Archive for Março, 2007

Diferenças

29/03/2007

A questão amorosa me traz muitas dúvidas e poucas certezas. Melhor: cada vez mais dúvidas e cada vez menos certezas. Uma dessas é que, para dar certo com uma mulher, você tem que amar basicamente as mesmas coisas. Vou adiante. O ideal é que os dois também detestem basicamente as mesas coisas. O resto é fantasia. Pensar que quando duas pessoas diferentes se juntam uma vai acabar mudando a outra é de uma ingenuidade comovente.

Casar é o fim?

29/03/2007

?

Balzac (para mim o maior entre todos os romancistas) escreveu um livro inteiro para ridicularizar o marido. Os maridos são os peronagens mais sem graça da história da literatura. Só têm um competidor nesse campo: as mulheres. Estou falando especificamente das esposas (palavra horrível), não do gênero feminino. Na verdade, quem é tratado a pontapés pela arte é o casamento. É como se o casamento matasse, automaticamente, a magia, o romance.
Tem mesmo que ser assim?
Francamente, não sei. Desconfio que não, mas apenas desconfio. Tenho a impressão de que as pessoas fazem muito menos do que deveriam para manter a pujança de um casamento.

Problema ou solução?

29/03/2007

?

Cresce o número de casais nos Estados Unidos que dormem em quartos separados. Assim cada um tem seu espaço. E um certo romantismo pode ser mantido. Fora questões práticas. Exemplo: você gosta de ler antes de dormir e a luz incomoda o outro. Fico aqui me perguntando: isso torna mais próximo um casal a quem o dia-a-dia dividindo tudo — até o banheiro — poderia gerar tédio? Ou é uma forma de fuga e, em vez de aproximar, distancia os dois?

Meus olhos haverão de achá-la

29/03/2007

Faço hoje uma coisa que deixei de fazer por tantos anos, e me pergunto por quê sem encontrar resposta: escrevo para você. A verdade é que não tenho encontrado resposta para muita coisa nesta caminhada sobre a Terra, e este é mais um caso.

E dói, como dói. Lembro-me de alguns textos que escrevi em laudas, e sinto uma vontade ridícula, patética de voltar para aqueles dias em que ríamos tanto, sonhávamos tanto e nos amávamos tanto.

Gostaria que você me desse uma cópia daqueles textos: eles serão para mim uma conexão eterna com um tempo cuja lembrança haverá sempre de aquecer e iluminar meus dias de frio e escuridão.

Até o fim.

Gostaria de voltar. Estalar os dedos e voltar àqueles dias, não para reviver a alegria vigorosa e irresponsável de então. Mas para fazer todas as coisas que deveria ter feito e que não fiz. Falar tudo que deveria ter dito e silenciei.

E dançar com você. Quantas oportunidades perdidas, e hoje eu daria tudo para dançar com você e já não posso.

Vi velhas fotos de madrugada e pela manhã. Fico aqui pensando que esta é uma das coisas mais duras de dividir. Muito mais que dinheiro. As fotos. Dou graças a um Deus que nem sei se existe por elas existirem. As imagens. Aqueles imagens.

Uma vida ali, tantos anos, e tudo tão rápido, e tão rápido, e tão rápido. Deus, Deus, eu detesto a fragilidade de tudo, a impermanência. Tão rápido tudo se fez e se desfez.

Do baile, daquele baile, não há foto, mas não é necessário. Lembro tão bem. Estava escrito que você tinha sido feita para mim. Para sempre.

Os sábios dizem que não se deve lamentar o passado.

Pois eu desafio a sabedoria e lamento tantas coisas.

Lamento não ter correspondido às suas expectativas.
Lamento não ter feito as coisas necessárias para que você visse no casamento algo único, lindo, exatamente como você sonhava, duas pessoas tão unidas numa só que não se pode ver a costura entre elas.
Lamento ter destruído seu sonho justo de menina.
Lamento não ter deixado claro quanto a amo, quanto a amei, quanto a amarei.
Lamento não ter dito e mostrado que você é a figura central da minha vida.
Lamento não ter dito e mostrado a você que eu morro sem você.

