Archive for Maio, 2009

“Por você enfrento até cinema francês”

29/05/2009

Ele: “Leu?”

Ela: “Hmmm?”

Ele: “A pesquisa. Aquela pesquisa.”

Ela: “Hmmm?”

Ele: “A pesquisa sobre a relação entre inteligência emocional e orgasmo entre as mulheres.”

Ela: “Inteligência emocional é uma bobagem. O cara que inventou essa expressão é um enganador, como o Pieter diz.”

Ele: “Pode ser. Mas é uma pesquisa de gente séria. Um cara e uma mulher com credenciais interessantes. A BBC fez uma boa matéria sobre a matéria. Foi a mais lida por dois dias.”

Ela: “Qualquer pesquisa que trate de mulher e orgasmo vai ser muito lida. Básico.”

Ele: “Você tem um ponto. Admito. Mas enfim.”

Ela: “Hmmm?”

Ele: “A pesquisa. Boa ou não. Sei lá. Mas enfim. Mais de 2 000 mulheres preencheram um questionário em que deram  detalhes de sua vida sexual.”

Ela: “O que leva uma mulher a contar intimidades de sua cama? Exibicionismo? Dinheiro? Falta do que fazer?”

Ele: “Elas também responderam perguntas que testava sua inteligência emocional. Teoricamente, claro.”

Ela: “A inteligência delas deve ser bem baixa. Do tamanho do Sarkozy.”

Ele: “Boa. Li que ele tem 1 e 65. Em outro lugar disseram que era 1 e 68. No dia primeiro de abril um tablóide publicou que ele ia fazer uma cirurgia para aumentar do tamanho e ficar com a altura da Carla Bruni. Era o dia da mentira.”

Ela: “Confesso que fiquei decepcionada quando soube que ele era nanico. Imaginava que o cara fosse um gigante, um tremendo gato.”

Ele: “A pesquisa.”

Ela: “Hmmm?”

Ele: “Tá escrito na matéria da BBC que o estudo mostrou uma signigicatica ligação entre inteligência emocional e a freqüência com que as mulheres têm orgasmo com masturbação e intercurso.”

Ela: “Esse palavreado acadêmico é uma piada. Por que os acadêmico escrevem intercurso e não trepada? Intercurso parece curso de internet.”

Ele: “Ou curso internacional. O autor também falou em terapias cognitivas. Cognição me lembra imediatamente ignição. Sabe outra expressão que acho babaca? Fazer amor. Parece que o homem que faz amor usa pijama e pede licença para transar com a mulher.  Mas enfim.”

Ela: “Hmmm?”

Ele: “A co-autora da pesquisa disse que a inteligência emocional ajuda no sexo porque a mulher consegue dizer com mais clareza ao homem suas fantasias e seus desejos.”

Ela: “Tem que ser inteligente emocionalmente para dizer ao cara que ele não deve apertar os mamilos como se fossem parafusos porque isso machuca?”

Ele: “Tem que ter língua e coragem. E franqueza. Talvez seja isso o que os caras definem como inteligência emocional.”

Ela: “Não sei por que você perde tempo lendo essas bobagens. Reparei que você não avançou coisa nenhuma em Guerra e Paz nos últimos quinze dias. As pessoas não lêem Guerra e Paz. Dizem que leram. Mentem. Assim como muita mulher que diz que tem orgasmo mente.”

Ele: “Eengraçado.”

Ela:”Hmmm?”

Ele: “Um terço das mulheres da pesquisa acharam difícil ou impossível gozar durante o sexo.”

Ela: “Que novidade tem nisso?”

Ele: “Uma das minhas maiores desilusões sexuais foi saber quando era adolescente que quase todas as mulheres não gozam no sexo. Pensava que elas ficassem loucas de tesão ao serem penetradas. Nossa, falei penetradas. Devo ter pirado.”

Ela: “Você devia ver muito filme. No cinema toda mulher goza no sexo. Mas é cinema.”

Ele: “Por falar nisso. Que tal a gente ver um filme?”

Ela: “Muito melhor que falar sobre uma pesquisa meia boca. Truffaut. A Mulher do Lado. Que tal?”

