Archive for Junho, 2010

As 10 coisas + quentes da Copa

28/06/2010

E então, pulinhos e gritinhos na Copa?

Vamos fazer um balanço? As coisas que mais impressionaram cada um de nós até aqui.

Minha lista, de trás para diante.

10) As vuvuzelas. Acabei, por incrível que pareça, gostando delas. Sentirei falta do zumbido quando a Copa terminar.

9) Dunga. Mostrou uma firmeza que me surpreendeu. O povo gosta do seu jeito rude, e os jogadores também.

8 ) Cala Boca Galvão. O twitter escancarou uma coisa que todos sabiam. Galvão Bueno é provavelmente o cara mais detestado do Brasil.

7) Messi. Joga muito o baixinho. O melhor jogador da Copa. Um canhotinho na melhor tradição de Rivelino e Maradona.

6) A burrice da Fifa em não usar tecnologia, expressa dramaticamente no gol não validado da Inglaterra no jogo contra a Alemanha.

5) A ruindade de seleções tradicionais, como Itália, França e Inglaterra.

4) A competitividade consistente da Alemanha. Sai Copa, entra Copa, e lá estão os alemães.

3) O mercenarismo dos jogadores franceses. Desrespeitaram o país. Mereciam, simbolicamente, uma guilhotinada básica.

2) A mediocridade dos jogadores ingleses, que ganham salários astronômicos na Premier League. Lampard, Terry, Rooney, Gerard, tudo fanfarrão.

1) Maradona. Foi um show como jogador, está mostrando que é um show como treinador. Seja qual for a colocação da Argentina, Maradona já é campeão dessa Copa.

A orquestra de vuvuzelas de Stieg Larsson e suas três mulheres

26/06/2010

O trio ternura do sueco maldito

O trio ternura do sueco maldito

E então chegamos a mais um capítulo da saga de El Hombre. Enquanto ele dá os últimos retoques em sua missão de exterminar fisicamente Stieg Larsson em Aruba, onde o falso morto vive na companhia de três jovens belíssima, o sueco ensaia com sua Vuvu Orchestra Millennium e pensa quanto a vida é boa.

Mal sabe ele que um homem, que conhece seu disfarce, vive apenas para matá-lo. Seu nome: El Hombre …


Larsson estava em seu monumental apartamento de Aruba acompanhando a Copa do Mundo. Ele torcia pelo Brasil. Era menino quando o Brasil ganhou sua primeira Copa em 1958, na Suécia. Lembrava da imagem de Pelé, aos 17 anos, chorando nos ombros de Gilmar. Desde então se apaixonara pelo futebol brasileiro.

Larsson assistia em sua Samsung de alta definição Brasil e Portugal. Estava deitado no sofá coberto por uma manta verde-amarela, acompanhado de suas três namoradas arubenhas. Ele vestia um roupão cor de rosa, sem nada por baixo a não ser o balanço de sua virlidade escandinava. As três beldades estavam nuas, devido ao absurdo calor de 41 graus que nem o ar condicionado aplacava. Anirak, a mais dedicada das três, abanava Larsson com um leque catalão. Larsson estalou os dedos e ela entendeu. Foi correndo renovar a cerveja do copázia do sueco sedento.

Os quatro estavam fascinados pela vuvuzela. Larsson via nelas uma manifestação sonora da negritude africana, e torcia para que elas derrotassem a guitarra burguesa.  Eles não sopravam a vuvuzela apenas nas partidas. Por idéia de Larsson, tinham montado a Vuvu  Orchestra Millennium , ou VOM. Larsson já acalentava um plano de gravar um cd.

Ele gostou de não ver Kaka na seleção contra os Estados Unidos. Embora  suas namoradas considerassem Kaka bonito, Larsson o tinha na conta de um bocomoco.  Esticar os braços para os céus para quê? Deus tem coisas mais importantes para fazer do que retribuir acenos de jogadores de futebol. O massacre americano no Oriente Médio. Que Deus estava fazendo para que os americanos caíssem fora de uma região que eles pilham há tantos anos?

Larsson também ficou com a ausência de Robinho. Lera, num site sueco, a piada que corria sobre Robinho, agora com uma esquisita barba que lembrava os jovens jihadistas. Corre, pedala e nada. Quando Robinho surgiu, Larsson viu nele uma segunda volta de Pelé. Parecia a reencarnação do menino negro e magro que ele vira se tornar rei em Estolcomo em 1958. Mas logo Robinho mostrou que sua verdadeira paixão não era o futebol, como Pelé, mas o dinheiro.

Um  skrävlare. Um fanfarrão.

Dunga não. Larsson gostava de sua atitude. Vira o vídeo em que ele xingava um jornalista e pensou que, como todo jornalista, aquele provavelmente merecera ser xingado. Outro skrävlare, com certeza.

Larsson tomou um gole de cerveja em que secou meio copo. Bocejou porque o jogo estava monótono como o inverno sueco. Fez um gesto para suas namoradas que foi mal interpretado. Elas imaginaram que ele queria, como era comum, que elas coçassem sua virilha delicadamente. Mas não. Era um sinal de que a Vuvu Orchestra Millennium iria ensaiar no quarto acústico do apartamento, antes mesmo que o jogo terminasse. Com um cabeceio, Larsson deixou claro que queria que as três se vestissem.  A orquestra era séria demais para que fosse aceitável a tríplice nudez.