Não acredito no que você acredita. Que estamos aqui por alguma razão. Que voltaremos depois da morte por alguma razão. Mas como eu gostaria de acreditar, como eu gostaria. E então eu vejo a nós dois outra vez. Nós nos encontraríamos mesmo diante da maior multidão do mundo. Meus olhos. Meus olhos haveriam de achá-la. Você. Eu. Nós dois. Feitos um para o outro. Para realizar o que poderia ter sido e que não foi. Uma outra vida. Nós dois. Sempre, sempre, sempre.

Meus olhos haverão de achá-la

29/03/2007

Faço hoje uma coisa que deixei de fazer por tantos anos, e me pergunto por quê sem encontrar resposta: escrevo para você. A verdade é que não tenho encontrado resposta para muita coisa nesta caminhada sobre a Terra, e este é mais um caso.

E dói, como dói. Lembro-me de alguns textos que escrevi em laudas, e sinto uma vontade ridícula, patética de voltar para aqueles dias em que ríamos tanto, sonhávamos tanto e nos amávamos tanto.

Gostaria que você me desse uma cópia daqueles textos: eles serão para mim uma conexão eterna com um tempo cuja lembrança haverá sempre de aquecer e iluminar meus dias de frio e escuridão.

Até o fim.

Gostaria de voltar. Estalar os dedos e voltar àqueles dias, não para reviver a alegria vigorosa e irresponsável de então. Mas para fazer todas as coisas que deveria ter feito e que não fiz. Falar tudo que deveria ter dito e silenciei.

E dançar com você. Quantas oportunidades perdidas, e hoje eu daria tudo para dançar com você e já não posso.

Vi velhas fotos de madrugada e pela manhã. Fico aqui pensando que esta é uma das coisas mais duras de dividir. Muito mais que dinheiro. As fotos. Dou graças a um Deus que nem sei se existe por elas existirem. As imagens. Aqueles imagens.

Uma vida ali, tantos anos, e tudo tão rápido, e tão rápido, e tão rápido. Deus, Deus, eu detesto a fragilidade de tudo, a impermanência. Tão rápido tudo se fez e se desfez.

Do baile, daquele baile, não há foto, mas não é necessário. Lembro tão bem. Estava escrito que você tinha sido feita para mim. Para sempre.

Os sábios dizem que não se deve lamentar o passado.

Pois eu desafio a sabedoria e lamento tantas coisas.

Lamento não ter correspondido às suas expectativas.
Lamento não ter feito as coisas necessárias para que você visse no casamento algo único, lindo, exatamente como você sonhava, duas pessoas tão unidas numa só que não se pode ver a costura entre elas.
Lamento ter destruído seu sonho justo de menina.
Lamento não ter deixado claro quanto a amo, quanto a amei, quanto a amarei.
Lamento não ter dito e mostrado que você é a figura central da minha vida.
Lamento não ter dito e mostrado a você que eu morro sem você.

Não acredito no que você acredita. Que estamos aqui por alguma razão. Que voltaremos depois da morte por alguma razão. Mas como eu gostaria de acreditar, como eu gostaria. E então eu vejo a nós dois outra vez. Nós nos encontraríamos mesmo diante da maior multidão do mundo. Meus olhos. Meus olhos haveriam de achá-la. Você. Eu. Nós dois. Feitos um para o outro. Para realizar o que poderia ter sido e que não foi. Uma outra vida. Nós dois. Sempre, sempre, sempre.

Pergunta

21/03/2007

Disse o Papa que o segundo casamento é uma praga. Como, então, definir o primeiro? Aceito sugestões.

Música é amor

20/03/2007


Não existe um grande amor sem uma grande música para marcá-lo. Se não existe a música é porque não existe e nem existiu o amor. Outro dia escrevi que opostos, ao contrário da crendice, se repelem – e não se atraem – nas relações entre homem e mulher. Isso vale para o gosto mudical. Dois gostos musicais diferentes podem ser um indício de dificuldades no amor.