Ele: “Preferia O Lutador. O Rourke está incrível. Mas tudo bem. Por você enfrento tudo. Até cinema francês.”

Você nunca vai ficar sozinho

19/05/2009

Eles estavam ouvindo You Will Never Walk Alone no apartamento bagunçado de Pedro. Cristina não conhecia a canção. Pedro lhe contara que era uma espécie de hino do Liverpool. Pedro era fanático pelo Liverpool, embora jamais tivesse visto um único jogo do time ao vivo. Foi ao ouvir na teve a torcida cantar You Will Never Walk Alone que Pedro se converteu num torcedor distante um oceano do Liverpool, mas apaixonado. Nunca Pedro vira nada parecido com aquilo no futebol, um canto de amor e fidelidade sublime em seu estrondo vermelho, a cor do Liverpool. Foi instantaneamente capturado pela magia barulhenta da torcida que cantava. Não bastasse isso, Liverpool era a terra daqueles quatro garotos: John, Paul, George e Ringo.

“Não posso morrer sem ir a Liverpool e cantar You Will Never Walk Alone”, disse Pedro.

“Tanto coisa pra fazer na vida e você vem me falar isso?”, disse Cristina. “Homem louco por futebol tem alguma coisa de gay. Não faz sentido ficar olhando tanto homem correr atrás de uma bola a não ser que o cara que olhe seja gay.”

Pedro riu. Sua boca ficava ligeiramente torta quando ele ria. Num momento de amor,  Cristina dissera que era lindo aquele sorriso torto. Num momento de ódio, dissera que era horrível. Era instável como todas as mulheres, amor e ódio pelas mesmas coisas em momentos alternados.

“Gosto de suas frases definitivas”, disse Pedro. “Não são meras palavras ao vento. São manifestos.”

“Pedro.”

“Humm.”

“Isso não existe. You Will Never Walk Alone. Você nunca vai ficar sozinho. Ninguém diz isso de verdade pra pessoa que ama. O amor surge, floresce e termina. Prometer a alguém que ele jamais vai ser deixado é embuste.”

“Engraçado”, disse Pedro. “Quando te conheci passei a acreditar no amor eterno. Uma coisa que só floresce, floresce e ainda floresce. Era ateu no amor e passei a ser crente com você.”

“Pedro.”

“Humm.”

“Eu… Eu…”

Cristina parecia engasgada com aquilo que queria dizer. Começou a chorar. Em sete meses de namoro Pedro jamais a vira chorar. Cristina parecia ter uma resistência extraordinária às lágrimas. Pedro não sabia se a abraçava e tentava confortá-la ou se a deixava em paz com suas lágrimas. Homem nenhum sabe o que fazer diante da mulher que chora. Na dúvida, Pedro permaneceu parado.

“Eu… me apaixonei por outro homem”, Cristina enfim disse. “Me perdoa, me perdoa.”

Só nesse momento Pedro abraçou Cristina. Como se quem tivesse que receber consolo fosse ela e não ele.

“Aconteceu, simplesmente aconteceu. O professor de ioga.”

Cristina dissera a Pedro, algumas semanas antes que ia começar a fazer ioga. Comentara depois com entusiasmo suas aulas. Estava apaixonada não exatamente pela ioga, mas pelo professor.

“Cristina”, disse Pedro. Ele parecia calmo como quem acaba de tomar Frontal. “Te perdoar do que? Eu só posso dizer obrigado. Você me deu momentos cuja lembrança vai me aquecer nas noites frias e escuras. Sempre.”

Ela pegou sua bolsa e correu em direção à porta. Ia embora para não voltar. Pedro ficou pensativo por alguns segundos. Depois pegou seu iPod e pôs para tocar uma, duas, três, dezenas de vezes You Will Never Walk Alone.

Vivo

18/05/2009

Amigas e amigos. Ao contrário dos boatos que correm, não faleci. Estou vivo, e ao que parece bem. Hibernei num retiro espiritual e muito físico ao mesmo tempo. Amanhã vou colocar no blog um texto novo. Gracias pela paciência.