Archive for Maio, 2010

O sexo, a vida e a morte

31/05/2010

Camus

VOCÊ MUITO PROVAVELMENTE já leu O Estrangeiro, do Albert Camus.  Aqui, você pode lê-lo de novo. As primeiras linhas são reverenciadas. “Hoje morreu minha mãe. Ou talvez ontem, não sei bem.”

Uma passagem. Queria discutir uma passagem específica desse pequeno grande romance. O narrador é moralmente condenado, num tribunal, porque um dia depois da morte da mãe  faz sexo com Marie. A condenação moral vai levar a outra bem mais drástica.

Camus disse que se O Estrangeiro tivesse que ser resumido numa linha seria mais ou menos assim: quem não chora na morte da mãe está frito.

Bem, o que eu queria colocar na mesa para debater: há algo de errado em fazer sexo um dia depois da morte da mãe? Visto filosoficamente, o sexo é uma celebração desesperada da vida, ou da possibilidade de vida. É uma resposta à morte, em certo sentido.

O que o narrador de Camus fez foi responder com vida à perplexidade nascida da morte da mãe. Ele estava dizendo: “Estou vivo, por incrível que pareça. E vou seguir adiante. Tenho que seguir. Não existe alternativa.”

Só que a justiça dos homens é hipócrita, não filosófica, e você sabe como termina o narrador.

Sexo é vida, não pecado, não indiferença. Quando a morte de alguém nos esmaga, pode ser a melhor forma de consolação e resignação.

Às vezes, a única.

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“A negra dá de dez na branca” segundo meu amigo Thunder, um especialista

28/05/2010

A deusa de Thunder

MEU AMIGO THUNDER, dono de uma das vozes mais poderosas do mundo, é tarado pela Venus Williams. Thunder foi casado com uma quase sósia de Venus, e num momento de indiscrição alcoólica disse, descaradamente,  que a mulher negra “dá de dez” na branca no sexo. “Elas são mais atléticas e  quando suam os hormônios liberam uma fragrância …” Thunder ingressou numa confusa explicação pseudocientífica que fiz questão de interromper brutalmente.

Ele poderia se arrepender, sóbrio, do que me relataria bêbado.

a madame

Madame

Ontem Thunder me telefonou de seu iPhone, esbaforido, e pediu que eu ligasse a talevisão. Mandou, na verdade. Um canal de esportes. Liguei. Venus Williams estava jogando, na França, de lingerie preta, com rendas vermelhas. O decote lembrava os de Madame de Pompadour. Ou pelo menos pareceu lingerie a mim e muita gente. Uma jornalista disse que era um traje mais apropriado para a alcova que para uma quadra. Thunder tinha opinião diferente.

“Hernandez. Hernandez.”  É assim que ele me chama com seu vozeirão de trovoada, que ganha ainda mais ressonância graças à barba hemingwaiana que ele passou a cultivar nos últimos tempos. Thunder, com a barba, tem mais ares de escritor do quase todos os escritores de verdade. Ele costuma repetir meu sobrenome nas nossas conversas. “A Venus já é a campeã na França mesmo que perca. Pescou?”

Pescar, para Thunder, é entender.

Pesquei, mas Thunder não esperou minha resposta. Desligou ainda mais apressado que de hábito, ávido por ver sua deusa negra de lingerie preta desfilar na quadra vermelha de Paris. Não queria reproduzir aqui sua última fala, mas eu seria desonesto se a omitisse. “Hernandez, Hernandez. Cadê o Hombre?”

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Você está viciado em internet?

28/05/2010

UMA PERGUNTA ESSENCIAL E PONTO: você se considera viciado em internet? Quero respostas, muitas respostas, sinceras. Gracias, saludos.

Os jovens estão ocupados demais em fazer sexo para estudar sexo

25/05/2010

Uma obra de Jeff Koons quando jovem e casado com Ciciollina

Há um tempo para fazer sexo e há um tempo para estudar sexo.

Este aforismo sexual me ocorreu ao me inteirar sobre um livro recente de uma escritora americana chamada Mary Roach: A Curiosa União Entre Ciência E Sexo. É uma autora respeitada: este livro mereceu uma resenha do New York Times. Roach é verbete na Wikipédia.

Roach, uma velhota cheia de energia, não economizou nada ao fazer as pesquisas. Com o marido Ed, por exemplo, para finalidades de estudo, copulou num espaço limitado, sob a observação de um especialista em sexo que ia fazendo sugestões. Depois de um tempo, Ed recebeu a ordem: “Pode ejacular.”

Roach, no levantamento do material, conta a história de uma mulher que tinha orgasmo ao escovar os dentes. A massagem nas gengivas, o movimento com os braços, tudo isso poderia explicar o estranho fenômeno, segundo Roach.

Ela também foi atrás de um aparelho usado numa experiência cientísica nos anos 50. Um pênis artificial com uma câmara. Ele era introduzido em mulheres que se voluntariavam para um estudo sobre os movimentos dos músculos da vagina durante a penetração.

Num vídeo em que ela fala do livro, alguém nota num comentário escrito o seguinte: “Por que os estudiosos de sexo são sempre mais velhos, e não gente na casa dos 30?” Alguém responde: “Porque os jovens estão ocupados demais em fazer sexo para estudar sexo.”

Pense nisso.

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Dez coisas que provavelmente você não saiba sobre sexo

23/05/2010

Rent-a-Rasta

Rent-a-Rasta

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Devido ao avassalador sucesso de listas anteriores de curiosidades sexuais, volto ao tema hoje.  A visita ao blog aumentou simplesmente 20 vezes. Parecia que eu tinha escrito para o Maracanã. Depois, é verdade, a platéia retornou aos poucos e valorosos de sempre, capazes de se acomodar num ônibus.

Gratidão eterna a estes.

