Daí a diferença. Você escreveu outro dia sobre aquela personagem do Kundera, a mulher que se atormenta no primeiro dia em que os homens da rua deixam de assobiar pra ela. É coisa de mulher. Como você gosta de escrever, de fêmea.”

Ele riu, e eu também.

“A mulher sábia, ao chegar à maturidade, não esquece que foi garota. Não é o caso daquela entrevistadora, dá para sentir ela bufando, Fabio. A Belle parece leve como um grão de areia, a outra está pesada como o George Foreman. Mentalmente.”

Ele diz que conheceu várias  mulheres sexualmente superativas, jovens, e que depois, na casa dos 60, se casaram com Buda e se tornaram monjas. Cabelos raspados, disciplina total, castidade absoluta, indiferentes aos apelos da carne que as subjugaram quando moças e não budistas.

É um ponto.

“A obsessão da beleza feminina na cultura moderna estimula a raiva e a inveja na mulher que vê ruga e cabelo branco no espelho mas não na jovem ali do lado”, filosofa meu amigo.

“Acho que você anda lendo muita sociologia. Já leu O Dicionário Conciso Chinês-Inglês para Amantes?”

“Acabei de ler. Aquela chinesa não vai virar monja. Nem a Belle. A entrevistadora tem boas chances.”

Rimos como dois velhos amigos riem de bobagens que dizem e ouvem quando estão conversando.

E nos despedimos não com um abraço, mas com um clique.

O Guia do Homem Perfeito no Coito, Pré-Coito e Pós-Coito:Parte 2

28/11/2009

1) Nem conservador que faça a toilete antes do coito e nem vanguardista que esqueça  que o resultado não se conta em piruetas mas sim em êxtases.

2) Robe de chambre, jamais. Voilà!

3) Jamais cantar, pois mesmo uma declaração ao pé de ouvido pode funcionar como cicuta se você cantar fino ou desafinar além do aceitável. Essa verdade universal se aplicar para o pré-coito, o pós-coito e o coito propriamente dito; e também para o chuveiro, excetuadas as situações em que você deseje se vingar de uma palavra má ou nome errado que tenha ouvido no coito; nesses casos, pensar que está fazendo um concerto num estádio e cantar alto para que a gente humilde da arquibancada possa apreciá-lo tão bem quanto os privilegiados dos camarotes.

4) Elogiar o corpo dela, apenas em casos de extrema convicção ou necessidade, pois um rictus involuntário nos lábios poderá levá-la a achar que você está rindo do que diz e a suspeitar que se trata de uma mentira com o propósito apenas de conhecê-la biblicamente.

5) Jamais perguntar por que ela fez uma tatuagem, a não ser em casos extremos em que a tatuagem provoque em você sensações de náusea e/ou sintomas de gripe suína; caso seja um nome masculino, não indagar sequer nos casos extremos; desvie o pensamento, evitando contudo que ele se fixe em seus pais ou avós.

6) Não ambicionar, no coito e mais ainda na tentativa do segundo coito, a força de dez leões e nem se resignar com a fraqueza de dez ratinhos; a virtude amorosa está no meio.

7) Gritar, só em casos extremos, como incêndio ou o barulho do alarme do carro; em situações comuns, ela poderá desconfiar de simulação ou até se julgar ofendida por ter sido considerada a possibilidade de deficiência auditiva; caso ela de fato a tenha, gestos são melhores que berros.

8  ) Não julgar e nem culpar caso não se realize a ereção, a não ser em situações em que sua honra está em jogo. Nestes casos raros, calmamente transferir a ela a responsabilidade, deixando claro que em sua magnanimidade ela poderá merecer segunda chance caso seja modesta para não devolver a responsabilidade.

9) Celular ligado, jamais, ainda que seja um moderno IPhone que você deseja que ela saiba que você pode comprar.

10) Tuitar no  coito, nunca, ainda que você tenha 1 milhão de seguidoras; no pós-coito ou no pré-coito, como um cavalheiro, só tuíte caso ela também o esteja fazendo; nestes casos raros, jamais perguntar a grafia de determinadas palavras.

11) Não agradecer o coito nem no pré-coito e nem no pós-coito; ela estará reconhecida caso suas bochechas estejam rosadas, o sinal universal da satisfação amorosa feminina.




Sou mais a cientista que fazia programa do que a entrevistadora

26/11/2009

Belle de Jour, numa foto publicada pelo site do Daily Telegraph

“POR QUE VOCÊ decidiu escrever?”, pergunta a loira de baixo para a loira de cima. Há um tom de reprovação na pergunta, expresso no semblante carregado da mulher que a fez. Era a primeira entrevista de Belle de Jour, a cientista que para pagar seu doutorado decidiu ser, como ela diz, ‘trabalhadora do sexo’, ou marafona, como Tio Fabio gostava de falar com um sorriso. (Abra o link acima, recomendo.)  Enfim, uma prostituta, e de luxo, em Londres, uma mulher bonita, culta e divertida que você só poderia desfrutar se pagasse 300 libras a hora, e isso num período de 14 meses entre 2003 e 2004.  Tão logo arrumou seu novo emprego, ela começou a escrever um blog, que fez um sucesso imediato, e no qual narrava suas aventuras sexuais secretas. Era, e é, tão bem escrito que as pessoas desconfiavam se tratar de um profissional das letras. Dois livros vieram do blogue, e mais uma série de tevê.

Com o título de doutora conquistado, e também com o ponteiro do relógio avançando, e posto que passou dos 30 uma escorte é titia, ela deixou de ser garota de programa e retomou a carreira científica. Revelou a identidade secreta porque um ex-namorado ameaçava falar. Imagino que estivesse chantageando-a. O caso teve repercussão transatlântica, e aquela era a primeira vez que Belle ou Brooke falava com a mídia depois da confissão.

Isso tudo colocado, faz sentido a pergunta da entrevistadora? Ora, Brooke começou a escrever porque tem uma imensa vocação literária. Vi textos de seu blogue, e estou lendo seu segundo livro, e é uma prosa de alta qualidade.  Tão boa que sequer parece ser o que é, a rotina de uma ‘trabalhadora do sexo’ que, ao contrário do que se vê no cinema, não tem por clientes apenas galãs. O lado degradante, que evidentemente existe na prostituição, é atenuado nos textos de Belle por um humor elegante e jovial que faz você rir quando poderia ficar chocado.

A entrevistadora parece cobrar arrependimento de Brooke e ficar desapontada quando ela diz que fez o que achava que tinha que fazer, sem remorsos. Diz ainda, sem afetação, que sente alguma falta de determinados aspectos da sua vida passada. A emoção, por exemplo, de chegar a um hotel para um encontro marcado, sabendo que terá que trabalhar bem, ter um bom desempenho, seja isso o que for.

Sou muito mais Brooke que a entrevistadora arrogante, severa, toda produzida e engomada, uma Barbie de toga que se dá ares de juíza e gostaria que os espectadores levassem a sério seus vereditos impiedosos.