Sobre sonhos

20/03/2007


A minha tese a respeito dos sonhos é: eles não existem para ser realizados. Existem apenas para ser sonhados e, depois, perdidos. O sonho realizado morre. O sonho perdido se eterniza.

Destrutivos

16/03/2007

“Fuja dos reencontros amorosos”, me recomendava Tio Fabio, um homem sábio do interior. Este era um dos pontos cruciais da cartilha sentimental de Tio Fabio, um homem cultivado na filosofia e na arte da galanteria . O tempo me fez entender a advertência de Tio Fabio. Os casos de amor nunca terminam suficientemente bem para que permitam reencontros doces. Se o final foi calmo, é porque não foi amor real. Os amantes arrastam sua paixão muito além do razoável. Uma história de amor verdadeira termina antes da despedida. Em alguns casos, bem antes. Os dias, as semanas em que os dois permanecem juntos sem que na verdade estejam são neuróticos. .

Mais forte que a morte

16/03/2007

A força descomunal do instante mágico de um amor oblitera tudo que de ruim pode ter havido. Ouso dizer que este instante é mais forte que a morte.

O momento imortal

16/03/2007

E então me ocorre que toda história de amor tem um momento imortal. É aquela cena, aquele instantâneo de que nos lembramos até o último dia. Fechamos os olhos e lá está a cena, clara como uma fotografia. Sei lá. Imagino que seja o apogeu da história, aquele ponto até o qual tudo parece que dá certo e depois do qual as coisas começam a se complicar. Quando os dois se olham e riem sem saber exatamente por quê. Todo romance tem sua imagem definitiva. No fundo é isso que estou dizendo. Penso agora nas minhas histórias de amor. E cada uma delas tem uma imagem que a encerra e a resume. Convido você ao mesmo exercício sentimental. Pode ser um sorvete num parque. Pode ser um jantar à luz de velas. Pode ser uma caminhada com os cachorros. Pode ser uma declaração de amor inesperada. Ou um sorriso súbito que iluminou um dia triste. Pode ser algo que foi dito ou algo que foi justamente silenciado. O beijo da reconciliação. Pode ser tanta coisa.

Amor psicopata

12/03/2007

Leio novidades sobre Lisa Nowak, aquela astronauta americana que perseguiu pateticamente sua rival no coração de um colega astronauta. (Que é casado com uma mulher que não é nenhuma das duas astronautas, aliás.) Ela teve acesso a emails de teor sexual escritos por ele para a mulher que Lisa queria mandar para o espaço. Lembro-me de ter lido, quando surgiu o email, uma recomendação: evite escrever coisas que, tornadas públicas, possam causar problemas para você. O garanhão espacial infringiu essa regra básica. Mas penso mesmo em Lisa, agora enjaulada: que tipo de amor a teria levado a fazer o que fez? Amor por ela mesma, por uma fantasia? Era amor mesmo, ou apenas uma obsessão? Não encontro resposta. Era o amor psicopata, com certeza. Você, eu, todos nós. Quem garante que não viveremos um dia um amor psicopata? Melhor: quem garante que não estamos vivendo, agora mesmo, um amor psicopata?

Mais sonambulismo sexual

12/03/2007

Despertou curiosidade o texto sobre gente que procura sexo à noite inconscientemente. O nome técnico dado a isso é sexsomnia, contração em inglês das palavras sexo e insônia. A revista Galileu deste mês traz um excelente artigo. (A capa é o filme sobre os 300 heróis que defenderam até a morte Esparta.) Há um site para gente que queira saber mais sobre o assunto: www.sleepsex.org. Me pergunto. Me pergunto se acordarem a gente durante o sono para o sexo é uma glória, uma miséria ou uma mistura de ambos. A dose, imagino, faz a diferença.

Gemido fajuto

12/03/2007

Uma das mais divertidas cenas do cinema moderno é o orgasmo simulado de Meg Ryan num bar em Harry e Sally. Os homens têm uma clara desvantagem aí. Uma mulher pode passar a vida inteira fingindo orgasmo. O homem não tem como. Ou tem? Sei lá. Barulho dá para ele fazer numa boa, mas não muito além disso.