Para ser sincero, não sei exatamente o quanto são confiáveis as informações no lugar em que as colhi, o consagrado site Freak Facts. O que tenho certeza é que são, em geral, divertidas. Rendem conversas de bar. O que mais se pode esperar da mídia além de proporcionar conversas de bar? Que resolva os problemas da humanidade? Isso está provado que não dá.

Bem, aos fatos, ou melhor, supostos fatos.

1) 60% dos adultos da Índia não têm relações sexuais antes de casar.

2) Em tempos antigos, as tribos da África do Sul acreditavam que beber suco da vagina de uma mulher durante a gravidez aumentava o seu sistema imunológico.

3) 80 mil mulheres americanas e européias visitam a  Jamaica cada ano apenas para encontros sexuais.

4) As chances de gravidez aumentam em 75% se ambos os parceiros ejacularem juntos.

5) 40% das mulheres têm medo de sexo durante o dia ou com as luzes acesas.

6) Num namoro, 40% dos homens tendem a se gabar de seu talento sexual antes ou do terceiro encontro. A maioria está mentindo.

7) 65% dos homens mentem sobre o tamanho do pênis.

8 ) De 10% a 15% dos homens quebram seu pênis a cada ano em tentativas inábeis de novas posições sexuais.

9) 35% dos homens dormem dentro de cinco minutos depois da relação sexual.

10) Na Grécia antiga, as mulheres expunham a sua vagina para afastar as tempestades no mar, mas isso nunca funcionou.

Toda mulher precisa de um tapa na hora certa?

21/05/2010

Já viram Jules e Jim, do Truffaut?

Eu não. Quer dizer, vi trechos. Mas não vi inteiro. Vou ver.

Mas acabei de ler o livro. Não sei ainda como avaliá-lo, mas há uma passagem que me chamou demais a atenção. Queria compartilhar e abrir, assim, uma discussão.

A personagem principal feminina, Kate, conta uma passegem sexual de sua vida a Jim, seu amante. O outro homem, diz ela, a pegou com as mãos “pelos dois lados”.

Pelos dois lados.

Jim até ali dividia Kate com Jules, seu melhor amigo, e outros homens. Quer dizer, não era um cara essencialmente ciumento.

Só que.

Ao ouvir a histórias das mãos dos dois lados vibrou uma bofetada em Kate. E ela, triunfal: “Finalmente encontrei um homem que me dá um tapa na hora certa.”

Por algums instantes me passou pela cabeça a hipótese de que o drama supremo de muitas mulheres é passarem uma vida inteira sem encontrar o homem que haverá de desferir uma bofetada no momento preciso, justo.

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Larsson desfruta de suas três mulheres sem saber que El Hombre se decidiu por seu extermínio físico

19/05/2010

Três Mulheres, de Picasso

Capítulo 3: Larsson desfruta de suas três beldades arubenhas sem saber que é um dead man walking

Chegamos à terceira etapa da saga de vingança de El Hombre. Vítima do fracasso como escritor, El Hombre se decide pelo extermínio do autor da Trilogia Millennium, Stieg Larsson. Conforme El Hombre soubera pela língua solta de uma mulher, Larsson simulara sua morte na Suécia para escapar de uma gangue e vivia em Aruba sob uma nova e secretíssima identidade. “O planeta é pequeno para nós dois”, decretou em sua fúria assassina El Hombre.

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SEM SABER QUE estava com as horas contadas porque El Hombre decidira exterminá-lo, Stieg Larsson desfrutava numa tarde majestosa de verão em Aruba de suas três mulheres sequiosas. Era janeiro, e ele lembrou que na sua terra natal a temperatura nesta época do ano muitas vezes ficava abaixo de 20 graus negativos, fora o gelo.

“Por que eu demorei tanto para descobrir esse paraíso?”, se perguntou Larsson.

Estavam os quatro deitados num tatame gigante que Larsson mandara fazer em seu apartamento triplex. Ela pensara, inicialmente, fazer ioga no tatame, mas as solicitações de suas três jovens mulheres o levaram a utilizá-lo para o sexo.

Duas das três mulheres estavam a seu lado, acariciando cada uma delas um pedaço do rosto agora bronzeado de Larsson. Davam, de tempos em tempos, beijos em sua face extasiada. A terceira, mais para baixo, fazia uma massagem tailandesa nos pés calosos do homem que dividia com as duas outras. Nenhuma das três se queixava. O pedaço que tinham do sueco era suficiente.  Foram educadas num tal modelo perfeito que o maior prazer das três era dar prazer a seu homem. Nada as deixava mais sexualmente estimuladas do que a iminência trepidante da ejaculação de Larsson.

Larsson gostava da mistura de fragrâncias que de desprendia das três. Cada qual tinha seu cheiro único, e era bom, mas combinados eram o que o sueco chamava de Perfume do Paraíso Perdido. Larsson secretamente temia que jamais conseguisse voltar a fazer sexo com uma mulher apenas por vez, ou mesmo duas. Como um guitarrista comum que compra sua terceira guitarra e não entende como pode viver com apenas uma, ele não concebia mais a idéia da presença solitária de uma única mulher sob seu corpo rejuvenescido pela vida no trópico.

As três jovens deslumbrantes eram sua verdadeira Trilogia. Anirak, morena de olhos violeta e pernas longas. Ester, negra que parecia a irmã mais nova e mais bonita de Beyonce. Yckin, que pintara os cabelos de loiro e era uma réplica de Marilyn Monroe nos tempos de Norma Jean. Com parte do dinheiro que ganhara com sua literatura, Larsson comprara Três Mulheres, de Picasso, e pendurara bem em frente ao tatame. Ele não sabia direito por que, mas era um quadro que o transportava a uma espécie de delírio erótico.