São duas mulheres frente a frente, uma entrevistando e julgando, a outra respondendo com graça. Uma parece pesada em seu papel inquisitivo, a outra leve, suave, alguém que não se autoflagela por ter feito o que fez. Uma deve dormir mal e acordar mal, a outra dormir leve e acordar mais leve ainda.

Não quero ser juiz, e acho a prostituição um horror, naturalmente, mas se tivesse que escolher entre as duas loiras não faria como Pôncio Pilatos. Não lavaria as mãos. Optaria, sem dúvida, por Belle de Jour.

A entrevistadora, numa foto publicada no Daily Mail

 

OS DOS E DON’TS DA NOVA ETIQUETA SEXUAL

25/11/2009

Coisas da internet. Não sei por que, ao verificar meu painel de controle no WordPress, vi que o texto mais lido ontem foi um sobre a nova etiqueta sexual masculina.

Gerou um intenso debate, que um dos leitores de ontem, o bravo Leo, como se pode ler nos comentários, criticou com a aspereza de um cossaco russo ou de um cigano búlgaro.

Achei que valia a pena retornar ao texto. Por isso republico-o, agora ilustrado com o traço incomparável de Carlos Zéfiro.

OS DOS E DON’TS DA NOVA ETIQUETA SEXUAL

1) Faça tudo para satisfazê-la na cama. Não economize nada. Mas, se apenas um tiver que chegar ao êxtase, que seja você.

2) Se sua língua encontrar um piercing íntimo, cuidado para não retirá-lo sem querer.

3) No tapete, é melhor que na areia. Na cama, melhor que no tapete.

4) Na dúvida sobre o nome, cale-se.

5) Não grite como se estivesse na arquibancada.

6) Tampouco sussurre como se estivesse num confessionário.

7) Evite cantar no pós-coito a não ser que tenha certeza de sua afinação e bom gosto musical.

8  ) Jamais perguntar se foi bom porque é uma prova de que não foi, ou você teria percebido.

9) Nunca conversar, mesmo que ela fale na previsão meteorológica. Nestes casos, beijar não para acendê-la e sim para calá-la.

10) Se falhar, não disserte e nem explique.  Vista-se com honra e dê um pulo na farmácia mais próxima para comprar Viagra e não ter surpresas em futuras ocasiões.

11) Jamais explicar o significado de sua tatuagem em chinês e nem perguntar o da dela, caso ela tenha.

12) Se ela não disser que é grande, não pergunte e nem deduza daí que é menor que o dos outros.


O que você sente ao ver essa imagem?

23/11/2009

Jeff Koons, célebre artista contemporâneo, com sua ex-mulher, Cicciolina

É UM DOS MAIORES nomes da arte moderna, Jeff Koons.  Um dos artistas mais bem pagos do mundo, e tão extragavante que foi casado com uma atriz de cinema pornô, Cicciolina, que nos anos 90 tinha uma beleza loura e agressiva de fazer bispo olhar para trás e chutar poste. Os dois estão ali em cima unidos para sempre, embora na vida real já se tenham separado. (Vou colocar no pé deste texto outra obra de Koons de que gosto, um Popeye. Viajo no tempo quando vejo o marinheiro Popeye.)

A discussão que vamos travar agora junta arte e sexo.

A pergunta: que sentimento toma você ao ver uma imagem daquelas ali de cima?

A mulher prefere ser vista ou ouvida?

22/11/2009

Obra de Mel Ramos, um dos grandes da Pop Art

A VIBRANTE DISCUSSÃO travada neste blogue, no texto anterior, me levou a abrir um fórum. Citei uma personagem de Milan Kundera, uma mulher que, habituada a ser admirada e objeto de assovios para onde quer que transportasse sua graça petulante de fêmea, entra em desespero quando os homens na rua, antes tão fascinados, ficam indiferentes a ela.

Tio Fabio, falecido homem sábio do interior, dizia que o poema mais sublime escrito pelo poeta mais inspirado não se compara, como homenagem, a um simples ‘gostosa’ que chega repentina e espontaneamente ao ouvido enfeitado por um brinco de uma mulher numa caminhada urbana, rural ou até aquática.

A eletrizante questão que emergiu do debate: a mulher prefere ser vista ou ouvida? Admirada pela beleza interior, como a pintora mexicana Frida Kahlo, lá para baixo num auto-retrato, ou, como a mulher desta da obra de Mel Ramos, um gênio de quem tenho um livro da Taschen com seu traço soberbo, pela beleza exterior?

O ideal é uma terceira alternativa. Já estou ouvindo gritos de mulheres dizendo: “Fabio, queremos ser reconhecidas interior e exteriormente.’ Eu também, se isso consola. Mas o mundo, infelizmente, não é perfeito.

Importante: beleza interior captura muitos homens. Com seu bigode e sobrancelha de Monteiro Lobato, Frida conquistou alguns dos homens mas interessantes de sua época, como Rivera, o muralista revolucionário, e Trótski, o chefe comunista que perdeu a disputa pelo poder para Stálin e foi parar no México, onde foi assassinado a mando dele, Stálin.

Posto isso, o que diz mais para uma mulher: admirarem suas frases espirituosas ou suas curvas de fazer bispo olhar para trás e chutar poste? Ou isto ou aquilo, para lembrar um poema sábio e simples de Cecília Meireles.

Eis o poema:

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo

Bem, estou aqui na arquibancada, com a camisa do Corinthians, pronto para ver o espetáculo imperdível das discussões entre fêmeas opiniáticas, dispersivas, surpreendentes, variadas — e brilhantes.

Ou isto ou aquilo?

“Ninguém olha mais para mim e estou desesperada”

21/11/2009

Lucretia,  de A-lad-Insane

LEMBRO DE UM LIVRO DE MILAN KUNDERA. O título me foge e, para ser sincero, o enredo também. Mas uma passagem que jamais me saiu da cabeça. É a dor de uma mulher que sempre fora atraente e provocadora no dia em que, pela primeira vez, um grupo de homens que sempre assoviavam quando ela passava fica em silêncio indiferente. O choque de perceber que deixara de ser uma mulher que fazia os homens olharem para trás. E que não havia nada capaz de mudar isso. Sempre existe esta hora em que nosso mundo desmorona. A única escolha que temos é aceitar ou nos revoltarmos. E me pergunto se há coisa mais fascinante para uma mulher do que atrair assovios de homens na rua. Talvez, imagino, muitas não se dêem conta do tamanho dessa homenagem masculina às vezes tosca e grosseira. E só percebam a grandeza do tributo no dia em que o silêncio visceral substitui o frêmito excitado, como a desolada personagem de Kundera.

