Archive for Fevereiro, 2011

Pergunta do Dia

25/02/2011

Me diga uma coisa.

Você se sente, como eu, no meio de lugar nenhum, como eu? Planos desfeitos, sonhos ruídos? Amigos desleais, inimigos desonestos, chefes idiotas?

Se sim, junte-se como eu ao coro da música abaixo.

Silicone

21/02/2011

Juliana me liga. Eufórica.

“Vou colocar silicone, Fabio.”

Juliana tem seios lindos, aos 30 e poucos. Firmes, delicados. Por que acabar com eles e virar uma a mais da multidão das mulheres artificialmente infladas? Ela me conta o preço: 7 000 reais. Pigarreio ao ouvir, mesmo sem ter pigarro.

Dá para passar uma semana em Paris.

“Não aguento mais viver sob o terror de que um dia meus peitos vão cair, Fabio.”

Será que toda mulher vive sob esse terror? É o que me pergunto. Tia Iracema, a maior filósofa sexual que conheci, dizia que a maior vantagem do homem sobre a mulher é que nosso peito não cai.

Hmmm.

Há uma beleza esquisita, penso, nos seios já não tão firmes assim. É como se eles olhassem para nós e dissessem, “meninos, eu vivi”.

Mas este é um argumento que não vai dissuadir Juliana.

 

 

Pensamento do Dia 2

19/02/2011

Tia Iracema, em seu leito de morte, teve uma reflexão que quero compartilhar com vocês. Seus pulmões já não eram o que tinham sido antes, por conta de 800 000 cigarros fumados desde os 13 anos, mas a voz ainda assim era clara como uma manhã de junho no Hyde Park:

“O bilionário impotente é um miserável diante do mendigo potente.Não existe humilhação pior para um homem do que estar na cama com uma mulher nua e não conseguir entrar nela.”

Sobre o ciúme

16/02/2011

Reproduzo aqui um texto de um amigo que mora em Londres. O debate serve para nós.

“Segunda às 10 da noite é dia de tevê em casa.

Passa na BBC 2 Epidodes, a nova série de Matt Leblanc, o Joey de Friends. Ele faz o papel dele mesmo numa série de tevê.

Uma série dentro de uma série, assim como A Noite Americana, de Truffaut, é cinema dentro do cinema.

A história gira em torno dele, Matt,  e do casal inglês que criou a série.

A mulher tem ciúmes ferozes do marido. Dele com Matt, porque viram grandes amigos. Dele com a atriz loira da série, por motivos óbvios.

Há uma situação curiosa que conta muito sobre ciúme obsessivo.

Ele, o marido, submetido a uma situação limite, resiste. Não sai com a atriz.

Ela, a ciumenta, submetida também a uma situação limite, não resiste.  Cede.

A psicologia do ciúme é fascinante. O ciumento em geral enxerga a si mesmo no outro – sua fragilidade e vulnerabilidade diante de tentações. Acha que o outro vai fazer exatamente o que ele faria.

E então agride o parceiro porque a si próprio não dá.”

O melhor romance erótico da história

14/02/2011

Vocês são tão relapsos, tão desatentos que não perceberam que em minha lista de melhores livros eróticos ficou faltando exatamente o primeiro.

Muito bem.

É O Amante de Lady Chatterley, de DH Lawrence, romancista inglês do começo do século XX.

É tão forte o livro que você, ao ler, tem vontade de entrar nas páginas e comer — com todo o respeito — Lady Chatterley. Ela é uma mulher cheia de desejos, e não pode ser atendida pelo marido, um esnobe que virou cadeirante ao ser ferido numa guerra. Então ela acaba se saciando no caseiro da propriedade do marido. A cena em que ele a sodomiza é uma das melhores. Era a aristocracia sendo possuída pelas classes inferiores inglesas.

O bom romance erótico, na definição clássica de Tia Iracema, é aquele que, sem fazer perder a ternura, endurece o leitor e umedece a leitora. Lady Chatterley faz isso.

Se eu fosse vocês, parava de ler este blogue e ia direto para o romance de Lawrence.

Pensamento do Dia

13/02/2011

Sábias palavras de Tio Fabio, ditas no seu leito de morte para mim em tom de testamento: “Enquanto há ereção, há esperança.”

O psicólogo e a Senhorita MM

11/02/2011

Há momentos em que tenho vontade de esganar os psicólogos. Este é um deles. Recebi e repasso essa carta, de uma leitora que se assina Senhorita MM.

Na Suécia, o vigarista seria acusado de estupro.  Fazer sexo com uma paciente jovem e fragilizada não é estupro?

Gostaria de ouvi-los.

Fabio

Queria ouvir das pessoas de seu grupo meu dilema.

Que é o seguinte.

Tenho 18 anos. Tive uma pane mental. Depressão, pânico, tudo ao mesmo tempo.

Acabei num psicólogo.

E depois acabei no divã dele. Que é casado. E tem idade para ser meu pai.

Sei que é errado. Mas tenho medo de abandoná-lo e minha crise retornar. Além do mais, é o melhor sexo de minha vida.

E então. Que faço?