A caminho do ensaio, Larsson pensou  que vida podia ser realmente boa. Bastava estar em Aruba com três mulheres jovens devotadas a seu bem estar, e mais o dinheiro para sustentar essa situação. Antes de fechar a porta do quarto para o ensaio, lançou um último olhar para a tela  gigantesca  em que Portugal e Brasil se enfrentavam. Cristiano Ronaldo dera um chute que fora parar na arquibancada.

Skrävlare, ele gritou. As três companheiras da orquestra levaram um susto. Pensaram que Larsson poderia estar estressado. E então o cobriram de beijinhos para acalmá-lo.

“Como eu sou feliz”, pensou ele, a vuvuzela na mão.

… o que ele  não podia saber é que, a 10 000 quilômetros dali, um homem gritava de ódios múltiplos. Das vuvuzelas da África do Sul. Do jogo horrível entre Brasil e Portugal. Do Galvão. Mas, acima de tudo, dele, Stieg Larsson.  El Hombre, é como o conheciam. Sempre enfiado em sobretudos que remetiam ao Mr Walker do Fantasma.

El Hombre

Quase tão sinistro quanto um cugano búlgaro

Quando o juiz apitou o final do jogo, El Hombre foi tomado por um pensamento único que fazia já tempo que monopolizava seu cérebro privilegiado por um QI de cerca de 200, mas atormentado.

Em Hombre só pensava no extermínio físico de Stieg Larsson.

Era hora de sair do planejamento para a ação.

Toda mulher deveria vestir burca pelo menos uma vez na vida

25/06/2010

ESTOU LENDO “A WEEK IN DECEMBER”, do romancista inglês Sebastian Faulks.

Não sei se Faulks já foi traduzido no Brasil, e agradeceria se alguém me dissesse. Mas o que quero destacar aqui é uma reflexão libidinosa de um personagem, um jovem e radical islâmico que vive na cidade onde se passa o romance, Londres. Hassan é o nome.

Ele levava uma vida normal até que decide declarar guerra ao Ocidente. Adere a um grupo terrorista que promove a Jihad, a Guerra Santa dos muçulmanos. Pois é esse jovem-bomba que diz uma coisa que me chamou a atenção. Ele se sente sexualmente atraído pelas garotas que usam os véus femininos.  As formas insinuadas o provocam mais que as formas expostas claramente.  Tem pensamentos lúbricos com uma delas. “Ele via através da burca”, diz o narrador. “O sutiã branco e limpo que ele como que adivinha, a calcinha.  A curva dos quadris, os seios pequenos e firmes. Os olhos, mesmo sem maquiagem, pareciam convidar.” A radicalização faz Hassan varrer o sexo da mente, e desprezar os ocidentais, depravados.

No romance de Faulks, uma autoridade islâmica do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, é citada numa reflexão sobre o orgasmo que eu também gostaria de colocar em discussão. O estudioso afirma que a sensação do êxtase sensual é uma antecipação fragmentada de algo que o fiel a Maomé sentirá para sempre assim que chegar ao paraíso.  Hassan, porém, tem uma visão bem diferente. Sexo é pecado.  A cena em que ele copula com uma virgem é a menos erótica que li na minha vida. Ela pede para apagar a luz, o que tira o “fator de estimulação visual”, como escreve Faulks. (Gostei dessa. Hahaha.) Ele quer parar no meio, ela pondera que se foram até ali era para terminar, e depois ele fica tão envergonhado que não tem mais coragem de vê-la. Deflorou, sofreu e partiu.

Foi uma passagem péssima. Mas o enlevo sexual que o véu provoca em Hassan foi bem construído. No mundo contemporâneo, acho que toda mulher deveria ter uma experiência com burca. Alugar uma. E zanzar com ela por um período, para ver como os homens reagem e como ela própria se sente.

Pode ser surpreendente.

Se fosse mulher, experimentaria. Talvez até andasse sem nada por baixo. Mas graças a Deus não sou. Detestaria ter que dar a mão para barbado.

Flower Power

24/06/2010

Pode-se acusar o presidente da África do Sul, Jacob, de muita coisa. Menos de não ter bons resultados com mulheres.

Por isso merece atenção refletida a recomendação que ele fez a jovens sul-africanos no capítulo das relações amorosas. Zuma lembrou o valor de uma rosa, tão desprezada em dias cibernéticos como os que vivemos, em que os homens enviam emails em vez de flores para as mulheres.

Zuma disse que, dada a rosa, a mulher entende perfeitamente a mensagem. Uma rosa é capaz de derreter um iceberg que nem aquele em que Di Caprio afundou depois de, num instante de ilusão, imaginar que era o senhor do universo. Di Caprio, se me lembro, deu uma rosa a Kate Winslet no processo de finalizá-la.

Embora, neste caso específico, talvez não fosse necessário, tamanho o tédio que toda mulher a bordo sente depois dos pulinhos típicos dos primeiros vinte minutos.

Foi só o tempo que errou

22/06/2010

… e então alguém cita nos comentários um texto antigo, e ao procurá-lo vejo que era do tempo em que sequer ilustrava o que escrevia. ‘Foi só o tempo que errou’ pertence a minha fase melancólica. Meu espírito literário, se tenho um, foi moldado por Rubem Braga e Graham Greene, e não surpreende que eu tenha escrito tantos textos sobre fins de caso. Mais uma vez, sugiro que seja lido com a música. E na cena do ônibus, bem, junte-se a plenos pulmões ao coro universal dos desafinados como se por um momento fosse Sinatra ou Billie Holliday.