“Parece que o macho sente o cheiro da fêmea com outro”

20/11/2009

Amigas, de Gustave  Klimt, um de meus artistas favoritos

NÃO TIVE COMO não trazer para cá, nossa Quadra Central, como diz meu primo Minhoca, essa carta, com uma pequena edição para evitar constrangimentos. É a Srta O, e o curioso é que, para mim, num gesto de franqueza e cortante sinceridade, ela revelou o nome real. Que, inacredivelmente, é o mesmo da rival, Srta T, elas que travam uma batalha interminável por R. (A quem chegou agora à história, sugiro a leitura de dois textos deste blogue que tratam dessa novela amorosa.) Acho que agora está claro o cenário. Tenho minha visão formada, que passei pessoalmente a O. Vamos ver a da nossa turma, se bate com a minha. (Vanessa, que tinha desistido de comentar depois de uma ‘chapuletada’ minha, para usar uma expressão divertida dela num email pessoal, está convocada a se juntar ao grupo de análise.)

A carta:

Minha versão. Conforme R  contou, adicionei-o no orkut em 2004, quando estava em vias de terminar meu primeiro namoro. Logo que adicionei R, recebi a resposta quase que instantaneamente e engatamos uma conversa. Ele estava em férias na cidade, e combinamos para o dia seguinte um encontro. Lá, ficamos. Ele voltou pra cidade na qual estava morando e nos comunicávamos via e-mail. Enfim, até aí, tudo perfeito.

A partir do instante que nos encontramos e ele falou que havia retomado o namoro com a ex, meu mundo caiu. Estava completamente apaixonada por ele; um sujeito mais velho do que eu 10 anos, tímido, bem humorado e muito inteligente. O meu tipo. Resolvi, com a fúria de uma leoa por sua presa, aceitar a situação com a esperança resignada de tê-lo um dia só pra mim. (Inocente esperança,) Só que foram passando meses, anos. Nos encontrávamos toda as vezes que ele vinha passar o final e semana aqui, de 15 em 15 dias, uma vez por mês. Havia vezes em que ele me chamava para voltar com ele para a cidade para que ia viajar, de tão apaixonado.

Eu ficava aqui, à espera dele. Não sentia vontade alguma de conhecer outra pessoa. Até um dia que ele me chega com outra bomba: ele havia marcado a data para se casar com a namorada (se eu lhe disser que o nome dela é o meu, você acreditaria? É fato.). Seria dali a cerca de 5 meses. Meu mundo desabou mais uma vez. A partir daquele momento, entrei em um trabalho mental para esquecê-lo. Não havia mais chance, pensava. Ele vai estar casado no final desse ano, perdi. Mas ele não conseguia se desvincular de mim. Nem minha cabeça dele. Só que eu não podia conviver com isso. E então falava pra ele que, se ele casasse, ele podia esquecer que eu existia, pois casamento pra mim é coisa séria demais. Até que faltando um mês para o casamento, ele desmarca tudo. Todos com a roupa comprada, passagem reservada. Foi o caos. Sö lembro de ele me ligar no dia, com uma voz embargada e me dizer: não vai ter mais. Desmarquei o casamento. Só liguei pra te contar.

Foi a melhor coisa da minha vida ouvir aquilo. dava pulos de 2 metros do chão.

Mas, por incrível que pareça, eles desmarcaram a data, mas continuaram a namorar. A causa  eu nunca soube. Ao longo desses 6 anos de namoro, eles estiveram em vias de término mais de 10 vezes. Todas começadas por ele. Mas a namorada jamais desistiu de lutar por ele. Terminada a residência dele na outra cidade, fez um concurso para a nossa cidade e passou. A namorada dele tb fez e passou. Ele veio pra cá primeiro, ficávamos feito namorados, íamos a restaurantes, cinema, passear de mãos dadas. Qualquer lugar era uma oportunidade para escancararmos nosso amor. Só que depois veio ela. E desde então, passou a ser insuportável para mim beijar uma boca que já havia sido beijada por ela ontem, por exemplo. Encontrar amigos dele na rua me confundindo com ela (nomes idênticos, mesmos lugares, mesmo tipo físico.) Até que não teve mais jeito.

Terminei com R.

Logo em seguida, conheci um sujeito na faculdade que me despertou a atenção – era descomplicado em relação a minha relação com R. Ficamos poucas vezes e logo começamos a namorar.

Parece que o macho sente o cheiro da fêmea com outro.
R começara a me ligar diversas vezes depois de duas semanas da minha ausência. Tinha saudades, queria me ver, me escrevia cartas, deixava na minha caixa de correio, no email, tudo.  Eu não resistia a atender as ligações de R, pois o que ele me falava era tudo o que eu queria ouvir em todo esse tempo de espera. Mas jamais traí meu namorado nesse tempo.

Meu namorado, ciumento obsessivo, com a mesma profissão de R e sua namorada, ao saber do interesse de R por mim, tratou de descobrir o telefone de T.  Revelou a ela que R  estava me procurando. Foi uma briga homérica. Meses depois, descobri que meu namorado tinha um transtorno de personalidade que me deixou doente. Ele era sociopata e, em poucos meses, destruiu minha vida com seus ataques repentinos de ciúmes de R e qualquer um que ele imaginasse existir. Estava completamente fraca, perdida. Aos poucos, retomei minhas conversas com R, ele sabia dos surtos do meu ex e era com ele que sempre me abria. A partir do momento que falei a R que estava solteira, ele pirou.

Marcamos um encontro e demoramos a ficar novamente. Eu queria reestabelecer minha vida e não queria mais voltar a R antigo; queria um namoro normal. Ele prometeu tentar. Mas em vão. Já se foi mais de um ano depois dessa promessa, e nunca namoramos só nós 2: eu e R. Então, acho que com toda razão, terminei com R mais uma vez. Estou sozinha, Fabio. Não tenho sentido necessidade de ter R, de desejar loucamente beijá-lo, sabe? Acho que de tão calejada eu simplesmente parei de sentir. Hoje, nos resumimos a conversas pela MSN.

Mas posso te revelar que o que sinto por R foi o maior amor que existiu em meu peito.”
E assim se encerra a versão de O, mas não a história enrolada e complexa que ela vive com R e, indiretamente, T. Ambas com tipos físicos semelhantes, ambas com o mesmo nome, ambas controladas emocionalmente e sexualmente por um homem que não é malvado, mas sedutor e confuso amorosamente. Termino com um quadro de mais um artista de que gosto, também ele austríaco à maneira de Klimt: Egon Schielle. Na mulher melancólica de Schielle vejo, não sei por que, O.