O amor e a desconfiança

10/02/2011

“Tínhamos que ter terminado ali”, diz João para Rita. “Naquele dia.”

Ele estava se referindo a quando, no começo do namoro, dera a ela a senha de seu correio eletrônico. Fora um gesto de amor e, sobretudo, de confiança. Ela retribuíra com um gesto de desamor e de superlativa desconfiança.  Invadiu a correspondência. Encontrou mensagens antigas, mandadas para mulheres do passado de João, e teve um acesso de ódio.

“A partir dali não tínhamos mais chance”, ele disse. “O amor suporta muita coisa, mas não a desconfiança doentia. Me arrependo de cada palavra que disse naquela ocasião para acalmar você, de cada explicação que tive que dar ao ser — eu, não você — agredido.”

A beleza excitante da mulher que chora

08/02/2011

 

Algumas pesquisas são simplesmente lastimáveis.

Uma recente mereceu repercussão mundial, e não podia ser mais obtusa. Segundo a pesquisa, o choro feminino tira o ímpeto do homem. Desanima. A explicação científica seria o cheiro da lágrima.

Como a ciência ou pseudociência  pode ser estúpida.

A mulher que chora é a mulher mais atraente que pode existir. Ela está em sua condição mais pura, Frágil, dependente, vulnerável.

Ávida pelos braços protetores  de seu homem e depois pela penetração redentora.

Se o cheiro da lágrima tem alguma coisa que pode não ser excitante, o gosto salgado compensa amplamente. Você beija a mulher chorosa e é como se estivesse no mar, com aquela sensação de sal libertadora.

A lágrima do homem seca a minha porque é sinal de covardia, como disse Sêneca.

O homem fica muito feio ao chorar. Fato.

Mas a lágrima da mulher é um afrodisíaco infalível, não importa o que a ciência possa dizer em sua ilustre, petulante ignorância.

Tudo que um homem quer

05/02/2011

Tudo que um homem quer é uma mulher que o faça se sentir único.

Que ouça quando ele está falando.

Que ache legais as coisas que ele faz.

Que olhe nos olhos quando estão conversando.

Que o prefira a todas as outras companhias do mundo.

Que não o corrija quando ele errar uma concordância.

Que não minta porque a mentira destrói qualquer relação.

Um homem não quer muito, como se vê.

Thunder vai ser pai

02/02/2011

E então Thunder, em sua voz estentórea de Fred Flintstone e com sua neobarba de Hemingway, me liga. Quando Thunder está ansioso, o que acontece basicamente sempre, come as sílabas. Parece estar bêbado, mas não é verdade. Ele só começa a beber quando o sol se põe, embora antes possa tomar bem antes disso um ou dois ou mesmo três uísques para tornar as pessoas e o mundo mais divertidos, ou pelo menos aumentar sua própria capacidade de tolerar a miséria humana.

“Hernandez?”

Ele me chama sempre de Hernandez. Jamais fui Fabio para ele.

“Tá sentado?”

Nem respondi. Apenas sentei em minha poltrona vermelha na qual leio, escrevo, medito e falo ao telefone.

“Vou ser …”

“Hmmm”

Thunder gosta de suspense.

“…pai!”

E então Thunder cumpriu a promessa, ou a ameaça, que vinha fazendo há alguns meses. Pai de umThunderzinho ou uma Thunderzinha. Sinceramente, não sei se dou parabéns ou pêsames quando alguém me diz que vai ter filho. Oficialmente, dou parabéns. Intimamente, hesito. Criança nenhuma merece enfrentar os sofrimentos que a vida inevitavelmente traz. Você nasce e um dia vai ter que enterrar seus pais, por exemplo.

“A mãe é a …”, digo, tentando lembrar da namorada de Thunder.

“Sim, a Malu. Aquela que você disse que é a cara da Ana Paula Arósio.”

É verdade. Quando Thunder me apresentou, logo pensei em Ana Paula Arósio. As sobrancelhas grossas, os traços delicados, os zigomas salientes como os de Lênin, mas mais formosos e rosados.

“Temos que beber, Hernandez. Para comemorar.”

Thunder claramente já tinha feito sua parte na proposta de bebida. Dava para sentir o cheiro da bebida pelo telefone.

“Nomes, Thunder. Já escolheram?”

“Se for menino, Fabio.  Por você, Hernandez. Que vai ser o padrinho. E depois o tutor literário do menino. Só não pode dar aqueles livros de sacanagem para ele ler antes dos 18.”

Bem, Thunder me envolveu em seu projeto de paternidade.

E então torço que seja um menino. Quero experimentar o desafio de ser padrinho. Já me vejo com o garoto no colo, lendo para ele trechos de Rubem Braga, Machado de Assis e Montaigne.

“Thunder?”

“Hernandez?”

“Embora você devesse escolher um padrinho melhor para o Fabito, eu … eu estou … sei lá, comovido.”

Terminada a conversa, penso que vou fazer o máximo para proteger meu afilhado dos males do mundo. E penso por uma fração de segundo que talvez ele mereça um grande amigo com quem dividir as alegrias e os sofrimentos.

Pai eu?

Não. Não. Não.

Ou sim?