“Sabe, liguei o rádio do carro naquela estação e pensei: a próxima música que tocar vai ser pra nós”, ela disse. “Tocou uma música que dizia. Dos nossos planos é que tenho mais saudade. Onde está você agora além de aqui dentro de mim? Agimos certo sem querer, foi só o tempo que errou. Vai ser difícil sem você porque você está comigo o tempo todo.”

Os olhos dela estavam úmidos. Ela falava com sofreguidão, com intensidade, e isso não era comum nela. Quieta, discreta, poucas palavras. A pressa com que falava parecia indicar que ela sabia que já não tinham tanto tempo assim para conversas daquela natureza. Era a última oportunidade talvez para olharem para trás e falarem do que representaram um para o outro, ou uma das últimas. Há tempo para chegar e há tempo para partir, está escrito no Eclesiastes, e para eles tinha chegado a hora de partir. Ele não conhecia aquela música. O repertório musical dos dois era diferente, e num determinado momento deixaram de compartilhar as canções que agradavam a um e outro. E os livros, e os filmes, e os planos. Ele foi procurar depois a música da qual ela falara. Vento no Litoral. Legião. “Sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar, e o vento vai levando tudo embora.”

“Recebi um email do advogado”, ele disse. “Ele escreveu que tinha sido um final feliz. Final feliz, eu ri ao ler. Final feliz. Antigamente final feliz era, sei lá, bem, não era isso. Não o que ele quis dizer. Que minha proposta de partilha tinha sido aceita, e que estávamos prontos para ir ao juiz para selar a separação. Quando nos encontramos naquela festa. Não, final feliz não era isso. “

“Você”, ela disse. “Você preencheu todos os meus céus. Olhos de estrela nunca mais, nunca mais.”

“Olhos de estrela. Você tinha olhos de estrela. No seu quarto de moça você tinha olhos de estrela.”

Quarto de moça. Rubem Braga. Era um dos textos preferidos dele. Quarto de Moça. Rubem Braga narrava o encontro com uma mulher que ganhara o mundo, e com isso dinheiro e poder e celebridade, mas perdera seu quarto de moça humilde no qual sonhara tanto. Rubem dizia que, se pudesse lhe dar um presente, reconstruiria aquele quarto para ela. Quarto de moça. Ele se lembrava do quarto de moça da mulher com a qual tivera, nas palavras do advogado, um final feliz.

“Eu não consegui fazer você ser feliz, e me sinto fracassada por isso, e isso me dói tanto, tanto”, ela disse.

“Eu também não consegui te fazer feliz, mas acho que significou uma vitória no fracasso. Derrotas podem ser esplêndidas. A nossa acho que foi. Não tiramos a essência um do outro. A tristeza nos uniu, não só ela, é verdade. O sexo era bom, e como era, mas a tristeza foi talvez a nossa conexão mais forte. Não perdermos o que tínhamos de mais genuíno é um triunfo no fracasso.”

“Seus olhos. Seus olhos são tão tristes. Me sinto culpada. Sempre me sinto culpada, você sabe. E se eu tivesse feito …”

“Nós fizemos o que tínhamos que fazer. Nós lutamos. Nós guerreamos, nós fomos guerreiros, os dois, não só eu, você também. Mesmo quando caídos nós combatemos de joelhos pelo nosso amor, por nós dois, e apenas aconteceu que fomos derrotados. Li num livrinho que você me deu que o que importa não é o resultado, mas a luta, a intenção, a entrega, e então nós, sei lá, nós tentamos, e então está tudo bem.” O livrinho ao qual ele se referiu era o Gita. Krishna e Arjuna, o grande diálogo de Gita. Apenas faça, diz o mentor Krushna ao discípulo e guerreiro Arjuna. Ganhar ou perder não diz nada.

“Agimos certo sem querer”, ela cantou. “.”

“Você trouxe uma música, eu trago outra. Desenhos no Jornal.”

“Ah, essa música não. É tão triste. Dói, deus, como tudo isso dói.”
Pareceu a ele que ela estava prestes a chorar, e não havia nada que ele pudesse fazer ou dizer que trouxesse conforto a ela. Ou a ele mesmo. Não há analgésico que diminua a grande dor das coisas que passaram.
“A arte é triste. Uma vez escrevi isso. A alegria não produz nada que preste na arte. Gosto daquele verso. O final. Um rosto distante se apagando no meio da multidão.”

“O jeito como você escreve. O jeito como você olha. Seus livros esparramados na estante, e a luz do abajur até tarde da noite. Eu nunca. Eu nunca vou esquecer.”
“Você dançando. Pequena bailarina. Aquela música. A que fala que todo mundo devia vê-la dançando na areia. É assim que lembrarei de você. Tiny dancer dancing in the sand.”
E então eles se despediram, e então eles eram, para sempre, um rosto distante se apagando no meio da multidão.nos comentário

Houve uma vez no verão

21/06/2010

Este é um texto antigo meu. Não sei como, fui encontrá-lo. Reli, peguei um vídeo no YouTube e decidi, sei lá por que, republicá-lo. Talvez por saudade do verão que vivi tanto tempo atrás, talvez não. Só sei que nele me descobri e também me perdi. Minha sugestão é que seja lido ao som da grande música de Michel Legrand.

Olho para minha estante e apanho um livro antigo. É um livro de um escritor barato, e está no meio de romances de escritores nada baratos. Dostoievski e Tolstoi, Balzac e Flaubert, Hemingway e Fitzgerald, Machado e Eça, Roth e Updike, Chandler e Hammett, Garcia Marques e Vargas Llosa.

