Archive for Janeiro, 2011

João e Rita

31/01/2011

“Você pensou que eu ficaria disponível para sempre?”, João disse para Rita. “Quer dizer. A sua disposição?”

João era médico psiquiatra. Rita, advogada criminalista. Ele moreno como um índio, ela loira com uma cabeleira clara que se esparramava por suas costas como uma capa de super-herói. Ambos na casa dos 30. João era três anos mais novo que Rita. Ela preferia homens mais jovens. Achava mais fácil controlá-los.

João e Rita tinham feito o percurso de todo casal da paixão e dos sorrisos ao ódio e aos insultos. Tinham já se separado fazia algum tempo quando Rita soube que João estava saindo com outra mulher. Rita cobrou-lhe satisfações como se ainda estivessem juntos.

Ela própria estava saindo com outro homem, mas negava isso a João para ter mais força em suas recriminações inoportunas. Era, como todos os advogados, uma mentirosa compulsiva e incorrigível. Num determinado momento, João já não sabia se a conhecia de fato ou se só conhecia a versão falsificada que a própria Rita apresentava.

João se perguntou como pudera fazer tantos planos com ela. Casar. Ter filhos. Viver numa casa de frente para o mar. Como ter uma vida com uma pessoa em quem você simplesmente não acredita?

Você pode até ficar uma vida inteira com alguém a quem não ama. Mas não é possível criar uma aliança com alguém em quem você não acredita.

“Você acabou com a minha vida”, Rita disse.

Mulheres que se autovitimizam não costumam ser boas parceiras. Sempre colocam o homem na posição de devedor. Desprezam o que receberam e supervalorizam o que deram. Rita era assim. Jamais dissera obrigado por nada. E cobrava frequentemente o que dizia ter dado.

Exigia a verdade mas vivia de mentiras. Num determinado momento, João se deu conta de que Rita o tratava como um idiota. Era o fim do romance.  Homem nenhum suporta ser tratado como um idiota. Só idiotas poderiam engolir tantas mentiras.

João de repente se deu conta de que, para começar uma nova etapa na vida, tinha que esquecer a velha. Romper com o passado irrevogavelmente.

“Rita, olha para mim”, ele disse subitamente.

Ela olhou.

“É a última vez que você me vê. Guarde essa minha imagem caso queira. Que você realize todos os seus sonhos. Que case com um princípe europeu de olhos verdes. Que tenha filhos lindos como você. Que faça uma carreira maravilhosa porque tem talento para isso. Que viva perto dos amigos que tanto ama. Mas tudo isso longe de mim.”

E então levantou e foi embora para nunca mais, nunca mais, nunca mais.

Por que Assange não se dá bem com as mulheres

29/01/2011

Parece que o problema é quando tira o tênis

Descobri por que Julian Assange não se dá bem com mulheres.

Segundo o relato de um jornalista americano que o encontrou em Londres, ele cheira “como se não tivesse tomado banho há dias”. As meias e os tênis pareciam estar sendo usados desde a fundação do Wikileaks, disse o jornalista.

Como dizia Tia Iracema, o amor sobrevive a tudo — menos a um tênis que não sai jamais do pé do homem ou da mulher.

Desde que fugi de Cuba num barco

29/01/2011

De um retiro espiritual em Algures

 

Fazia muitos anos que eu não tirava férias.

Desde que fugi de Cuba num barco.

Decidi compensar e tirar uma folga prolongada. Por recomendação de Thunder, vim a um centro de retiro espiritual, para me livrar das obsessões da carne e da internet.

Boatos me deram como morto nas manifestações do Egito, mas o fato é que estou vivo.

Meu retiro, à base de abstenção sexual e tecnológica total e muitos mantras, termina em fevereiro.

Dei uma escapada da viligância estrita de Mestre Liu para escrever essa mensagem. Se ele souber que rompi a abstenção tecnológica, me punirá com bengaladas.

Por isso peço discrição a todos.

Saludos!