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O desejo da mulher que veste burca

05/02/2010

Tá certo proibir o uso?

Tá certo proibir o uso?

PEÇO UM instante da atenção de vocês para iniciar, ou reiniciar, uma discussão. A questão da burca, o véu islâmico. O governo francês quer proibir o uso em locais públicos. Alega que é um símbolo da opressão feminina. Um ministro francês disse que a intenção é aplicar uma multa na islâmica encapuzada. Um outro político disse que se sente “estigmatizado” porque não consegue ver a mulher com burca. (Como disse o Duque de Wellington, quem acredita nisso acredita em tudo.)

Pois bem. Vi, em vídeos, depoimentos de mulheres francesas que usam burca. Uma delas diz que ao usá-la se sentiu livre do machismo dos homens, que olham para a mulher como um objeto e, quando ela envelhece, viram o rosto.

É um ponto.

A Naomi Wolf, a escritora neofeminista, disse uma coisa interessante. Ela falou que viajou para países islâmicos e conversou com mulheres em rodas fechadas. Basicamente, o que ela disse é que a burca não suprime a sexualidade, ao contrário do que muitos ocidentais pensam. Apenas estabelece uma divisão entre o público e o privado, e canaliza a sexualidade da mulher para o marido e o casamento. (A  burca é para a mulher casada, e ela é usada fora de casa. Isso, claro, para as muçulmanas adeptas. Não são todas.)

Alguém disse também não ver muita diferença entre o hábito de uma freira católica e os véus muçulmanos.

Nenhuma discussão que envolva a mulher. no mundo de hoje, é tão intensa como esta travada em torno da burca.

Vou fazer uma pergunta para iniciar a sessão. Que mulher é mais objeto de um homem: a que veste burca ou a que não veste nada, como esta abaixo?

A mulher de cima ou esta aqui é objeto?

Ela esconde tudo mas no broche diz que ‘ama orgasmos’. Que você acha?

15/11/2009

um quadro de Sarah Maple, artista muçulmana, 24 anos

QUE VOCÊS ACHAM? A mulher que esconde pode ser mais provocante que a mulher que mostra?

Está aberto o debate, sem mais prolongamentos desnecessários. Quero ouvir a voz sábia de vocês, como definiu RR, o nosso amigo que na dúvida entre duas mulheres ficou com ambas — e agora está num tremendo apuro, em busca de nossos conselhos.

De novo: que vocês acham? Olhem com calma. Burca, olhos, broche.

E então?

A mulher que esconde pode inspirar mais que a mulher que mostra

29/10/2009

obra de SARAH MAPLE

 

EU CONFESSO. Algumas vezes, diante da visão de uma burca, como a do comercial provocador de uma fábrica de lingerie para o qual dei link em algum lugar, minha imaginação voa. Com todo o respeito.

Acho que foi Machado de Assis, na Missa do Galo, que falou no impacto que sentiu ao ver a canela de uma senhora. Mas posso estar errado. Se alguém ler a Missa do Galo, de toda forma fará um bem a só próprio.

De volta. Penso, por segundos fugidios, nos mistérios insondáveis que se escondem por trás daquele traje tão estranho para nós, ocidentais. Uma vez, vi olhos bonitos,  maquiados com apuro, e a barra de uma calça jeans que poderia estar numa garota tatuada e com um piercing na língua em Nova York. Não vou dizer que fiquei perturbado, pois seria exagero. Mas aquela cena ficou gravada em mim quando a maior parte das coisas que vejo se perde.

Tio Fabio, falecido homem sábio do interior, Deus o tenha, uma vez me disse que uma mulher que esconde pode inspirar mais do que a mulher que mostra. Eram os tempos da moda do topless, e Tio Fabio observava com algum tédio e muita rapidez, numa revista fotográfica, aquela sucessão de “mamilos exibicionistas”, como ele os chamava em sua voz estentórea de Fred Flintstone.

Anotei a frase num caderno, como sempre fiz até a morte serena de Tio Fabio, uma noite em que ele me confortou em vez de ser confortado. Mas só fui entendê-la mesmo ao ver a barra dos jeans de uma mulher de burca.

A mulher que esconde pode inspirar mais que a mulher que mostra. Agora mesmo estou com essa frase, anotada alguns anos atrás, diante de mim. E como um filósofo barato, e ainda mais órfão com a morte de meu mentor, fico refletindo sobre ela.