É um livro simples, banal, tolo, como as coisas que escrevo.

Mas eu o amo, e ele sobrevive ás limpezas periódicas de livros em minha biblioteca.

O nome é Verão de 42, escrito por um certo Herman Raucher, e inspirou um filme tão bonito quanto o livro, e isso é raro. A trilha sonora, um piano lírico, melodioso, lento, triste, é uma das mais belas do cinema.

Um cara retorna ao lugar em que passou o verão de sua vida, uma praia. Essa a história. O narrador lembra aqueles dias ensolarados, aqueles tempos de descobertas e transformação que a gente vive apenas aos quinze anos.

Vou direto ao final. Quero reler as últimas linhas ainda uma vez. O garoto se apaixona por uma mulher mais velha, com quem faz sexo pela primeira vez. Ela fora movida pelo desespero, depois de saber que o marido morrera, e o garoto pela paixão deslumbrada. Depois ela vai embora, e deixa uma carta para ele na qual diz esperar que ele seja poupado de todas as tragédias sem sentido.

Mas ninguém é, ninguém é.

O garoto cresceu, virou homem, e jamais perdeu a carta.

�De vez em quando, sempre que o mundo o castigava, ele parava o que estava fazendo e lia outra vez a carta�, diz o livro.

Às vezes me pergunto se as coisas que um dia escrevi servirão de conforto a alguém quando o mundo castigar, ou se tudo são folhas na relva, palavras perdidas na imensidão das coisas.

Não tenho resposta, mas secretamente alimento a ilusão de que certas coisas escritas por mim possam, quem sabe um dia, despertar um sorriso num rosto triste.

Um pequeno trecho do tolo livro de Raucher tem este efeito sobre mim. O narrador está indo embora do lugar onde vivera o maior verão de sua vida. �O homem se afastou da casa e voltou para a direção de onde viera, com a areia de todos esses anos passados caindo nos seus pés, a manhã fresca, a umidade matutina. E pensou na pequena verdade que ele quando menino tinha levado tanto tempo para entender. A vida é feita de pequenas idas e vindas, e para tudo que um homem leva existe alguma coisa que ele deve deixar.�

Para tudo que a gente leva existe alguma coisa que a gente deve deixar.

É uma verdade dolorida, e também uma frase que eu gostaria de ter escrito.

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Ninguém amou tanto as mulheres como ele

20/06/2010

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Vamos voltar a nossas sessões de vídeo?
Henry Miller escreveu uma declaração de amor sublime, lírica, eterna a Germaine, uma prostituta barata, em Trópico de Câncer. Talvez não exatamente a ela, mas à “coisa rosa” que ela levava entre as pernas, “um tesouro”, “um presente de Deus”.

Ele admirava aquele “matagal”, e os lábios que os separavam tanto quando estavam unidos como quando estavam separados.

Não me lembro de um outro escritor que tenha transmitido em sua prosa tanta adoração pelas mulheres quanto Henry Miller. A mais comovente forma de amor: incondicional. A mulher não tinha que ser linda, chique, rica para Miller encontrar magia, encanto, beleza nela.

É o caso de Germaine.

E no entanto. As mulheres não lêem Henry Miller, de uma forma geral. E as que rompem a regra o desprezam como machista. Ou mesmo careca. (Miller foi vencido cedo pela calvície, conforme se pode ver em Henry & June.)

Eu protesto, aqui diante de cada um de vocês eu protesto, como se fosse um advogado póstumo do grande, incomparável, insubstituível celebrador de mulheres que foi Henry Miller.

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Eu não vos saúdo, oh Marias Chuteiras.

20/06/2010

Marias Chuteiras na Copa

Marias Chuteiras na Copa

Pelo tom dos comentários no texto anterior, me dei conta que bem mais numerosa que a população de Marias Palhetas é a de Marias Chuteiras.

Os jogadores de futebol exercem um fascínio profundo sobre as mulheres. A  repórter espanhola Sara Carbonero, que pelo visto dá pulinhos e gritinhos como toda mulher que se preze antes da cobrança do escanteio, é apenas um caso icônico de Maria Chuteira. Conseguiu agir como Julieta com um Romeu tão bocomoco quanto Casillas. Poucas atividades são mais desprovidas de glamour que a de goleiro. Mesmo assim, lá estava a Carbonero atrás das traves de seu amado, como se fosse a Yoko Ono (santa padroeira das Marias Palhetas) das canchas.

Tenho a tese de que o engrandecimento que as mulheres fazem dos jogadores está associada à  ingenuidade futebolísticas delas. Como todo lance é emocionante e decisivo para a torcedora, o futebolista parece um gladiador, e não um zé-mané que veste traje de criança e tenta tirar a bola dos adversários num esporte arrastado como o futebol.

Bah.

Não saúdo as Marias Chuteiras, ao contrário do que fiz com as Marias Palhetas. As Marias Palhetas são quase sempre pura inocência. Ali estão, dispostas até a juntar-se ao coro universal dos desafinados, mesmo quando o amado toca num bar da periferia. As Marias Chuteiras são bem menos ingênuas. Costumam se apaixonar também pelas luvas dos seres amados. Não as luvas que aquecem as mãos, mas as luvas do contrato, o dinheiro que é dado antes aos jogadores.

Não, Sara Carbonero e semelhantes, eu não vos saúdo, oh Marias Chuteiras.