Tivesse conhecido as beldades arubenhas antes, Lisbeth Salander não seria a mulher amargurada e viciada em computador que era. Mas sem Salander ele não estaria ali com as três. Era um paradoxo sobre o qual às vezes ele pensava numa pose de filósofo.

Larsson fazia sexo á base de duas vezes ao dia, sete vezes por semana. Ficara alguns anos sem sexo nos últimos anos de sua vida na Suécia. O casamento já se transformara numa amizade, e como repórter ele não ganhava dinheiro suficiente para atrair novas mulheres. A falta de sexo na vida real foi compensada na Trilogia Millennium. Blomqvist, o jornalista que Larsson fez inspirado em si próprio, arrebata todas as mulheres dos três livros. Larsson não gostara do Blomkvist do filme. Achava-o feio demais perto dele próprio. Em compensação gostara muito de Noomi Rapace como Lisbeth. Gostaria de um dia confidenciar a ela que na verdade estava morto.

Mas as mulheres não sabem manter um segredo.

Ele estalou os dedos e, conforme entendido na linguagem de gesto do quarteto, a mais nova delas se levantou e foi buscar uma Carlzberg gelada para ele. Da Escandinávia ele guardava a fidelidade ao gosto incomparável da cerveja local.

Quando na Suécia me fariam essa gentileza?

Tomando uma gelada, Larsson pensou que finalmente era um homem feliz. Vivera sempre atormentado. Sem dinheiro, ressentido por uma carreira medíocre, revoltado com as injustiças sociais que presenciara na Suécia. Agora estava mais leve. Tinha ereções como na adolescência, espontâneas, túrgidas, latejantes. E plenamente recompensadas.

O que ele não sabia era que um homem ainda mais atormentado que ele fora tramava, num país diantante, o seu extermínio em detalhes: El Hombre.

O planeta era pequeno demais para ambos.

Larsson era o que na linguagem dos corredores da morte americanos se chama de Dead Man Walking.

Um homem morto em movimento.

(continua)

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A mulher que conquistou o coração (e o pênis) do Rei David

18/05/2010

DISPOSTOS A uma viagem pelo glorioso passado feminino?

Beleza. Vamos em frente então.

Ela foi uma das mulheres mais gostosas e mais poderosas do Velho Testamento. Teve a seus pés Davi, o herói judeu que matou o gigante Golias e depois se transformaria em rei de Israel. O reinado vitoriosamente conturbado de Davi é considerado o período supremo de Israel. Ao tão aguardado Messias de que. mais tarde. falariam os profetas bíblicos estava reservada exatamente a tarefa de devolver a Israel a glória dos tempos de Davi. Em sua História dos Judeus, o historiador inglês Paul Johnson diz o seguinte: “Davi foi o rei mais popular e mais bem-sucedido que Israel jamais teve, o rei e governante arquétipo, de sorte que, por mais de 2 000 anos depois de sua morte, os judeus viram o seu reino como uma idade de ouro”. Calcula-se que Davi tenha reinado por volta de 1 000 a.C.

Davi, pastor de origem, subjugou varios povos: filisteus, moabitas, amonitas, arameus. Mas seu coração foi inteiramente subjugado por Betsabá. E não apenas seu coração: também seu pênis. Foi um caso de paixão sexual à primeira vista. Conta-se no Velho Testamento que Davi, depois de tirar uma sesta, avistou do seu palácio uma mulher “muito formosa” tomando banho. Era Betsabá.

Davi pediu que a trouxessem ao palácio. E logo a conheceu — no mais puro sentido bíblico. Betsabá engravidou. Isso não seria problema, não fosse o detalhe de Betsabá ser casada com outro homem, o pobre Urias, uma das maiores vítimas bíblicas da luxúria alheia. Betsabá avisou a Davi que concebera. O rei tentou remediar a situação. Mandou chamar Urias e tentou convencê-lo a ir para casa. Lá, Betsabá levaria Urias para a cama. E tudo estaria resolvido: Urias seria pretensamente o pai do filho de Betsabá. Só que Urias se recusou. Não uma, mas duas vezes. Para um soldado honrado como ele, parecia indigno desfrutar os encantos sexuais de uma mulher enquanto seus companheiros guerreavam. Essa noção rígida de honra o matou. Davi pediu a Joab, chefe de seu exército, que pusesse Urias no lugar onde a guerra contra os amonitas fosse mais violenta. Foram as seguintes as palavras de Davi, segundo o Velho Testamento: “Coloque Urias na frente, onde o combate for mais renhido e desampare-o para que ele seja ferido e morra”. Foi o que aconteceu. Betsabá estava livre. Passado o luto, ela tornou-se, oficialmente, mulher de Davi. Não a única. Homens como Davi podiam ter várias mulheres. Betsabá foi a oitava. Segundo os relatos, foi a mais lasciva. Em seu divertido livro Só Deus Sabe, em que conta de forma romanceada a história de Davi, o escritor americano Joseph Heller diz que, de todas as mulheres que Davi teve, Betsabá foi a única que gozava.

A criança em gestação que motivou a morte do marido enganado não durou muito. Era um menino. Betsabá teve ainda outro filho com Davi. Seu nome: Salomão. Betsabá influenciou decisivamente Davi na sucessão. Ela queria que seu filho fosse rei e conseguiu. É verdade que o destino a favoreceu. Filhos de Davi que estariam à frente de Salomão na linha do trono foram caindo um a um. A queda mais espetacular foi a de Absalão. Absalão insurgiu-se contra o pai. Davi teve que fugir diante da perspectiva de seus homens serem derrotados pelos do filho insurrecto. Mas Absalão cumpriu a maldição do profeta Natã. Absalão, conforme Natã advertira Davi, refestelou-se sexualmente, diante dos olhos de quem quisesse ver, com as mulheres do harém de seu pai. Recompostas suas forças, Davi enfrentou a revolta de Absalão. Saiu-se, como sempre, vitorioso. Deu ordens expressas para que Absalão fosse poupado no combate definitivo, mas não o atenderam. Joab plantou três dardos no coração de Absalão, preso nos galhos de um carvalho quando tentava fugir. Nem assim Absalão morreu. Outros soldados terminaram o serviço. Davi ficou desesperado ao saber da morte do filho. Para Betsabá foi um passo essencial para a unção de seu filho Salomão. (Para os curiosos: Salomão significa “pacífico”). Na velhice, o corpo cansado de Davi encontrou calor e conforto numa jovem chamada Abisague. Mas nada que se comparasse com a tórrida, adúltera, sangrenta paixão que sentiu pela mulher que, certo dia, nos seus jovens tempos, viu, do terraço de seu palácio, banhar-se.

