Manu, nossa querida Manu, se apaixonou por um professor casado, vinte anos mais velho.
Ela se entregou, não foi correspondida e se ferrou.
Para complicar as coisas, buscou amparo mental e sexual nos braços de um pederasta que, como os gregos, preferiam a companhia viril de seus iguais num quase desprezo à aranha voraz de Manu. Mas aqui está ela, em seu apodo de Senhorita Z, espirituosa em sua prosa colorida, para fazer da semitragédia amorosa um relato de esperança agônica para xanízaras do mundo todo …
Meu caro escritor barato!
Acuso, aqui dentro, uma necessidade de dividir com você novos fatos a respeito da minha tão complicada e linda história.
Tudo começa no final. O final daquele noivado de aparências, de conveniências e coincidências. Não poderia levar adiante um relacionamento que não tem proporções ao menos parecidas com o amor que eu experimentei nos braços do meu professor-pecado. Um final agonizante, cheio de dor, recheado de angústia e lágrimas infinitas. Um final digno de brigas novelescas, com presença policial e tudo. Barracos, na linguagem popular.
Não refeita desses traumas, mas movida por um sentimento de querência sem fim, procurei meu pecado mais doce. Contei a ele que os últimos 3 anos fui movida por esperança de reencontrá-lo. Vim recolhendo os pedaços do meu coração, por ele despedaçado. Expus-me, indecentemente.
O resultado? Ele de novo dividindo a mesma cama. O mais impressionante? O cheiro. Ah, que cheiro. O cheiro não mudou. Os cheiros não mudam. Aquele mesmo das minhas tardes de estudante. Aquele cheiro que tirava meu ar nos corredores da universidade. O cheiro da minha recordação mais bela. O cheiro que aguça minhas vontades mais vulcânicas. Explosão de cheiro, gozo, suor, amor.
Confesso que ao longo desse tempo, sempre que me deitava com alguém, era empurrada por um sentimento de vingança mesquinho. Como se eu quisesse fazê-lo afogar na minha satisfação sexual. Mas eu sempre colhi os frutos da minha vingança mal sucedida. Eu sempre paguei pelo gozo superficial do corpo, que dói na alma de amantes românticos, como eu.
Esse reencontro me fez repensar esses conceitos de sexo desprendido. Lembrei-me que foi dessa forma que o abordei. Com intenção de ter absolutamente nada. E vim parar aqui. Dessa forma. Fábio, sexo dói, de uma forma ou de outra. Dói de emoção. Dói de ódio. Só pessoas extremamente racionais discordam disso. Mas essas não vivem delicias de conhecer os movimentos da montanha-russa de sentimentos: explosivos como fogos de artifício, que descobrem o céu, e gélidos que nos levam tão ao fundo do poço que temos a surpresa de habitar o pólo sul.
Agora? Continuo vivendo de esperança. Esperança de que ele logo se decida por abandonar o lar e viver comigo. Sair da ilegalidade. Sentir aquele cheiro diariamente. Sentir a faísca da sua presença ao meu lado. Acender o corpo e o coração com cada sorriso que eu perco do seu dia-a-dia. Saber como ele faz a barba. Saber se ele fecha as gavetas empurrando com a perna. Conhecer o mau humor matutino e me despedir a cada saída pro trabalho. Assistir ao futebol, podendo gritar o nome dele e não precisar mais me esconder atrás dos túmulos do cemitério quando alguém, próximo a ele morrer. Como eu morro todos os dias sabendo que perdi mais uma chance de compartilhar tudo isso com meu pecado favorito.
A hora errada existe. E eu vivo furtivamente justamente por causa dela. Eu cheguei na hora errada. Atrasada. E pago por isso com as dores do amor clandestino.
Um beijo, meu querido escritor.