O goleiro espanhol dança se olhar para trás e dança se não olhar

18/06/2010

A encruzilhada do frangueiro

E então enfim a Espanha mostrou em campo alguma coisa que presta: Sara Carbonero. Ela é repórter de unma emissora e namorada do goleiro Casillas. Não sei se, quase como toda mulher, grita gol antes que seja batido o escanteio. Mas o fato é que seus colegas jornalistas estão uma vara com ela.

Sara ficou atrás do gol de seu amado no jogo contra a Suíça. A mídia espanhola diz que ela desconcentrou Casillas. Não acredito que ela tenha tentado bater papo com seu homem durante o jogo, muito menos discutir relação acho difícil.  Mas fazer umas perguntas básicas, dar alguns palpites, esse tipo de coisa é factível. Quem é capaz de manter calada uma jovem mulher durante uma partida inteira?

Sara Carbonero, que uma revista inglesa elegeu a mulher de jogador mais gostosa do mundo, é a presenta certa no lugar errado, segundo os jornalistas espanhóis.

Mas vejo o problema com chances maiores de ter nascido dele que dela. Imagino que, durante o jogo, é possível que o goleiro queira dar uma averiguada em seu patrimônio. Ainda mais ele sendo, como a maior parte dos homens espanhóis, bocomoco. Verificar se não há gavião internacional atrás dela. Acontece. Ele é humano. Uma virada para trás mesmo discreta, básica, só para marcar presença, pode ser fatal numa Copa do Mundo, do ponto de vista futebolístico. E no caso do goleiro espanhol não virar para trás também pode ser fatal, do ponto de vista amoroso.

E então chegamos a uma situação extrema. O namorado pode dançar se não olhar para trás e também pode dançar se olhar para trás.  LOL.

Pense nisso.

Um dificílimo teste analítico para as mulheres

17/06/2010

Mulheres e futebol: uma dissonância congnitiva

Mulheres e futebol: uma dissonância congnitiva

Vamos testar a minha combatida tese da ignorância desumana feminina em futebol. (Já disse que acho engraçado mulher saltar e gritar cada vez que um cara bate o escanteio.)

Quero ouvir como vocês, meninas, estão interpretando o movimento Cala Boca Galvão. Galvão, talvez vocês não saibam, é um locutor de futebol, também conhecido como Papagaio pela napa. Se já sabiam, vocês estão vendo muita televisão e há maneiras bem mais interessantes de aproveitar o tempo.

Foi brincadeira e o Galvão está se divertindo? Foi um imenso grito de basta da voz rouca digital?

Hahaha. LOL. KKK. Tenho a impressão de que vou rir muito com as pataquadas. Hahaha. Mas posso estar completamente enganado e fazendo papel de trouxa. Bah!

Vejamos.

Homens e gays serão os juízes das análises, sendo que podem ajudar com informações e contexto, caso necessário.

Eu te saúdo, oh, Maria Palheta!

16/06/2010

Uma homenagem à Maria Palheta se impunha. O poeta que existe em mim se manifestou. Os versos, modéstia à parte, jorraram, numa demonstração comovente se sensibilidade. Mas agora falta que alguém declame, e transforme a poesia tocante num vídeo capaz de entrar para a história do YouTube e trazer fortuna a todos nós, os envolvidos neste ambicioso projeto.

Falta apenas quem se voluntarie. Mas acho que esse problema desparecerá tão logo sejam lidos os versos abaixo.

Eu te saúdo, oh, Maria Palheta!

Se outras  se orgulham de coisas frívolas
Como os olhos ou mesmo a teta
Tu tens nos inocentes ouvidos teu patrimônio, oh
Maria Palheta

Quando o poeta em sua solidão maldita
Recorre ao violão, este estafeta
Todos fogem exceto tu, oh
Maria Palheta

Preferes os acordes do amado às griffes caras
E mesmo que ele nada te prometa
Estarás sempre pronta para fazer o coro, oh
Maria Palheta

Ainda que seu amado toque apenas a vuvuzela
E milite nas horas vagas [no PETA]
Estarás a seu lado, com seu aplauso solidário, oh
Maria Palheta

Por isso és a Maria entre todas as Marias
Não importa que seu ídolo não [te] meta
Estarás sempre feliz, grata e satisfeita, oh
Maria Palheta

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Por que você deve amar a vuvuzela

15/06/2010

É engraçado.

Tanto estão falando da vuvuzela, e uma coisa fundamental é calada. Uma das maiores fontes de autoestima miserável é não saber tocar instrumento. Caetano Veloso sacaneou os ignorantes musicais quando disse numa letra: “Como é bom poder tocar um instrumento!”

O que ele não disse, mas escancarou foi: “Como é péssimo não tocar nada!”

Você sai com uma garota e efetivamente ganha pontos se ela acredita que você toca.  As mulheres sempre alimentam esperanças secretas de serenatas ou até de composições imortais inspiradas nelas. Se você não toca nada, parecerá seco tal como um engenheiro ou advogado ou contador. Músicos, basta ver exemplos como Mick Jagger e Eric Clapton, são bem cotados.

Meu amigo Thunder, com sua incrível barba hemingwayana, me disse certa vez que levou bota de uma namorada com a seguinte explicação: “Jamais consegui lidar direito com o fato de que você não sabe tocar nada.”

Pois bem. A vuvuzela é a solução.