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Tá certo você fazer a Rainha esperar apenas porque está na cama com a Carla Bruni?

16/05/2010

Vale um atraso

Vale um atraso

Hmmm.

O Sarkozy parece não ter dúvida que sim: tá certo você fazer a Rainha esperar apenas porque está dentro da Carla Bruni. Um livro novo de um jornalista americano conta essa história. Numa conversa com Michelle Obama, Carla contou que ela e o marido chegaram atrasados a uma  recepção oferecida por alguém importante, muito importante, porque estavam em plena fornicação. (Bonita palavra essa, fornicação.)

Tudo indica que foi a Rainha da Inglaterra.

Michelle foi fofoqueira. Mas se Carla não quisesse que o mundo não soubesse seu triunfo sobre a Rainha, não falava dele para a primeira dama americana. Não basta dar um chá de cadeira na Rainha em nome de um orgasmo: você tem que publicar isso.

Quando contei ontem à noite pelo telefone a história para Thunder, que estava claramente já além da quarta dose de scotch, ele me disse a verdade mais pura: “Hombre, se a Rainha está esperando a vida inteira a Inglaterra voltar a ser um império, pode esperar alguns minutos a Carla Bruni!”

Batata. Batatíssima.

É preciso considerar também uma coisa. O Sarkozy não casou com a Carla Bruni para discutir arte, filosofia e questões políticas. Para isso, ele continuava com a mulher très savante com quem estava casado antes.

Thunder teve a frase definitiva, em sua bebedeira descarada: “Não sei quanto tempo a Rainha esperou, Hombre. Mas foi pouco. Comigo ela tava esperando até agora.”

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Ela acha “muito style” seu piercing na vagina. E você, o que pensa disso?

11/05/2010

Nu de Picasso

Nu de Picasso

LEIA ESTE comentário, por favor.

Tenho e acho muito style!
O meu é argolinha e não pus nos lábios, pus acima do clitóris.
Nunca deu infecção porque sempre fui ciudadosa.
As pessoas ficam falando que infecciona e não sei o que, mas se você pensar bem, se a pessoa não for higiênica até o buraco do brinco na orelha vira infecção.
Basta tomar cuidado e ter higiene!”

Quem assina é uma misteriosa Ice Girl, que de gelada nada parece ter. Como você percebeu, o que ela tem e acha muito style é um piercing na vagina. O comentário foi colocado num texto antigo. Achei que ele merecia o centro do palco, para o assunto ser debatido.

Demorei a ver o óbvio, aliás. Uma leitora escreveu na época, diante das palavras de Ice Girl: “Nenhum homem vai comentar?” Instado, coloquei um link para sei lá o que, para cumprir tabela e não fazer papelão. Fiz.

Perdón.

Dia após dia, ao ver as estatísticas do blog, reparo que as pessoas continuam a ler o texto que tratava do piercing na vagina. É, evidentemente, um assunto que fascina os homens e intriga as mulheres.

Intriga as mulheres porque  parece vulgar ou até perigoso e, ao mesmo tempo,  deixa no ar a idéia de que de posso dele os homens serão enfeitiçados. Fascina os homens porque sugere atrevimento, ousadia sexual. Na fantasia mais secreta masculina, o simples ato de colocá-los cria cenas absurdamente eróticas. Que mãos tocaram aquela região? Como foi? Doeu ou …

Desde que não tenha finalidades exibicionistas, acho que é um dos enfeites mais poderosos que uma mulher pode adquirir. Se eu fosse mulher colocaria? Não sei. Não gosto de dor, mas gosto menos ainda da banalidade repetitiva e enfadonha das coisas da vida.

Bem. Sei lá. Graças a deus, ou ao diabo,  não sou mulher. Seria uma tragédia, neste mundo já tão sombrio, ser privado das alegrias proporcionadas por uma mulher.  Na hipótese extrema de que eu fosse mulher, com certeza seria lésbica. Batata. Batatíssima.

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Aqui e Agora: 11 aforismos incontestáveis do Sexo Zen

10/05/2010

Matisse, Nudez Cor de Rosa

Matisse, Nudez Cor de Rosa

1) A melhor xota é a que você está comendo aqui e agora;

2) Não existem seios mais lindos do que os que estão em sua boca sôfrega e gulosa aqui e agora;

3) Os lábios mais convidativos são os que você está beijando insanamente como se não houvesse amanhã aqui e agora;

4) O pescoço mais suave é aquele em que você está deixando sua marca de proprietário aqui e agora;

5) Os pelos púbicos mais macios são os que seus dedos estão percorrendo suavemente aqui e agora;

7) O umbigo mais bem desenhado é o que você está mirando aqui e agora;

8 ) O melhor perfume íntimo de mulher é a fragrância agridoce que você tem em suas narinas aqui e agora;

9) As nádegas mais belas são as que você estapeou com suas mãos justas aqui e agora;

10) A tatuagem mais interessante do mundo é a que você está contemplando como um pequeno milagre da arte no corpo dela nu e aberto a você aqui e agora;

11) Os lábios íntimos mais plásticos são os que você está separando com os dedos lambuzados  em busca do ponto exato, aqui e agora.

