Archive for Julho, 2009

Um caso de amor sublime ou o oposto?

26/07/2009

E eis que leio uma reportagem que me faz pensar.

Um casal britânico, ele 85 anos, ela 74. Ele um maestro brilhante, ela uma bailarina que se dedicou à carreira vitoriosa do marido depois que os dois se casaram, há 54 anos.

Ela, no começo do ano, descobre que está morrendo de câncer no pâncreas e no figado. Sem chances. Ele está com os problemas típicos da idade avançada. Ouve mal, enxerga pouco.

Os dois decidem morrer numa clínica da Suíça especializada em oferecer a morte a doentes terminais por cerca de 4 mil euros, ou 12 mil reais. Os dois filhos, 41 e 39 anos, aceitam a decisão. Acompanham os pais à Suíça e os vêem morrer de mãos dadas. Tomaram primeiro um remédio contra o vômito, depois uma dose matadora de nembutal.

Grande repercussão, primeiro porque ele era um músico de categoria mundial, depois por ele não estar condenado {à morte. Um discípulo dele fica tocado com o pacto suicida do velho casal. Estavam tão distantes da idade de Romeu e Julieta, ou de Tristão e Isolda, e ainda assim decidiram morrer juntos.

Nem a morte foi capaz de separá-los.

Um amigo meu, ao ler a história, disse que ali havia não um caso comovente de amor, mas um exemplo negativo de fanatismo.

Eu, quanto a mim, sei lá. Admirei a coragem do velho maestro, quase que um Sócrates diante da cicuta, mais que a dela, que teria apenas semanas de sofrimento pela frente.

Vocês, o que pensam disso?

Um caso para louvar ou para lamentar?

Qual palavra você odeia e por quê?

19/07/2009

Leio um artigo num jornal em que o redator fala de uma pergunta formulada a um grupo de pessoas. Sim, a questão que é título deste texto. Quanto a mim: a palavra que mais abomino é impermanência, porque significa o fim de todas as coisas que amo e que me são caras. Sei que é infantil, imaturo. Sei que tudo termina mesmo, mas mesmo assim impermanência é a palavra que mais odeio na língua portuguesa, apesar de ser rigorosamente verdadeira.

E vocês, qual é a palavra odiada sobre todas as outras, e por quê?

Fabio

Como ser feliz no amor e no sexo segundo Balzac

09/07/2009

Balzac (1799-1850) foi o romancista entre os romancistas. O maior de todos. Com sua Comédia Humana, composta de 88 volumes independentes mas entrelaçados, Balzac praticamente inventou o romance como gênero literário. Balzac foi um caso raro de trabalhador árduo entre os franceses, culturalmente acostumados a cultivar o ócio acima do trabalho, algo que encontra sua tradução imortal na expressão “joie de vivre” — alegria de viver. Balzac trabalhava 15 horas por dia, movido a café. Não era exatamente um estilo de vida saudável, e ele encontrou a morte na Paris que retratou como ninguém aos 51 anos.

O amor e o sexo estão obsessivamente presentes em Balzac. De seus escritos se pode extrair um pequeno e útil manual de conduta amorosa em 15 frases nas quais Balzac prova ser uma espécie de Buda do relacionamento entre homens e mulheres. Os sutras — sintéticos aconselhamentos — de Buda para a conquista do nirvana encontram em Balzac uma versão para a conquista do sexo perfeito.

Os 15 sutras de Balzac para homens e mulheres em busca de satisfação na relação com seus parceiros amorosos:

1) Na cama está todo o casamento.

2) No amor, é certo que se dermos demasiado não receberemos bastante. A mulher que ama mais do que é amada há de necessariamente ser tiranizada. O amor durável é o que tem sempre as forças dos dois seres em equilíbrio.

3) O homem vai da aversão ao amor. Mas, quando começou por amar e chega à aversão, nunca mais volta ao amor.

4) Ainda não foi possível decidir se a mulher é levada a tornar-se infiel mais por não conseguir se refrear do que pela liberdade que encontra para a traição.

5) Você não avalia como é perigoso para uma imaginação vívida e um coração incompreendido vislumbrar a forma etérea de uma jovem e bela mulher.

6) Numa história de amor, é preciso trair para não ser traído.

7) Numa relação amorosa, o momento em que dois corações podem entender-se é tão rápido como um relâmpago, e não volta mais, depois de ter se dissipado.

8) Quanto mais se julga, menos se ama.

9) A sorte de uma relação amorosa depende da primeira noite.

10) É uma prova de inferioridade, num homem, não saber fazer de sua mulher sua amante. Só os homens tolos julgam que se deve ter ambas separadas — a mulher e a amante. A amante e a mulher devem estar unidas num único ser sublime

11) Por que, de cada dez mulheres bonitas, há pelo menos sete que são perversas?

12) Nada é mais santo, nem mais sagrado do que o ciúme. O ciúme é a sentinela que nunca dorme: ele é para o amor o que o mal é para o homem, um verídico aviso. Quanto mais uma mulher castigar com ciúme um homem, mais ele lamberá, submisso e humilde, o bastão que ao bater-lhe lhe diz quanto ela se interessa por ele.