Você pode dizer na primeira saída, sem os terríveis ônus da mentira, mais ou menos o seguinte: “Acho que o Caetano sempre teve razão. Aquela música. Como é bom poder tocar um instrumento. Sei lá. Hmmm. O instrumento nunca deixa a gente sozinho. Quando o mundo parece tão cruel que você tem vontade de se trancar dentro de você mesmo, o instrumento é um companheiro fiel. Talvez o único.”

A não ser que ela seja fria como uma cartomante sérvia, ela estará apaixonada por você antes, bem antes, que você tenha que mostrar o instrumento que toca.

Pense nisso.

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As mulheres e o futebol: breves reflexões motivadas pela Copa do Mundo

13/06/2010

“Tempo de ver perna de jogador”, me disse minha amiga Bia.
Nunca tinha me ocorrido a verdade transcendental de que a única razão pela qual uma mulher vê futebol são as pernas dos jogadores.
Assim como os homens (pelo menos os duros como eu) não foram feitos para dançar, as mulheres não foram feitas para o futebol.
Há uma incompatibilidade básica entre a delicadeza delas e a brutalidade do futebol. Da mesma forma, existe um antagonismo entre a delicadeza da dança e a brutalidade de nós, os durões.

Detesto ver jogo perto de mulheres. Não porque elas olhem as pernas dos mercenários. Mas porque, não entendendo nada, produzem agitação o tempo inteiro. Dão gritos totalmente deslocados. Qualquer bola perto da área é a iminência de um gol. Escanteios são pênaltis sem goleiro: a comemoração ou a lamúria estridente começa antes.

Ver futebol tem um ritmo que as mulheres destroem em seu frenesi desinformado. Futebol é para ser visto com amigos. Eles sabem quando secar o adversário com algum sortilégio que está funcionando. Sabem ficar quietos na hora certa, xingar os jogadores que merecem e gritar quando o silêncio é um crime de omissão.

Isso não quer dizer que numa copa a mulher não tenha importância. Shakira provou que sim, tem. No lugar e na hora justa. No palco, com um microfone, cantando e dançando num concerto de abertura. A imagem de Shakira estará para sempre associada à Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.

E ao contrário das mulheres, que procuram as pernas dos jogadores, nós os homens durões ficamos encantados com Shakira não pela embalagem, mas pelo conteúdo: a simpatia cativante e a voz afinada da energética cantante colombiana.

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Quem disse que é para odiarmos a nossa aparência?

12/06/2010

Esse cara foi um gênio.
Malcom X foi um herói na história do orgulho negro. Ele falou o coração e para a mente de milhões de pessoas que se julgavam inferiores, e que eram tratadas como se fossem. Assentos em ônibus separados, banheiros separados, vidas separadas.

A pergunta que ele fez aos negros americanos: “Quem disse que é para vocês se odiarem?” Ele enumerou os objetos de ódio: cabelo, nariz, tom da pele. (Tudo aquilo que Michael Jackson tentaria tirar de si ao preço de se desfigurar.)

O que Malcom X falou para seu povo vale para cada um de nós. Quem disse para nos odiarmos? Quem disse para a garota de cabelos enrolados que ela deve detestá-los? Por que a mulher de seios menores (ou maiores) do que os das misses deve abominá-los? Por que devo odiar minhas sobrancelhas grossas?

Temos que gostar um pouco mais de nós mesmos, do jeito que somos.

Foi com essa mensagem que Malcom X entrou para a história. Balas assassinas o encontrariam em meados dos anos 60. Mas sua pregação já tinha seguido caminho e diante dela as balas foram pateticamente impotentes.

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É sabedoria amorosa terminar uma relação com o mínimo possível de palavras

10/06/2010

Viu?
Essa cena é riquíssima em aprendizado para homens e mulheres.
Nos finais de caso, não faça muitas perguntas, como ele. E nem responda tudo, como ela.
Finais, pela comoção que geram, devem ser breves. Você diz coisas das quais vai se arrepender, e também ouve. Quanto mais curtos, melhor. Quanto você não está bem no volante, a melhor estrada é a mais curta.

Repare.

Ele pergunta se ela gozou com o outro. Quantas vezes. Como. Se tocou o rival. Qual era o gosto. É uma prática de autoflagelação, típica de transtornados.
Ela conta que ficou por cima do outro, e foi penetrada por trás. Que fez tudo que se faz no sexo. E que o gosto do néctar do outro era mais doce.

Mais doce?

Um sábio do passado escreveu que quando pensava em certas coisas que falara invejava os mudos. O casal da cena, ele pelo que perguntou, ela pelas respostas, deveria invejar não apenas os mudos mas os surdos.

Fins exigem palavras curtas, e ganham mais no silêncio nobre de um concerto do que no alarido rude de uma arquibancada.

Pense nisso.


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O desabafo da Senhorita G: “Queria ser feia na próxima encarnação.”

08/06/2010

Recebi um email que gostaria de compartilhar com a tribo. Nem preciso dizer que me foi pedida confidencialidade. Tratarei o remetente, uma mulher, como Senhorita G.

“Sou tecnicamente uma gostosa, Fabio Hernandez.  Imagine. Até minhas inimigas me consideram uma mistura de Angelina Jolie com a Scarlet Johansson. Provoco diariamente torcicolo em homens de todas as idades.

Fiquei comovida com a história da americana demitida do banco. Sei exatamente do que ela fala. Mulheres com nossas medidas e nossos traços sofrem demais.  Somos objetos de raiva de todos os feios e feias do mundo, que não são poucos, como qualquer pessoa constata cada vez que olha para a rua.