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El Hombre decide matar o criador da Trilogia Millennium: capítulo 2

08/05/2010

El Hombre decidido a exterminar o escritor rival

O primeiro capítulo da empolgante saga de vingança de El Hombre pode ser lido ou relido aqui.

CAPÍTULO 2:  NA SUA REVOLTA INSANA CONTRA LARSSON E CONTRA O MUNDO, EL HOMBRE CHEGA A PENSAR EM ENTRAR NA AL-QAEDA DE BIN LADEN

El Hombre tinha um objetivo na vida ao terminar de ler a trilogia de Stieg Larsson: exterminar o autor. Ele sabia que sua morte tinha sido uma farsa. Larsson e seu velho amigo Olaf, chefe da polícia sueca, tinham montado um plano perfeito pelo qual ele não apenas se livraria dos homens que queriam matá-lo como alavancaria violentamente as vendas.

Autor morto vende.

Antes de se decidir pela eliminação de Larsson — agora de verdade — El Hombre considerara a hipótese de repetir sua estratégia. Escreveria, também ele, uma trilogia de livros de suspense ambientados no Brasil. Em São Paulo. Se ele posso, por que não eu?

Lisbeth parece mais paulistana que sueca.

El Hombre refletiu sobre isso. Começava que Lisbeth era morena, e não loira como as suecas. Tinha o corpo miúdo, ao contrário das potrancas de Estolcomo. Era raivosa, vingativa, sendo que as suecas segundo alguns estudos são as mulheres mais felizes do mundo.

E não ligava para sexo.

Ora, até a neve de Estolcomo é familiarizada com a disposição das suecas para a fornicação, como se não houvesse amanhã.

Com tantas incongruências, Lisbeth virou um fenômeno. El Hombre criaria a sua versão, muito mais factível. Uma brasileira típica. Mulata com decotes imensos para destacar seus seios siliconados. Na faixa dos 20 anos, fanática por Bob Marley e Lady Gaga. Repórter de um jornal sensacionalista, Centennium. Sexualmente desinibida, e pronta para usar seu descomunal poder de sedução para conseguir entrevistas que ninguém conseguia. Olhos verdes, por conta de lentes de contato. Especializada em coberturas policiais. Mais de uma vez desvendou crimes em que a polícia boiou.

Que tal?

Ia ser uma consagração igual à de Lisbeth. Um nome. Tudo que El Hombre precisava era um nome para sua heroína. Lizabete? Não, muito parecido. Bebete? Não, lembrava uma música de Jorge Benjor. Salete? Não, poderiam tratá-la como Salada.

Sem um nome não dava para começar. Mas que nome? El Hombre chegou ao extremo de convocar as pessoas que frequentavam seu blog a mandar sugestões. O nome escolhido renderia a quem sugerisse um exemplar autografado do livro encalhado de El Hombre.

Mercedes aguarda El Hombre

Sonhando com El Hombre

Choque. Decepção. Tristeza.

Não apareceu um único nome que prestasse. Depois que acertasse as contas com Larsson, talvez tivesse que promover um extermínio em massa.

Sangue jorrando como uma fonte de catchup no meio de uma praça.

El Hombre fechou os olhos e, num desvario, viu à sua frente um monte de pessoas transformadas em cadáveres por sua AK 47 igual á de bin Laden. Quando a revolta explodiu em seu peito com a mistura fatal do sucesso de Larsson e seu próprio fracasso, ele chegara a pensar em viajar para o Paquistão e se juntar ao Al-Qaeda na condição de homem-bomba. Faria a sua Jihad pessoal, moveria a sua guerra santa contra tudo e contra todos.

Contra o mundo.

Mas desistiu quando se deu conta de que não acreditava numa só palavra de Maomé. Isso poderia lhe trazer problemas sérios entre os militantes do Al-Qaeda.

Não é por aí.

“Hombre?”, ele subitamente ouviu ali na quitinete. Era uma voz doce, sussurrada, um portunhol que cativava pela cadência malemolente.

Mercedes, a arubenha que dedara involuntariamente Larsson.

“Hombre?”, ela insistiu. Acordara ávida pelo sexo incomparável de El Hombre. Tivera sonhos libidinosos e agora queria transformá-los em realidade. Desde que passara a morar com ele aposentara El Niño, seu vibrador em forma de banana.

Seu melhor amigo por muitos anos.

Mercedes queria provocá-lo. Empurrou o lençol para o lado com displicência estudada e abriu ligeiramente as pernas. Como que ronronou, tamanha a suavidade de um suspiro cuidadosamente estudado para excitar o homem irresistível que estava de pé, na sua frente. Com o controle remoto pôs para tocar um bolero próprio para a fusão tórrida entre dois corpos em chamas. Mi vuelves louca …

Você pode fazer de mim o que quiser.

Era essa a mensagem dos olhos suplicantes de Mercedes, tão úmidos quanto seu sexo faminto. El Hombre ia agir por instinto, mas a razão o deteve. Foi até o banheiro e voltou com algo na mão direita. Aproximou-se em suas passadas de felino de Mercedes e pediu a ela que fechasse os olhos e abrisse os lábios que pareciam palpitar, tamanho o desejo de sua dona. Antes de fechar os olhos ela percebeu o elevado grau de excitação de El Hombre.

Um cavalo. Parece um cavalo. Esse é o cara.

El Hombre se aproximou do rosto de Mercedes. Os lábios escancarados esperavam alguma supresa altamente erótica, digna de figurar nas Mil e Uma Noites.

Ela apertou forte os olhos fechados, na expectativa de mais um gesto sensacional de seu homem.

Já bem próximo dela, El Hombre acionou o spray de Listerine de menta que guardava, como uma relíquia,  no armário do banheiro.