“Não ponham piercing onde eu coloquei: na vagina”

18/11/2009

Essa carta merece atenção especial. Mais uma vez, um email fajuto para repartir conosco um drama real. Peço um pouco mais de calma nas análises. É uma jovem mulher que se anunciou como  Senhorita P, jornalista de Lisboa, a agora cosmopolita e vibrante capital de Portugal. Fiz uma ligeira edição, tentando basicamente trazer o português de Portugal para o do Brasil sem no entanto desfigurar o gracioso estilo original da Senhorita P, e espero ter sido mais competente nisso do que na vez anterior. Ali, tropeçando em letras,  troquei o fastio pós-coito de RR, nosso amigo que, na dúvida entre duas namoradas, optou por ambas e se estrepou, e agora está recebendo conselhos deste grupo, conforme se pode ver em textos anteriores. A Senhorita P  agora com a voz, que imagino dotada do bonito, marcante, lendário acento português, que me fala forte porque remete a Maria José, portuguesinha do Porto que passou um semestre em minha escola, num intercâmbio, e várias estações em meu coração:

Mulheres: não cometam o meu erro.  O facto é que escorreguei por ingenuidade e agora pago o preço. Ouvi numa roda casual feminina, numa festa, uma rapariga dizer que estava tendo orgasmos enquanto andava. Deus, eu jamais tinha conseguido um orgasmo com penetração, e olhem que não foi por falta de tentativas,  apenas por estímulo no clitóris, e alguém chegava ao paraíso simplesmente caminhando? Sou repórter de uma revista, e a curiosidade me fez abordar, na primeira oportunidade, a felizarda, que levava nos braços uma mala Prada berrante.

A rapariga, ligeiramente enfrascada de vodca, me olhou com um certo ar de superioridade, algum desdém, quando lhe perguntei se podia explicar direito o orgasmo andante. Mas não tive que insistir. Como todas as criaturas vaidosas e arrebitadas, ela estava ávida por falar de si mesma. Não contei a ela minhas dificuldades para alcançar o climax amoroso, ou ela se daria ares superiores de Cristiano Ronaldo, o Nojento.  Ela parou de falar somente quanto tocou seu telemóvel, um Blackberry como o meu. Mulheres como ela atraem como magnetos homens que colecionam mulheres.  “O segredo é um piercing na cona”, ela disse. “Quando ando, o piercing mexe no clitóris e fico tão excitada que parece que uma tempestade desabou sobre mim bem ali. Minha cueca fica encharcada.” Ela me contou que uma vez, chamada pelo chefe na multinacional holandesa em que trabalha, ‘orgasmou’ no trajeto, e teve que ir antes ao banheiro. O resto do relato da rapariga é desnecessário. Ela garantiu que sentia excitação praticamente todo instante, mesmo quando, nos almoços de domingo na casa da mãe, o pai antes da comida pedia a todos que orassem..

Inocente que sou, apesar de repórter, assim que cheguei em casa fui pesquisar sobre o adereço milagroso. Descobri, no centro da cidade, perto do Bica do Sapato, onde almoço quando o jornal paga a conta,  uma casa que me pareceu fish. Apenas mulheres trabalhavam lá, e foi um fato crucial em minha escolha. Não gostaria que um homem que nunca vi mexesse em minha área privativa .  Mesmo em 2009 há quem, como eu, conheça o significado do pudor. Sim, mesmo sendo jornalista, enrubesço.  Quem me atendeu se apresentou como Adélia, morena de Algarve, soube depois, 27 anos, single mother, uma vez que o namorado a engravidou e largou e ela quis a criança. Tinha uma chávena de café nas mãos,  e disse que a moda do piercing íntimo tinha conquistado as raparigas de Lisboa . “Não viu que as mulheres aqui parecem mais satisfeitas, rindo sem motivo na rua?” Não entendi se era fato ou piada, confesso, Sr. Hernandez.

Ela me disse que havia diversas espécies de piercing íntimo, e me sugeriu um que me traria, celeremente, os resultados desejados, não exatamente nos lábios inferiores, mas perto, numa região menos sensível. Doeria menos, ela informou. Topei.  Com o carinho possível, Amália fez o que tinha que fazer. A dor que senti ali naquele momento, me faltam palavras para contá-la, Sr. Hernandez. Sabe quando seu dedo fica preso na porta de uma carrinha? Era essa espécie de dor.

Com o passar dos dias, a dor em vez de ceder piorou. Procurei minha ginecologista, que me deu uma bronca assim que ouviu a história. Ela me contou que tinha atendido muitos casos semelhantes, e afirmou que era uma das piores modas que tinha visto. Perigosa e cruel como um cossaco russo, como o senhor gosta de escrever. Receitou para mim medicamentos e alertou que eu poderia perder a sensibilidade na região. Infelizmente, foi o que aconteceu. Faz sete meses que tive o azar de escutar a gabolice de uma mulher metida numa festa. Não tinha orgasmo com penetração, e agora não tenho também com estímulo clitoriano. O prazer ficou para trás. Venho tentando eliminar o desejo por meio de meditações num ritmo de duas de 20 minutos ao dia, uma pela manhã, outra antes de dormir. Aderi ao budismo, nos últimos meses, e espero substituir o prazer carnal pelo prazer espiritual nos braços de Gautama.

Comentei o caso, desesperada, com uma amiga de minha redação. Ali me segredou que também fizera o mesmo, mas depois retirou o piercing porque muitos homens a viram como se fosse uma vagabunda. Às suas leitoras, digo apenas: pensem duas vezes. Ou até três, antes de colocar, na infame esperança de orgasmos andantes, um piercing na vagina.”

O homem dos sonhos pode também ser o homem dos pesadelos de uma mulher

17/11/2009

obra de Roy Lichtenstein

VAMOS ORGANIZAR as coisas depois das entradas espetaculares e inesperadas da Senhorita O numa discussão empolgante que está sendo travada aqui entre nós desde a publicação do drama de um homem que, incapaz de se decidir entre duas mulheres, ficou com ambas, e se estrepou. Ele pediu socorro ao grupo. Percebi, no correr dos dias, uma certa confusão em todos, incluído eu mesmo, e vejo necessidade de clarear uma história complexa, dramática, quase comovente. Os envolvidos, ou pelo menos alguns deles, esperam de nós ajuda, e não há o que possamos fazer sem entender bem o caso. Me ocorreu, ao meditar na trama, que o homem dos sonhos de uma mulher pode muito bem ser também o homem dos pesadelos. Os personagens, por ordem de entrada:

1) Senhor RR, ou apenas R. Há poucos dias, encontro em minha caixa postal uma carta. O remetente criara um email fajuto para se ocultar e pedia conselho. Ele dizia que, na dúvida entre duas mulheres, uma da cidade grande em que ele fora trabalhar e a outra da terra onde nasceu,  ficara com ambas, e estava em apuros. A Senhorita T, da metrópole, a titular, teoricamente não sabia de nada. A Senhorita O, de outra, estava a par de tudo, e dera mais de uma bota em RR, para desespero do nosso malabarista amoroso. RR, num determinado instante, ficou sob a suspeita de, a pretexto de não querer magoar nenhuma das duas mulheres, desejar na verdade segurar as duas como garantia para a hipótese de perder uma. Não seria o primeiro caso, e nem o último. Houve, num espasmo, quem chamasse RR de CF, ou Cafa Camuflado, o falso bonzinho que pensa nele e nele só quando diz que está preocupado com a fome das crianças africanas. Cafa Camuflado é uma categoria difrente do CT, Cafa Total, do qual conhecemos bem um exemplar, aquele sujeito vulgar e arrogante que ‘finaliza’ e descarta, sem piedade e com alguns sorrisos cínicos.