Tenho 33 anos, como a americana. Estudei administração na GV e fiz MBA em Warthon. Mesmo assim, no banco de investimentos em que trabalho, me olham como se eu estivesse lá apenas pela beleza, e não pelos meus méritos. Três vezes fui preterida em promoções por um único motivo: ser bela demais.

Estou agora mesmo com a edição de uma revista americana com as 100 Mulheres Mais Poderosas do Mundo. São empresárias, executivas e políticas. Um verdadeiro Museu de Horrores.  Uma das mais bonitas era a alemã Angela Merkel, para você ter uma idéia, Fabio. Mesmo Ophra com seus 120 quilos  iria bem numa competição de beleza entre as 100.

Li um comentário seu que achei,  sem querer bajulá-lo, genial. [Gracias!] A tragédia de nós, as belas, é que num determinado momento inevitavelmente seremos chefiadas por uma delas, as feias. Como elas se casam com o trabalho por falta de alternativa, sobem mais rápido. E além do mais, muitos homens, covardes, preferem promover as feias para não dar a impressão de que protegem as bonitas e, com isso, correr riscos na carreira.

Somos discriminadas.

Sou atéia desde que li O Capital, aos 16 anos. Só acredito no que toco e vejo. Deus é o ópio do povo. Se você é religioso, peço perdão pela franqueza. [Observação: fui coroinha na infância, mas aceito perfeitamente sua tese, Senhorita G. Sou um liberal na religião.] Se acreditasse numa outra vida, queria apenas uma coisa: ser feia. Tenho a sensação de que você gostaria da mesma coisa, Fabio. [Hmmm. Menos, G.] Fiz uma foto de burca, um assunto que sei que é do seu interesse. Mando-a porque assim minha identidade será preservada. Um abraço fraternal. G.”



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Nunca vi nenhuma mulher ir a um jornal e denunciar: “Fui demitida porque sou feia demais!”

07/06/2010

Só pra lembrar: feias são demitidas a todo instante e ninguém lamenta e comenta. Nem elas. Nunca vi nenhuma mulher ir a um jornal e denunciar: “Fui demitida porque sou feia demais!” Pense nisso.

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“Fui demitida por ser gostosa demais”

04/06/2010

"Você está demitida!"

Debrahlee Lorenzana tinha uma solução: era, melhor, é gostosa. Agora ela tem um problema: está desempregada exatamente por ser gostosa.

É, pelo menos, o que ela afirma.

Ela está processando a empresa na qual trabalhava, o Citibank, nos Estados Unidos. O que ela diz: seus chefes alegaram que ela fazia a equipe perder a concentração. Debrahlee, oriunda de Porto Rico,  ia para o trabalho à moda latina, como ela mesma define.

Mulheres latinas se arrumam para parecer mulheres, lembrou ela numa entrevista.

Acredito nela, vou avisando. Algo em seus olhos transmite sinceridade.

Debrahlee tem 33 anos, é mãe solteira e ganhava o equivalente a 150 000 reais por ano. O caso despertou interesse mundialmente na mídia. Você pode ver a reportagem de uma emissora americana aqui.

A novidade para mim, nesta história, não está na demissão de uma mulher jovem e bonita. Está sim no carrasco da história contada por ela. Quase sempre o carrasco, nessas situações, é uma velhota, amargurada porque nenhum homem assobia mais para ela na rua. Nem quando coloca óculos escuros e veste um decote de adolescente.

Homem demitir funcionárias como Debrahlee é que é estranho. Elas motivam os homens. Eles querem ter um desempenho legal no trabalho para impressioná-las. Ficam até mais tarde e chegam mais cedo. Agem como meninos. Mas, a julgar pela história dela, os meninos do Citi são mentalmente velhotas. Ela afirma que, antes de ser demitida, recebeu instruções sobre as roupas que podia ou não usar. “Acho que eles queriam que ela usasse burca”, diz o advogado da demitida, tais e tantas as restrições de guarda-roupa que impunham a ela, incluído aí salto muito alto.

Quando vi o caso, pensei na lata: não é à toa que o Citibank quase foi à bancarrota.

‘Soy la mujer más feliz del mundo’, pensa Mercedes diante de El Hombre

03/06/2010

E então prossegue a saga homicida de El Hombre em seu quarto capítulo. Perturbado com seu fracasso como escritor, ele decide matar Stieg Larsson. Uma mulher belíssima mas indiscreta contara a ele um segredo que Larsson imaginava inviolável. Para fugir a uma quadrilha na Suécia que jurara liquidá-lo por causa das denúncias que Larsson fizera em sua revista, ele simulou a morte. O chefe de polícia de Estolcomo, seu melhor amigo, montou um esquema engenhoso e infalível. Enquanto o mundo chorava sua morte, Larsson vivia uma segunda vida de rei em Aruba, com outro nome e na companhia de três mulheres que, somadas as idades, tinham menos anos que a viúva que não era viúva e não sabia.

Mas o paraíso terrestre de Larsson estava definitivamente ameaçado. O nome da ameaça: El Hombre...

CAPÍTULO 4

Com toda a sua turgidez extraordinária, El Hombre estava pronto para depositar sua virilidade entre as pernas de Mercedes, ali no pequeno apartamento de São Paulo. Todo macho tem seu ritual sagrado de penetração, algo que costuma ser passado de geração em geração, como o uniforme do Fantasma dos quadrinhos. O de El Hombre era bater no peito absurdamente peludo com as duas mãos e, como Tarzan, dar um grito primal.