Uma borrifada justa, santa.

Mesmo Mercedes, com seu hálito perfumado de dama da noite, precisava dele ao acordar.

Feito o serviço, ele mirou aquele corpo espetacular, que fazia latejar sua intimidade viril. Tudo pronto para a festa.

Exceto por um detalhe.

(continua)

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Por que a mulher de burca fascina os homens

06/05/2010

Leio que só se fala na burca na Europa.

Alguns países da Europa querem proibi-la, sob a alegação de que são um símbolo da opressão da mulher pelo homem. A Bélgica já aprovou uma lei, e a França debate já há tempo isso.

Pensei, pensei, pensei e concluí o seguinte.

Duas coisas.

Primeiro, que a mulher não deve ser impedida de usar a roupa que queira, seja uma saia minúscula ou uma burca, desde que não perturbe a ordem pública. Os próprios franceses criaram em 1968 um slogan imortal: “É proibido proibir.”

Segundo, que, como muitos homens, gosto da mulher de burca. Há nela um mistério que, nas ocidentais, foi destruído pela seminudez rotineira e banalizada. Você fica enfeitiçado pelas formas atrás daquele tecido que preserva a modéstia feminina e estimula a imaginação masculina.

Fiz uma pesquisa informal numa mesa de bar com um grupo de amigos e a maioria confessou ter sonhos voluptuosos com mulheres de burca. “Burca para sempre!”, gritou meu amigo Thunder em sua alegria completamente bêbada e em sua voz estentórea de Fred Flintstone. Ele quase declara, numa rodada de chope, guerra à Bélgica e à França. Thunder já foi casado três vezes, e ali no bar decidiu partir para a quarta mulher, uma paquistanesa de burca, de preferência. Um dos homens no bar foi completamente contra a burca, mas é preciso considerar que é gay.

Não há segredos na mulher que mostra tudo, ou quase.

Na que se guarda para seu homem, com burca ou não, há uma promessa, uma insinuação que pode até devolver o fascínio que, no Ocidente materialista e ególatra, se perdeu nas relações amorosas nesta era de ganância, consumo, ostentação e plásticas que tornam artificial até a brancura dos dentes.

Se eu sumir por alguns dias, é que estarei na Arábia, na companhia de Thunder.

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A notícia está nua. E os apresentadores também

05/05/2010

Os alunos de Cambridge carregam nos ombros a tradição de excelência nos estudos

Os alunos de Cambridge carregam nos ombros a tradição de excelência nos estudos e elegância nos trajes

CAMBRIDGE, que é Cambridge, aparece em 2010 com uma grande novidade.

Que não está exatamente nas salas de aula.

Vejamos:

Gostei da entrevista com o novo presidente da associação de alunos.  E também de um comentário da Jane sobre os rigores da recessão e seu impacto na capacidade de comprar roupas dos alunos de Cambridge.

Hahaha, como escrevia, em seu cinismo monstruoso e sem limites, o Cafageste, o tipo mais asqueroso que já passou por aqui, um machista patológico que julgava que a vida era, basicamente, finalizar mulheres.

Bem,  eu queria ouvir duas coisas da comunidade:

1) A opinião sobre a qualidade jornalística desse novo programa.

2) Qual seria a dupla ideal para fazê-lo no Brasil? Um homem, uma mulher. Podem ser jornalistas, mas não é obrigatório.  Qualquer área. Basta que tenham a cara — e o corpo — do programa.

Gracias.

Estaré agradecido toda mi vida, créeme.

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Apenas 17% das mulheres vão ter um orgasmo durante o sexo em toda a vida — e mais 17 fatos sexuais que provavelmente você não conhece

03/05/2010

E então, dados os pedidos que lotaram minha caixa de correspondência, vamos a uma segunda rodada das nossas curiosidades sexuais, um oferecimento de FreakyFact:

1) 46% das mulheres parariam de fazer sexo por duas semanas, em vez de se desconectar da internet pela mesma quantidade de tempo.

2) Apenas 17% das mulheres vão ter um orgasmo durante o sexo em toda a vida . O resto vai se masturbar para obter um.

3) Pessoas que têm nasofilia ficam com tesão só de tocar, lamber ou chupar o nariz do seu parceiro.

4) Boring Vagina é a relação sexual em que a parceira tem com pouco movimento e um interesse próximo de zero.

5) O Japão quebrou o recorde mundial de orgia, com 250 homens e 250 mulheres fazendo sexo em um armazém.

6) Para 75% das mulheres, o tempo é o fator mais importante no sexo.

7) Nem toda mulher gosta de receber sexo oral. Algumas mulheres acham desconfortável.

8  ) Depois de uma separação o corpo se sente vazio, e então as pessoas se voltam para alimentos açucarados como chocolate e sorvete.

9) 60% das mulheres abaixo de 21 anos não tem idéia de como ter um orgasmo.

10) Vulva é um perfume feito para cheirar exatamente como o odor vaginal.

11) 40% das mulheres podem ter orgasmo ao sonhar com sexo.

13) Você pode perder entre 4 e 6 quilos por ano tendo sexo 10 vezes por mês.

14) Muitas mulheres dizem que tiveram alguns dos melhores orgasmos quando estavam grávidas.

15) Homens e mulheres com vida sexual ativa têm maior probabilidade de viver uma vida mais longa, mais produtiva

16) Gorilas fêmeas cometem atos bissexuais na tentativa de estimular os machos alfa.

17) Mesmo com o uso de preservativos, se seu parceiro tem herpes, você tem uma chance de 80% de pegá-lo também.

18) Mulheres com mais de 40 anos preferem dormir e sair com homens entre 25 e 35 anos.

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El Hombre decide matar o criador da Trilogia Millennium: um romance em fascículos

01/05/2010

El Hombre

Você está vendo um momento histórico.