2) Senhorita O, ou O. No relato do  Senhor RR, é uma fêmea perfeita para conversar, beijar e, desculpem, mas o convívio contamina, ‘finalizar’, mas talvez não para casar. Foi ela que sugeriu a ele que me procurasse. A Senhorita O era e é leitora do Homem Sincero, ao passo que RR tinha lembranças de mim, ou dizia ter, nos tempos da última página da VIP. RR disse que, no pós-coito, sentia uma certa culpa quando estava ao lado da Senhorita O, uma coisa que me pareceu tão confusa no relato original, visto ser ela a outra e não a titular, que errei e tive que corrigir no post anterior. Quando as coisas estavam mais ou menos calmas, a Senhorita O irrompeu com revelações extraordinárias, a maior das quais é que a Senhorita T, na verdade, sabia de tudo. Um quarto elemento, um namorado local que levara uma bota da Senhorita O, descobrira seu telefone e fizera questão, num rompante de raiva assissaina, de contar-lhe toda a trama sinistra.  Daqui por diante, o ex de O será tratado como Mr A, de Alucinado.

3) Senhorita T, ou T. Até as revelações de O, era a clássica namorada que acha que todas as ligações não atendidas pelo namorado no celular se devem a problemas tecnológicos provocados por algum funcionário negligente do Ministério das Telecomunicações. R parecia ter nela um porto seguro, mas tedioso como um discurso de deputados de cidade do interior. Mas eis que T ganha um novo vestido da trama, o da calculista que guarda na bolsa informações preciosas para usá-las no momento certo, ou jamais utilizá-las, talvez, se R se decidir por ela. Há um cinismo homicida na mulher que sabe-mas-finge-que-não, uma falsa resignação que termina muitas vezes em tiros nas costas e um sorriso malévolo enquanto se assopra o cano fumegante da arma.

4) Senhor A, ou A. É aquele tipo que, nada tendo mais a ganhar, quer que todos percam. Daí a designação de Alucinado. Não hesitou em levar sofrimento cruel à Senhorita T quando consuderou que com com um telefonema poderia atrapalhar a mulher que lhe dera uma bota e o homem pelo qual ela estivesse talvez apaixonada. Pouco se falou dele, mas O, a ex-namorada, não parece ter por ele muita admiração. R, com todos os defeitos, provavelmente parece a O maior que A, um pegou a estrada e foi ganhar a vida na cidade grande, e o outro se escondeu do mundo e passou a matar o tédio por meio de vinganças vis.

TENHO A IMPRESSÃO de que, agora, clareadas as circunstâncias, poderemos dar conselhos mais fundamentados aos que nos pedem aflitos. Aos debates, porque não há tempo a perder.

Agora ela tirou a burca e mostrou tudo. Como fica?

16/11/2009

Auto-retrato de Sarah Maple, artista muçulmana, 24 anos

 

 

E AGORA? A mesma mulher de burca do post anterior tirou tudo e colocou placas espirituosas para tapar pedaços essenciais?

Comparemos uma e outra. Qual imagem instiga mais, provoca mais? Por quê?

Ela esconde tudo mas no broche diz que ‘ama orgasmos’. Que você acha?

15/11/2009

um quadro de Sarah Maple, artista muçulmana, 24 anos

QUE VOCÊS ACHAM? A mulher que esconde pode ser mais provocante que a mulher que mostra?

Está aberto o debate, sem mais prolongamentos desnecessários. Quero ouvir a voz sábia de vocês, como definiu RR, o nosso amigo que na dúvida entre duas mulheres ficou com ambas — e agora está num tremendo apuro, em busca de nossos conselhos.

De novo: que vocês acham? Olhem com calma. Burca, olhos, broche.

E então?

Na dúvida entre as duas, ele ficou com ambas e se estrepou

13/11/2009

MAIS UMA CARTA AFLITA, mais um drama amoroso TOCANTE, mais um apaixonado na completa escuridão em busca de alguma luz que nosso grupo possa proporcionar. O remetente, prudentemente, criou um email para enviar a história que vocês conhecerão em seguida. Assinou RR. Nascido numa pequena cidade, ele foi ganhar a vida numa metrópole, onde arrumou uma namorada. Numa ida à sua terra, conheceu uma mulher, e foi aí que mergulhou na glória e na miséria. Na dúvida entre ambas, ficou com as duas. Uma, a da cidade grande, jamais soube de nada. A outra, sim. RR, inspirado provavelmente em histórias recentes publicadas aqui, deu a uma o nome de Senhorita M e à outra o de Senhorita N. Ficou meio confuso. Tomei a liberdade de simplificar. Senhorita T, de Titular, é a namorada antiga, a da metrópole. Senhorita O, de Outra, é a da terra natal.  A carta:

Caro Fabio,

Confesso que não sou leitor assíduo de teu blog; era leitor fiel na época que escrevias para a VIP, mas já faz um bom tempo isso. Escrevo a pedido da Senhorita O, ela, sim, leitora frequente de tua coluna digital e parte fundamental na história que vou contar. Ela quer que eu envie essa mensagem para ti, para saber tua opinião; e, se for caso de publicá-la em seu blog, também a opinião de teus sábios leitores.

A história em questão envolve o lugar comum dos episódios amorosos atuais, o triângulo. Começa há algum tempo, quase 6 anos atrás, quando não estava morando em minha cidade natal, e sim em uma das metrópoles brasileiras. Nesta época, costumava ocasionalmente ir para minha cidade;  estava passando por uma pausa em meu relacionamento com a Senhorita T.  Foi quando a Senhorita O apareceu em minha vida.

Estava de férias na minha cidade quando sou adicionado no Orkut (tempos modernos) por uma garota que nunca havia visto na vida. Trocamos mensagens; logo evoluímos para o MSN, e muito rapidamente para um  encontro não-virtual. Acontece que ela, na época, estava terminando um namoro, e descartou a possibilidade de continuação de nossa história. Acabadas as férias, voltei à vida cotidiana normal, mas mantive contato virtual com ela, que achava muitíssimo agradável;  passávamos horas conversando. Mas retomei minha vida com a Senhorita T.

Quando voltei à minha cidade, tornamos a nos encontrar, a Senhorita O e eu; muita conversa, sorrisos e, bem,  ficamos. Por acaso  ou por peso na consciência, acabei adoecendo neste final de semana, passando-o na cama. Mesmo assim, resolvi contar para ela sobre meu  namoro com a Senhorita T.  Confesso que minha memória não permite lembrar exatamente a reação dela, mas o fato é que a vida seguiu, basicamente, a mesma.  Uma vez por mês, quando visitava  minha terra, acabava  nos braços da Senhorita O.

Nunca planejei isso para mim, mas virei um marinheiro com um amor em cada um dos meus dois portos. Ao contrário do que muitos podem pensar, sofria demais com a situação; só que me via compelido a continuar, pois não queria magoar nenhuma delas. Sexualmente, me dava bem com as duas, embora, no fastio pós-coito com a Senhorita O, sentisse às vezes peso na consciência.  Nunca comentei nada com nenhum dos meus amigos, pois tinha certeza que estava agindo errado.