Ele tinha preparada uma resposta quando algum vizinho batia na porta para perguntar se estava tudo bem. “Fechei a porta da geladeira no indicador”, dizia com desfaçatez num meio sorriso. Sua mente escondia pensamentos que pulavam de galho em galho como macacos amestrados.

Some. Desaparece. Tenho uma mulher maravilhosa me esparando e você vem me perguntar se está tudo bem? Eu que devia perguntar isso pra você. Babaca

Mercedes, à mercê de El Hombre na cama, parecia uma versão melhorada de Sofia Loren ao surgir para o cinema. A tez morena da pele macia, os cabelos longos e fartos que cobriam seus seios como se fossem duas faixas quando ela estava nua. Richard Burton dizia que a principal virtude de Liz Taylor eram os seios, macios e empinados ao mesmo tempo. Ou são uma coisa ou em outra, mas em Liz, na indiscrição galante de Burton, eram ambas as coisas.

É uma pequena que Liz Taylor tenha se transformado numa velhota. Podia ter partido no apogeu como a Marilyn.

A imagem recente de Liz Taylor subitamente tomou conta da mente excitada e atormentada de El Hombre. Michael Jackson fez todas aquelas plásticas para ficar parecido com ela, pensou El Hombre. Vira fotos de MJ, cheio de batom e com a pele branca de albino, e lembrara imediatamente de Liz Taylor. O pesadelo de MJ é que ficara parecido não com a Liz soberba da juventude, mas com a velhota gorda e massacrada por plásticas.

“Vem, precioso”, sussurrou suplicante Mercedes. Ela tinha naquele momento a ansiedade de uma criança na fila de entrada de um parque de diversões. Cada segundo parecia uma hora. Ela tinha uma necessidade física de seu homem naquele instante. Sem a turgidez inacreditável dele dentro de si Mercedes se sentia incompleta, menor, desprotegida.

Soy la mujer más afortunada del mundo.

El Hombre já estava descendo o corpo sobre Mercedes quando sua mente foi tomada por uma associação fatal de sons.

Liz, Liz, Liz … Lisbeth!

E então a imagem do sueco maldito apareceu diante de si, no lugar de Mercedes. El Hombre deu um grito, que provocou um êxtase instantâneo em Mercedes. Mas desta não era ritual. Era terror. Seu coração disparou como as tropas francesas rumo à fuga quando os alemães despontaram nas imediações de Paris na Segunda Guerra. Larsson, em sua alucinação, estava dando uma gargalhada maldosíssma, como se dissesse para El Hombre que tinha vendido 40 milhões de livros e não 40, como o fracassado brasileiro.

Todo o ardor sexual de El Hombre cessou imediatamente como uma bexiga furada. Em seu lugar apareceu um ódio assassino sem limites.

Tenho que exterminar o sueco maldito.

“Tudo bem, Hombre?”

A voz rouca e baixa de Mercedes redespertou seu desejo. Quarenta e cinco minutos depois, a arubenha arfava, triunfal.

Soy la mujer más afortunada del mundo.

Todos os outros homens que tivera, e não foram poucos, pareciam crianças perto de El Hombre, pensava Mercedes com o sorriso de Mona Lisa que sempre aparece na mulher sexualmente satisfeita. Ela levou os dedos hábeis para sua floresta entre as coxas e ficou impressionada. Havia um mar de sêmen. Seu homem jorrava como um vulcão islandês, em vez de borrifar como os demais.

El Hombre e sua saga homicida

Um café antes do extermínio do sueco maldito

Quando, mais tarde, El Hombre se despediu, com uma pequena mala nas mãos e o sobretudo marcante, Mercedes imaginava que ele estivesse indo visitar o tio numa cidade distante, como alegara. Ela não tinha a menor idéia de que El Hombre partia para o que julgava a missão mais importante de sua vida de planos e projetos desfeitos.

O extermínio físico de Stieg Larsson, em seu refúgio de Aruba.

(continua)

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A maldição que pesa sobre as mulheres jovens e bonitas

01/06/2010

Queria compartilhar uma coisa com você.

Essa garota aí em cima, como você sabe muito bem, é Lena Meyer-Landrut. Lena, universitária alemã de 19 anos, ganhou o Eurovision, o maior festival europeu de música.

Num video colocado no YouTube em que Lena canta a música vencedora, Satellite, um internauta teve uma sentença implacável: “Ela ganhou 75% por ser gostosa e 25% por ser talentosa”.

Como?

Vamos ouvir de novo Lena.

Mulheres jovens e bonitas como Leda são constantamente injustiçadas em relação a sua competência. Sobretudo as mulheres veteranas são juízas severíssimas de jovens bonitas. Inveja, raiva, tudo se mistura numa explosão de miséria humana.

E sabe o que é pior? A vítima de hoje, ao envelhecer, se torna vilã. Faz com as outras o que fizeram com ela há vinte, trinta anos.

Lena é a melhor coisa que surge na Alemanha desde o Volkswagen, em minha opinião. Canta, dança, domina o palco e o microfone. Tem o charme inocente de uma namoradinha. Se fosse um pouco mais vulgar, seria uma Lolita morena. Mas não. O homem, ao vê-la, pensa num beijo, não em sexo. Mais que luxúria, Lena inspira ternura.

E tem o mérito maior de uma mulher: o sorriso genuíno, fácil, simples.