O mito da Felicidade

08/03/2007

Ninguém é feliz no casamento.
Ninguém é feliz no adultério.
Ninguém é feliz na solidão.
Logo, ninguém é feliz.

Schoppenhauer escreveu: “A pior coisa que pode acontecer a alguém a nascer”. A essência do budismo: a vida é sofrimento.

Dá para discordar?

Sexsônia

08/03/2007

Novos estudos científicos mostram que existe gente que busca sexo com seu parceiro ou parceira durante o sono, inconscientemente. Espécie de sonambulismo sexual. O relato de pessoas casadas com sonâmbulos sexuais não é exatamente animador. Atitude invasiva, às vezes agressiva. Em oposição à imagem romântica e erótica que nos assalta de imediato quando pensamos no assunto.Você. Você já viveu uma experiência dessa natureza? Ou conhece alguém que tenha vivido? Gostaria de viver?

O Alemão

08/03/2007

Me contam que o alemão do BBB virou um símbolo sexual. Uma espécie de Brad Pitt caipira. Fico aqui me perguntando como um bobo alegre vira fantasia erótica para as mulheres. Alguma explicação psicológica razoável, na sua opinião?

O tênis e as preliminares

02/03/2007

Vejo que minhas palavras sobre preliminares geraram um debate animado. Fui xingado, em alguns casos. É positivo. Isso mostra que o assunto é bom. Gera reações, e não bocejos. Acho que tenho que esclarecer uma coisa. Não foi feito lá um ataque irrestrito às preliminares. Sou um escritor barato, mas não um totalmente idiota. O ponto era o exagero, a extensão além do razoável, não as preliminares em si. A dose, em suma. É como tênis. É uma delícia jogar e ver tênis. Mas partidas de cinco sets são cansativas, extenuantes. Os jogos de três sets têm a duração exata.

Minha Amada Imortal

02/03/2007

Beethoven, sobre quem foi lançado um livro da ótima série Breves Biografias, era um homem feio, desleixado, e em alguns períodos da vida simplesmente sujo. Tinha um urinol perto do piano e com freqüência não o esvaziava. Sua vida romântica foi patética. Não conquistou amor de nenhuma mulher que amou, e aliviou as necessidades sexuais em prostitutas, para tormento seu. O amor sensual sem amor de alma é bestial, escreveu ele. Mas esse grande gênio rejeitado pelas mulheres é autor, paradoxalmente, de uma das mais belas cartas de amor já escritas. Não chegou a ser enviada, e é possivelmente fantasiosa. Ele amava, ela não. Um trecho: “Ainda deitado, meus pensamentos se dirigem a você, minha Amada Imortal, ora alegres, ora tristes, esperando saber se o destino nos escutará. Poderia apenas viver plenamente com você ou não viver. Seu amor faz-me de uma só vez o mais feliz e o mais infeliz dos homens. Você – minha vida – meu tudo”. Beethoven, o maior gênio da música, era o que tecnicamente se definiria como um idiota do amor.

O adultério e a felicidade

01/03/2007

Alguém viu Pecados Íntimos? Perturbador. Meio que Nelson Rodrigues. Hipocrisia, mentiras, tormentos amorosos. Há várias razões para ver o filme além da nudez de Kate Winslet. A reflexão que gera sobre o adultério, por exemplo. Não há felicidade possível no adultério. O final de semana, período em que classicamente os amantes não se encontram, logo se torna infernal. No filme se fala de Madame Bovary, uma das maiores personagens da literatura ocidental. Uma adúltera, com um final trágico. Os adúlteros são a raça mais torturada que a humanidade pode produzir, e não há orgasmo que compense isso. Você conhece algum adúltero ou adúltera feliz? Fico aqui pensando. Se a angústia é sempre avassaladora, por que as pessoas não desistem de dar o passo fatal enquanto ainda é tempo?