Depois de algum tempo,  virei praticamente um malabarista social para conseguir lidar com a situação e com as duas.  Até o momento em que a Senhorita O deu um basta. Alguém tinha que tomar alguma atitude, e foi ela. No início, achei bom; solucionou o meu dilema;  mas depois veio um desespero pavoroso por perdê-la. Confesso que corri atrás dela como um adolescente apaixonado. Só que ela já estava com um outro e sequencialmente exercitou suas botinadas em meus glúteos. Quando já estava vencido e reorganizando a vida com minha antiga namorada, eis que ela retorna, com a seguinte frase: “Estou solteira”. Só que eu não. Tolamente (como todos amantes), caio de novo na rede. Até que, passado um ano, levei mais uma bota da Senhorita O.

É a situação atual.

Nunca quis ser cafajeste;  desde o início, tentava encontrar soluções para uma situação dificilmente aceita em nossa sociedade. Jamais quis magoar nenhuma das duas. Sempre fui verdadeiro, em fatos e sentimentos com Senhorita O. Posso não ter sido sempre verdadeiro com Senhorita T, mas tenho um senso de responsabilidade muito grande com ela. Se acreditas nisso, realmente gosto demais de cada uma delas. E esse é o grande problema. Como escolher? Pensar em ficar sem qualquer uma das duas era igualmente doloroso.

Tenho certeza que vou ser chamado de infantil, imaturo, covarde, cafajeste e que o meu lugar é em algum círculo solitário do inferno. A questão é que, desde que Senhorita O entrou em minha vida, fiquei encalhado em algum lugar. Poderia me alongar por mais várias páginas, descrevendo situações surreais que passamos, mas isso fica para quando eu virar um escritor barato e escrever a história de nós dois (três).  No momento escrevo muito mal para isso e já gastei demais do teu tempo.

Que será que seus sábios leitores me sugerem?”

Bem, a palavra está com vocês. RR parece ter a convicção, e eu também, de que um olhar mais distante como o de vocês pode ajudá-lo a ver luzes onde, neste exato instante, só encontra as trevas. Por ora, acrescento que fiquei orgulhoso ao ver a maneira como ele se referiu a vocês — sábios leitores. É o que penso também.

Quem não deseja um homem como o marido da inglesa do berro sexual de 50 decibéis?

12/11/2009

NO QUE EU ESTAVA PENSANDO. Veja se faz sentido. Aquela mulher de aparência tão comum, a dos 47 decibéis do berro amoroso, a sra Caroline Cartwright. Ela disse o seguinte no tribunal, na cara do juiz. Que tentou se controlar depois que recebeu uma advertência, mas não conseguiu. No esforço dramático pela conquista de um ruído menor nos transportes do prazer físico, chegou a apelar para um travasseiro no rosto.

Mas nem assim.

E então me ocorreu uma questão. O marido, Steve. Que, ao ver melhor na foto em que ele aparece com a mulher num olhar ambíguo, me lembrou meu amigo Pereira, aquele que uma vez mandou da arquibancada um pegador não dar a toalha para um tenista argentina, quando este fez aquele gesto clássico do jogador suado, e acabou expulso sob aplausos, com o rosto sorridente e triunfal pintado de verde e amarelo e transmitido em cadeia nacional para todos os patriotas brasileiros como ele.

O sósia do Pereira, então, que sei lá por que me levou a escolher a imagem acima, feita pela artista Sandra Knuyt e chamada “One Bourbon, One Scotch, One Smoke’. Meu ponto é ele. Os jornalistas ali cobrindo, o juiz severo fazendo perguntas sexuais como se falasse do Código Napoleônico, e a mulher rebatendo que sequer um travesseiro aplacou os gritos incontroláveis.

O que, subitamente, me ocorreu é que o sósia do Pereira é o grande vitorioso do caso. Que homem pode se gabar de provocar numa mulher uma reação tão espetacular, tão brutal em seu primitivismo, tão institiva que lembra a volúpia zoológica das criaturas que não pensam? E olha. Não era uma pós-lolita urbana e tatuada em seus primeiros passos entusiasmados, mas uma semimatrona interiorana a quem, se você vê de pé arfante no ônibus, talvez ofereça o se lugar sem saber que o aparente cansaço dela deriva de mais uma noite em que ela e o sósia do Pereira não assistiram TV.

Confesso. Peço reserva a você, mas confesso. Sinto uma certa inveja, positiva, é verdade, uma quase admiração, digamos assim, pelo sósia do Pereira.  Jamais foi necessário travesseiro, e algumas vezes o silêncio sepulcral é bem possível que escondesse o enfado.

O sósia do Pereira deve ser, desde a publicação da história, um dos homens mais cobiçados pelas mulheres de uma cidadezinha inglesa que só não é quieta nas madrugadas suburbanas pelos gritos que ele desperta em sua patroa mesmo quando ela, em nome da comunidade, coloca no rosto bolachudo e rosado um travesseiro que se revelou inútil diante do desejo ensurdecedor de sua dona.

Qual o segredo do sósia do Pereira, aquele meu amigo que pintou o rosto de verde-amarelo numa Davis, exigiu que o pegador não atendesse ao pedido de toalha do inimigo argentino e foi expulso na quadra aplaudido e consagrado como um herói na nação?

Existe um limite de decibéis para o berro amoroso?

11/11/2009

O QUANTO É ACEITÁVEL gritar no sexo? Nestes dias, o assunto foi debatido, com a maior seriedade, numa cidadezinha inglesa.  Uma senhora meio gorducha, de franja e cabelo curto, tez rosada, uma espécie de Susan Boyle depois de uma plástica generalizada e uma sessão de beleza completa, entre os 40 e tantos e 50 e poucos, estava diante de um juiz. A acusação: gritar de forma “desumana” e continuada, segundo uma vizinha, no sexo noturno com o marido que parece caixa de banco. Essa vizinha alegou que perdeu a hora de levar o filhinho à escola por não ter conseguido dormir com o barulho da mulher do lado.  Os berros amorosos da gorducha apaixonada chegaram a 47 decibéis. Não sei se torcedor de arquibancada alcança essa marca ao se dirigir ao juiz, e nem se Cauby resvala nela nos seus instantes de arroubo.

Mas a senhora da pacata cidadezinha, sob a ação de seu marido, pode passar o que seria talvez uma marca digna do Guiness, os 50 decibéis do orgasmo. Isso se não passar uma pequena temporada no silêncio trancafiado de uma cadeia. Algumas pessoas se excitam ao ouvir gemidos sexuais alheios, os voyeurs auditivos. Outras se aborrecem, em parte porque o sossego se vai, em parte por inveja. E algumas, como a vizinha inglesa, simplesmente não dormem e vão à justiça na tentativa de calar a gritaria multidecibéis do êxtase da gorducha madura e altamente sensível ao apelo dos instintos básicos.