O primeiro passo para um bestseller de pretensões épicas. Simplesmente, vender mais que a Trilogia Millennium, de Stieg Larsson.

Só isso.

A trama é simples: corroído de inveja pelo sucesso de Larsson, cuja morte foi simulada para que ele escapasse de um grupo que o jurara de morte em Estolcomo, El Hombre, um escritor que começou vendendo mal e gradativamente foi piorando, toma uma decisão extrema.

Exterminar Larsson, que com o dinheiro da trilogia leva uma vida secreta em Aruba sob a fachada de um homem de negócios norueguês.

Será publicado um capítulo por semana da saga assassina de El Hombre.

Atenção, mais uma vez.  É um momento histórico.


CAPÍTULO  1 – A DECISÃO EXTREMA DE EXTERMINAR UM SER HUMANO

Duas das três novas mulheres de Larsson em sua vida secreta em Aruba

Duas das três novas mulheres de Larsson em sua vida secreta em Aruba

El Hombre acabou de ler o terceiro volume da Trilogia Millennium em sua quitinete com o aluguel atrasado no centro de São Paulo. Jogou o livro contra a parede e consolidou uma decisão extrema: matar o autor, Stieg Larsson. Sabia, de fonte segura, que ele estava vivo.

A mulher que dormia nua em sua cama neste momento, Mercedes, uma morena de fazer bispo chutar o poste, lhe contara tudo em seu portunhol cativante e em seu decote que mostrava a obra magna de um cirurgião plástico em seus seios siliconados.

Mercedes não sonhava, em seu cérebro voltado quase sempre para o sexo fantástico que El Hombre lhe proporcionava, que ao contar a tramóia de Larsson estava decretando sua morte.

Larsson forjara ardilosamente a própria morte com dois objetivos. O primeiro era promover as vendas da trilogia que em breve seria lançada. Todos os jornalistas que durante anos zombaram dele em Estolcomo ficariam com úlcera de tanta raiva de seu sucesso, sabia Larsson.

Mas este era um objetivo apenas colateral.

O segundo objetivo real era escapar da sentença de morte que um grupo neonazista sueco decretara contra ele. Larsson contava, para o objetivo 2, com a ajuda do chefe da polícia secreta sueca, Olaf Gabrielsson, seu velho amigo de juventude. Tinham sido ambos jovens comunistas numa cidadezinha nas cercanias de Estolcomo. Criaram ali uma amizade que os anos apenas fariam crescer. Olaf era alto como um jogador de basquete, e mancava de um tiro que recebera de um gangster numa estação de metrô de Estolcomo, numa perseguição frenética que pôs fim a uma operação policial planejada fazia nove anos. Era uma madrugada de neve, típica de janeiro, e o miserável terminou com 17 tiros nas costas e dois na nuca, mas antes de ir para o inferno ele deixou Olaf manco à maneira de House, com um disparo seco de sua Browning.

Larsson e Olaf eram praticamente irmãos. Chegaram a dividir a mesma mulher nos primeiros tempos de Estolcomo, em que rachavam um apartamento perto da Estação Centrall, Eva, uma ex-hippie que exigia de seus amantes que fumassem um baseado com ela antes e depois de cada cópula. Eva também exigia música no sexo, sempre uma especificamente, Summertime, cantada por Janis Joplin. Sem maconha e sem Janis Joplin Eva considera o sexo uma alienação promovida pelos burgueses. Ela tinha um dragão tatuado nas costas e dois piercings na vagina, e foi mais tarde a inspiração de Larsson ao inventar Lisbeth Salander. Tinha 24 anos e, como Salander, parecia ter 14. Cada um dos amigos ficava uma noite com Eva. Isso durou dois anos, até que Eva se apaixonou por Kurt, um chef dinamarquês que só preparava os pratos depois de tomar ácido, e foi morar em Copenhague, onde é vista andando pelas ruas do centro em sua bicicleta pintada com motivações psicodélicas e lisérgicas.

Homens não costumam dividir mulheres, sobretudo porque chega o dia em que ela fará comparações sexuais que podem ferir duramente a autoestima masculina . Mas quando dividem é porque existe um laço indestrutível entre eles. Era esse o caso de Stieg e Olaf.

Olaf criara uma equipe de pessoas de sua inteira confiança para simular a morte do amigo ameaçado de morte. Eram três homens de sua total confiança, Klaus, Kurt e Joost. Estava combinado o seguinte. Eles iam fazer parar o elevador do prédio em que Larsson trabalhava, no sétimo andar. Larsson chegaria e teria que subir as escadas íngremes e escuras. Fingiria ter um enfarto e seria levado para um hospital, onde Dr. Anders, um médico que prestava serviços esporádicos para o serviço secreto sueco, o declararia morto. Ele próprio lavraria a certidão de óbito e encaminharia o corpo para o crematório Woodland para ser queimado imediatamente, segundo instruções de um testamento que Larsson, como parte do plano, fizera e deixara com seu poderoso amigo.

O Crematório Woodland, onde o falso Larsson foi incinerado

Era um plano simplesmente perfeito.

Larsson se transformaria, ficticiamente, em pó. Nem seu pai e nem seu irmão saberiam de nada, para não colocar em risco o plano. Sequer a mulher de Larsson seria informada. O plano estava esperando apenas que um indigente com as características físicas de Larsson falecesse, alguém que não tivesse nem família e nem amigos para reconhecer o corpo e reclamá-lo.

Quando este dia chegasse, Olaf avisaria Larsson. Para evitar o risco de que a conversa fosse grampeada, o combinado é que ele ligaria para o Blackberry de Larsson três vezes, com intervalos de cinco minutos. Em cada uma dessas vezes, deixaria o aparelho de Larsson tocar três vezes antes de desligar.