13) A virgindade, com todas as monstruosidades, tem riquezas especiais, grandezas absorventes. A vida, cujas forças são economizadas, toma no indivíduo virgem uma qualidade de resistência e durabilidade incalculável. O cérebro enriqueceu-se no conjunto de suas qualidades reservadas. Quando os castos precisam de seu corpo ou de sua alma, quer recorram à ação ou ao pensamento, encontram então aço em seus músculos ou ciência poderosa em sua inteligência, uma força diabólica ou a magia negra da vontade.

14) Receber olhares cheios de admiração, desejo e curiosidade é como uma flor que todas as mulheres aspiram deliciadas. Algumas mulheres cumpridoras de seus deveres, lindas e virtuosas, voltam para a casa de mau-humor quando não colhem um ramalhete de galanteios durante um passeio.

15) O homem dominado pela mulher é, com justiça, coberto pelo ridículo. A influência da mulher deve ser absolutamente secreta. Em tudo, a graça nas mulheres está no mistério.

Os melhores fornecedores de orgasmo são os homens improváveis

02/07/2009

“Gosta do Miller?”, disse ele.

“Hmmm?”, disse ela.

“O Henry. Henry Miller.”

“Li algumas coisas dele. Muito sexo. Fiquei enjoada. Um puta machista.”

“Meu. Sei lá por quê. Adoro o cara. A prosa rápida, irreverente, audaciosa. As frases provocativas. Minha predileta: estou quebrado, sem planos, sem rumo, e sou o cara mais feliz do mundo. Tá no Trópico de Câncer.”

“Vontade de rir. O cara ficou rico. Riquíssimo. Quebrado? Só na literatura, pra impressionar as meninas que ele comia. Que eram muito mais novas. Tipo Berlusconi.”

“Tudo bem. No final da vida ele já tava consagrado. É verdade. Pô, mas ele escreveu pornografia pra sobreviver. Vendia para um interessado em erotismo, você sabe. Um dólar a página. Ele era um escritor barato. Como eu. Lol.”

“Quer parar com essa história de lol, por favor?”

“O Miller era louco pelo Gurdjieff. Falava dele de olhos arregalados, mesmo quando já era velho.”

“Hmmm?”

“O Gurdjeiff. Um cara meio guru do começo do século XX. Escreveu um livro chamado Encontro com Homens Notáveis, um clássico obscuro. Li uma vez. Ia ler uma segunda, mas sei lá.”

“Você lê muita coisa ruim. Fico impressionada.”

“Não leio a mim mesmo. Já é um começo. Lol.”

“Não vai parar com esse lol? Levanto e vou embora. Sério.”

“O Hitchens escreveu que as mulheres não têm senso de humor. Discordo. Acho vocês bem mais divertidas que os homens.”

“O Hitchens? Outro machista. Putz. Ele tá barrigudo pra caramba. Obesos consomem mais gás carbônico. Sabia?”

“Não. Voltando. Queria ver o Hitchens escrevendo sobre o Berlusconi.”

“Dois trogloditas, cada um do seu jeito. Um do tipo intelectual, outro do tipo folclórico. Fico admirada que eles façam sucesso.”

“O Saramago deu um cacete no Berlusconi. Chamou ele de coisa.”

“Não gosto do Berlusconi, você sabe. Mas sou mais ele que o Saramago. Putz, alguém devia impedir o cara de escrever. Ele conseguiu destruir até o pobre Jesus num livro sobre ele.”

“Lol.”

“Quer parar, homem?!”

“O Berlusconi e aquelas meninas. Acho que os caras que descem o pau têm uma certa inveja dele. Aos 72 fazer o que ele faz. O Saramago não deve pegar ninguém há muito tempo. Olha. Você consegue imaginar o Saramago transando?”

“Francamente? Acho que o cara deve ser um fenômeno na cama. Os melhores fornecedores de orgasmo para as mulheres são os tipos mais improváveis.”

“Repete. Essa frase eu vou guardar.”

“Já esqueci.”

“Lol.”

“Pára, homem. Esse lol é ridículo.”

“Vou tentar refazer a frase. Os melhores fornecedores de orgasmo são os tipos mais improváveis. É isso?”

“Sei lá.”

“O Berlus …”

“A melhor coisa que li dele foi de uma jornalista inglesa”, ela cortou. “Ela disse que ele não dava mostra de virilidade ou de potência pegando menininhas a troco de muito ouro, mas de total falta de controle.”

“Lol.”

“Chega de lol!”, ela elevou a voz.

“Viu as fotos que o El País deu?”

“Eu não perderia meu tempo com isso, sou ocupada.”

“Aquele Mirek sei-lá-o-quê, o tcheco.”

“Tcheco só conheço o Mucha e o Kafka. E o Kundera. E é o suficiente.”

“Esse Mirek. Tava com o que eles chamam de ‘estado de excitação’.”

“Aposto que o pênis dele é pequeno. Nem vi e não vou ver. Mas aposto.”

“Não medi.”

“Caras como ele e o Berlusconi. São muito óbvios. Não são fornecedores de orgasmo.”

“Lol.”

“Sai já dá minha cama, escritor barato e repetitivo! Essa história de lol tá me deixando louca. Eu nunca berrei desse jeito com ninguém, entendeu?”

“Lol.”