Há uma etiqueta do som do amor?

Desconfio que muita gente exagera deliberadamente nos gemidos. Uma das melhores cenas do cinema é uma em que Meg Ryan,  no filme Harry & Sally, simula, sentada comportadamente numa mesa de lanchonete, um orgasmo, sob olhares admirados e constrangidos das pessoas ao redor. Meg Ryan estava no seu apogeu de mulher inocente, olhos claros  e arregalados de Natasha, uma aura que depois lhe seria roubada quando ela foi — por que certas expressões que a gente abomina em seres repulsivos como o Cafa Homem nos aparecem com tanta frequência? — finalizada por Russel Crowe.  Vale a pena ver ou rever: watch?v=F-bsf2x-aeE

De volta. Há um código? Qual seria, se existe, pelo lado feminino: o que elas querem ouvir e o que não querem e em que tom? E pelo lado dos homens, que têm ficado estranhamente calados nos debates, como se nada tivessem a dizer ou como se, preguiçosamente, entendessem que cabe a mim representá-los.  O homem mais presente nos debates, paradoxalmente, é o mais cafajeste de nós, O Cafa Homem, e isso pode distorcer nossa imagem.

Antes que eu dê ponto final neste texto para que vocês falem, uma última pergunta: o que vocês, se estivessem na cadeira do juiz, diriam para a mulher dos quase 50 decibéis de prazer?

E eis que me chega uma carta misteriosa do Senhor M

10/11/2009

Monteiro Lobato, no traço de J. Wasth Rodrigues, em 1916
Imagem publicada em A Tribuna, 13/12/1982

 

NÃO SEI COMO, uma carta apareceu em minha caixa de correio. Uma carta de papel, como as de antigamente, assinada por um certo Senhor M. Compartilho seu conteúdo por tê-la considerado interessante.

Um minuto de atenção, por favor:

“O senhor é um ingrato, Fabio Hernandez. Aprendeu a ler com meus livros infantis e depois, traiçoeiramente, insinua que Frida Kahlo e eu fomos separados no berço. Não adianta o senhor alegar que quem o fez  foi, em verdade, uma rapariga que frequenta lugares suspeitos como seu blogue. Pois, se a engraçadinha acendeu o fósforo, o senhor o atirou num tanque de gasolina.

O senhor há de lembrar que sua mãe andava pela sala de sua casa modesta de menino com livros meus, e Negrinha é um conto que ela sabia praticamente de cor, tanto quanto certos poemas de Manuel Bandeira e Fernando Pessoa. Por Quem os Sinos Dobram, um de seus livros favoritos, escrito por um norte-americano que me pareceu ter futuro, Ernest Hemingway, o senhor só pôde lê-lo aos 21 anos porque eu o traduzi. Se o senhor me pagasse uma taxa pelo número de vezes em que citou Robert Jordan e a cigana que diz que a terra treme três vezes na vida das pessoas na questão do amor, eu poderia abrir um banco de investimentos aqui onde estou.

Emília, Pedrinho, Narizinho, O Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Sítio do Picapau Amarelo: o quanto estes nomes podem transportá-lo, no colo, a dias em que o senhor tinha, como gosta de dizer, ‘olhos de Natasha’, e sonhava acordado com os olhos arregalados?

Já mais moço, quantas vezes citou como exemplo raro de coragem a crítica que fiz em 1922, na Semana de Arte Moderna, a Anita Malfatti, mesmo achando-a talentosa? Alguém tinha que dizer o que ninguém ousava: que devíamos ter identidade cultural própria e não, como alguns modernistas, copiar num deslumbramento cego o que vem de fora.

Um país se faz com homens e livros, eu disse. E  combati o bom combate, como falou São Paulo numa passagem que eu sei o quanto lhe é cara, pois dita à beira de uma cova num dia ensolarado de setembro em que o senhor desesperou: escrevi livros, e pus o melhor de mim nos feitos para as crianças por entender que despertar nelas o amor da leitura as faria, e também ao meu Brasil, melhores.

Também, muito anos antes que as pessoas se embevecessem com o senhor Barack Obama, e quando o racismo dominava os Estados Unidos a ponto de lugares separados nos homens para brancos e negros, previ um presidente negro norte-americano. Modéstia à parte, acertei nisso ao contrário de George Orwell em seu fatalismo aterrador no seu romance 1984, publicado em 1949. Onde o Grande Irmão, o líder que espiava todo mundo, senão nas páginas assustadas de Orwell? Mesmo assim, o visionário é ele, e não eu. Claro, ele era inglês e eu um homem simples do interior, como aliás seu tio, que me estimulou a lhe escrever esta carta.

Quanto à sobrancelha contínua, que me aproxima fisionomicamente de Frida Kahlo, as de seu tio não estão muito distantes, e mesmo o senhor poderia por um momento olhar para o espelho, se me permite, e verificar se as suas, ainda que não reproduzam as minhas, estão de acordo com os padrões estéticos convencionais. Despeço-me aqui, não inteiramente certo de que o senhor fará um exame de consciência, mas convencido por outro lado de que Frida Kahlo, se despertou tantas paixões, é porque tinha todos os atributos necessários para integrar, e talvez até presidir, o tal Clube dos Bonitos, embora imagine que ela preferisse fazer arte a submeter-se ao julgamento arrogante de pessoas que deveriam estar lendo livros em vez de se produzir para fotografias.

Atenciosamente

M”

 

 

Frida Kahlo entraria no Beautiful People?

09/11/2009

E eis que se instala uma polêmica barulhenta e apaixonada: Frida Khalo seria aceita no Beautiful People, o site que só admite, como o nome indica, gente bonita? Não sei se alguém já entrou ou tentou entrar no Beautiful People, e experiências relatadas aqui são bem-vindas.  Confesso que me interesso mais por histórias de quem foi gongado, mas eventuais êxitos também serão acolhidos com carinho de madrinha do interior. Tomei conhecimento na revista Época, uma de cujas repórteres tentou a sorte e relatou, com graça, a luta para entrar, a gangorra das avaliações que ora a deixavam com ares de Angelina Jolie e ora a reduziam a Susan Boyle, a gorda escocesa tão bigoduda quanto a própria Frida, mas sem os pincéis mágicos.

Mais uma imagem dela, para ajudar a formar opinião. O colo atraente realçado pelo decote delicado, os cabelos cuidadosamente divididos no meio e colocados atrás das orelhas miúdas, os brincos, o colar, a renda da manga do vestido branco de virgem, o pescoço firme das mulheres sexualmente petulantes, a boca tão bem desenhada, as bochechas coradas de quem não perdeu a inocência, a mistura de menina indefesa com fêmea voraz que parece querer sair da pose estática para movimentos acrobáticos e eróticos na cama: e então?

Frida Khalo, a atormentada, genial pintora mexicana cujo número de amantes foi grande como um sombrero, você acha que ela levaria verde ou vermelho? Frida, que foi interpretada no cinema por Salma Hayek num filme que quem não viu deveria, finalizou, para usar a expressão vulgar do abjeto Cafa,  homens e mulheres, gente como o formidável muralista Diego Rivera e o profeta banido Leon Trotsky. Um minuto para o trailer.