O dia chegou. Tudo funcionou como combinado. Larsson morreu vivo.

Foi, como previsto no plano, para Aruba, onde deixou a barba crescer, cortou o cabelo zero e assumiu uma nova identidade como Serge, um extravante norueguês que vive do comércio de orquídeas. Olaf já providenciara um passaporte novo quando Larsson se despediu de Estolcomo, vestido como turista alemão que busca o calor tropical para fugir do frio nórdico.

Não levou nada com ele, exceto o velho exemplar do Manifesto Comunista que ganhara, aos quatro anos, do avô, um líder sindical que fora morto por fanáticos neozistas. Tão forte foi a influência deste avô em Larsson que, numa ida a Londres, ele foi ao túmulo de Marx em Highgate Hill e deixou um maço de flores com um bilhete em que colocou não seu nome, mas o do avô, Erik.

De longe de sua Suécia, que ele alternadamente amava e detestava, Larsson em sua nova vida assistiu ao espetacular sucesso de seus livros.

Livros póstumos e recompensas presentes.

O dinheiro estava indo para uma fundação contra a violência imposta às mulheres. Mas era uma fundação de fachada, criada por burocratas municipais a serviço de Olaf. O dinheiro destinado supostamente à fundação acabava, na verdade, em Aruba. Com ele Larsson mantinha as três jovens que moravam com ele e lhe prestavam serviços sexuais, Carmen, Joana e Lucia.

Juntas, as três tinham menos idade que a viúva que não sabia que não era viúva. A perda de interessa sexual pela mulher deixara dúvidas em Larsson sobre sua capacidade como homem. O alto teor de sexo da trilogia era uma compensação, conforme explicou a ele numa sessão Dr. Viktor, com quem fazia análise havia sete anos. As três mulheres de Aruba que o serviam sexualmente provaram a ele, primeiro, que ainda tinha condições plenas de apontar para o céu seu membro túrgido. Depois, que fazer sexo é muito melhor do que escrever sobre sexo.

Foi uma prima de Joana, Mercedes, que fez ruir o edifício de segredo absoluto erguido por Larsson e seu amigo Olaf. Mercedes uma vez estava fazendo limpeza na mansão de Larsson em Aruba quando descobriu um envelope cheio de recortes de jornais. Eram as resenhas e os obituários feitos para Larsson e seus livros.  Ele não resistira e combinara com Olaf que desse um jeito de enviá-los. Mercedes tinha lido a trilogia. Astuta, associou o rosto de Larsson ao de Serge e logo suspeitou de que alguma coisa estava errada.

Ou eram mais parecidos que gêmeos ou eram a mesma pessoa.

Era uma mulher sem escrúpulos. Viu em sua descoberta uma oportunidade de deixar aquela ilha ventanosa em que os pés eram castigados pelos pedregulhos irritantes da areia da praia. Deu um jeito de contar a Larsson o que sabia. Tranquilizou-o. Sumiria de sua vida e de Aruba desde que ele lhe desse o equivalente a 1 milhão de dólares. Larsson não hesitou. Era um troco para ele, agora que Hollywood iria filmar o primeiro livro da trilogia. Além do mais, sentiu uma estranha necessidade de contar para alguém os detalhes do grande plano que montara com o amigo Olaf, alguém que entendesse que aquela história poderia estar num quarto volume da série Millennium, tão rica em detalhes e tão arrojada na montagem e na execução.

Mercedes descobrira parte. Larsson lhe contou o resto antes de passar o dinheiro com que ela daria o fora de Aruba. O relato foi no Salander III, o iate que Larsson comprara em Aruba. Larsson ficou tão excitado ao rememorar a história que tentou induzir a atraente mulher que o ouvia a dar-lhe sexo. Seu avanço foi respondido com uma bofetada que ecoou por toda Aruba.

Mercedes só pensava em El Hombre.

Com seu milhão, Mercedes tinha um destino na cabeça: o Brasil, onde vivia seu grande amor, um escritor fracassado que uma vez passara por Aruba e com seu carisma avassalador a conquistara para todo o sempre. Ele a deflorou, em sua curta passagem por Aruba como convidado de uma feira literária, e ela soube aí, logo na primeira vez, que estava escravizada àquele homem rude que andava sempre com um livro debaixo dos braços musculosos de quem passou a infância entre campesinos. Passaria o céu e a terra, mas não passaria aquele homem que a fizera mulher e lhe proporcionara já na primeira vez orgasmos múltiplos.

Era conhecido, simplesmente, como El Hombre.

A sede de glória e imortalidade o fizera ser um escritor.

O fracasso o transformou num matador.

Ele só pensava nisso ao atirar o último volume da trilogia Millennium na parede da quitinete. Até que ouviu a voz lânguida e suplicante de uma mulher lasciva ao acordar murmurar:  “Hombre”.

Era Mercedes, que acordara com o impacto do livro contra a parede. Estava coberta apenas pelo colar de âmbar que ganhara de um turista finlandês em Aruba.  Ela fez, com as mãos delicadas em que o esmalte verde se destacava nos dedos, um gesto de chamamento. Mercedes adorava sexo pela manhã.

Achava que seu dia não começava de verdade enquanto não tinha um orgasmo vitalizador.

El Hombre olhou para Mercedes. Ocorreu-lhe, por um momento, a possibilidade de esganá-la para saciar a sede que sentia do sangue de Larsson.

Dizem que a sensação de matar alguém é indescritível.

Você faz o papel de deus e do diabo ao mesmo tempo.

El Hombre viu aquela fêmea súplice implorar pelo seu sexo e, em vez de ficar excitado, sentiu o ódio que trazia no peito assumir proporções quase que incontroláveis.

Então ele teve um gesto que os existencialistas como Sartre e Camus definiriam como digno do homem sem os freios impostos pela sociedade.

Ele …

(Continua.)

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