Fim do recreio.

Vamos ver se vocês adivinham meu voto. Vou colocar, embaixo do texto, um quadro de Frida, um auto-retrato, uma prova pungente a mais de que a grande arte nasce da grande dor e a alegria só produz escritores baratos como eu e o Maupassant, o marchand francês da prosa.

E então, verde ou amarelo para ela no Beatiful People?

As 14 características do Homem Perfeito

09/11/2009

QUE CARACTERÍSTICAS você, homem, deve ter para interessar aquela criatura suave e cruel, delicada e tirânica, sublime e miserável, generosa e avarenta, capaz de nos levar ao céu e logo depois à sarjeta, mas, em duas palavras, irresistível e incomparável, portanto insubstituível — a fêmea?

Bem, você definitivamente não é o primeiro a se formular essa questão tão complexa, nem será o último. Um sábio indiano, Vatsayana, que viveu numa época que não se sabe precisamente, mas que estudiosos chutam em algum ponto entre os séculos IV e VI AC, se deteve na pergunta fundamental, a mãe de todas, da vida de um homem. Ele é o autor, ou pelo menos se imagina que seja, do Kama Sutra, que está longe de ser o manual erótico que muitos pensam que é sem ter lido, depois de ver apenas algumas ilustrações e ouvir de orelha dizerem que é.

Para facilitar a minha vida e a sua, vou colar um trecho da Wikipedia sobre o Kama Sutra e Vatsayana:

Ao contrário do que muitos pensam, o Kama Sutra não é um manual de sexo, nem um trabalho sagrado ou religioso. Ele também não é, certamente, um texto tântrico. Na abertura de um debate sobre os três objetivos da antiga vida hindu – Darma, Artha e Kamadeva – a finalidade do Vatsyayana é estabelecer kama, ou gozo dos sentidos, no contexto. Assim, Darma (ou vida virtuosa) é o maior objetivo, Artha, o acúmulo de riqueza é a próxima, e Kama é o menor dos três.”

Bem, de volta ao Planeta Terra. Vatsayana, de cujo Kama Sutra recomendo vivamente a leitura, elaborou uma lista de atributos do homem a quem elas entregam o coração, a alma e as demais coisas menos elevadas espiritualmente que, francamente, também interessam a nós. São 14. Aos homens, sugiro que vejam em quantos se enquadram. Caso se dêem bem serão o objeto invejado e admirado de desejáveis fêmeas angustiadas como a loira abaixo, desenhada por Roy Lichtenstein, um dos heróis da arte pop que floresceu nos Estados Unidos nos anos 60. Se não pontuarem bem, têm uma boa lição de casa, desde que persistentes e, mais que tudo, humildes para reconhecer fraquezas.  Às mulheres, recomendo que verifiquem o grau de acerto ou não do velho indiano que, antes mesmo do Contardo Calligaris, investigou os mistérios metafísicos e físicos do amor.  O debate está aberto.

Os homens ideais, segundo ele, são:

1) os versados na ciência do amor;

2) os que têm habilidade para contar histórias;

3) os que conhecem as mulheres desde a infância;

4) os que conquistaram a confiança delas, mulheres;

5) os que lhes enviam presentes;

6) os que falam bem;

7) os que fazem coisas de que elas gostam;

8 ) os que nunca amaram outras mulheres;

9) os que conhecem seus pontos fracos;

10) os que gostam de festas;

11) os liberais;

12) os que são famosos por sua força;

13) os empreendedores e corajosos;

14) os que superam os demais homens em cultura, aparência, boas qualidades e generosidade.

“A mulher deve ser forte na bondade e na maldade”

07/11/2009

A loira aí em cima. Mae West. Foi tudo aquilo que, segundo o Cafa Homem, as mulheres costumam detestar nas outras, bonita, gostosa, libertina, ousada, cortejada, admirada, bajulada, espalhafatosa, irresistível. Era escritora, atriz, frasista. “Ame o próximo, e ele for alto e charmoso será bem mais fácil”, é uma de suas frases. “Um homem em casa é melhor que dois na rua”, outra.  Com tanta coisa junta, ela  foi uma das personalidades mais fascinantes do mundo na primeira metade do século XX.

Tinha uma sabedoria prática que ainda hoje possui valor e graça, expressa sinteticamente em 15 coisas que jamais iria fazer. Compartilho-as com vocês, com uma idéia: escolhermos, entre as 15, as 5 melhores. Se vocês não acharem ruim, também vou fazer minha escolha. Os tópicos no final escolhidos serão lidos por alguém, de forma dramática, como nos tuítes do Washington Post dos quais já falei, num vídeo caseiro, doméstico, que postaremos aqui.

Que tal? Deal. Ótimo. Com vocês, a única, a incomparável, a rainha entre as rainhas, Mae West:

COISAS QUE NUNCA FAÇO

1. Tirar o homem de outra mulher. Pelo menos intencionalmente, quero dizer, embora no amor e na guerra valha tudo, e não seja pecado.
2. Ser outra coisa que não eu mesma o tempo todo, a não ser no palco ou na tela, pois é aí que começa a atuação.
3. Cozinhar, costurar, lavar pratos, descascar batata, comer cebola ou roer as unhas.
4. Usar meias de algodão branco ou entrar em um campo de nudistas
5.  Gostar de ópera, do Número Treze, cantar músicas tirolesas, espaguete frio, ratos, lesmas, homens que raspam o pescoço ou banana madura demais.
6. Preocupar-me com pessoas que assobiam no camarim ou passam cheque sem fundo.
7. Fazer papel de mãe, papéis tristes ou de esposa virtuosa, traída ou não. Tenho pena das mulheres fracas, boas ou más, mas não consigo gostar delas. A mulher deve ser forte na bondade e na maldade.
8. Ficar doida por música clássica, sanduíche, fumaça de charuto, lugares que cheiram a hospital e esmalte de unha preto.
9. Ficar excitada com boates, pontes retráteis, dança de leque, meias no tornozelos, a Bolsa de Valores, badminton [esporte popular entre os ingleses] ou macetes para aumentar o busto.
10. Morrer de emoção com orquídeas, cartas de amor anônimas, pastas de postais, terremotos, braceletes de escrava ou cama de colchão duro.
11. Incomodar-me com credores ou rapazes que ciciam.
12. Acreditar no pior de alguém sem prova completa, tampouco acreditarei que é inútil lutar contra a sorte – a falsa!
13. Andar quando posso me sentar, ou me sentar quando posso me deitar. Acredito em poupar a energia – para coisas importantes.
14. Escrever um conto sem sofisticação.
15. Casar-me com um homem bonito demais, um homem que bebe demais ou não segura a bebida como um cavalheiro, um homem fácil de obter ou facilmente levado à tentação – a menos que seja eu quem o leve.