Archive for Maio, 2011

Tia Iracema, o sexo e as palavras

29/05/2011

Palavras de Tia Iracema, a filósofa sexual que matou meu tio de câncer no pulmão de tanto fumar ao lado dele: “Palavras bonitas ditas por homens eu esqueci muitas vezes. Mas um sexo bom, jamais. Por isso, Fabio, ao levar uma mulher para a cama, aja mais e fale menos.”

Hoje eu vou te mandar pra …

28/05/2011

Certas músicas valem por um tratado de relacionamentos.

Esta, dos Mutantes, por exemplo. Dedico-a a todas as mulheres que passaram pela minha vida. Imagino-as, uma a uma, mãos dadas no coro da música: “Atchuru!”

 

 

 

A volúpia e os prazeres segundo La Fontaine

27/05/2011

Penny Lane me passa um poema de La Fontaine.

Concordo em parte com a tese dele, não com o todo. Mesmo assim, faço questão de compartilhar.

Amar, foder: uma união
De prazeres que não separo.
A volúpia e os prazeres são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censuram, os loucos.
Reflete nisso, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.

Filósofo Sexual

25/05/2011

“Peter?”

“Hmm?”

“Nunca encontrei alguém que gostasse tanto de sexo quanto você. Estou me sentindo uma … sei lá, uma escrava sexual de você, e estou tão feliz. Aquele dia no trem … você ficou ereto a viagem toda. Mais de duas horas.”

Eles tinham ido a Paris num fim semana pelo Eurostar, o trem que passa por baixo do Canal da Mancha. Você sai de St Pancras e chega à Gare du Nord. Direto de uma área central de Londres para outra de Paris. Ao voltarem, Tania encostou-se delicadamente em Peter e dirigiu discretamente para o meio das coxas dele a ponta de seus dedos cujas unhas estavam pintadas com os naipes do baralho. Era assim que Ibiza Girls, as lendárias massagistas do Empire Casino em Leicester Square, pintavam as unhas.

“Por que tanto apetite, Peter?”

“É uma resposta ao tédio que sinto, Tania. Acho a vida, basicamente, sofrimento. Perdas, traições, decepções. Schopenhauer dizia que a pior coisa que pode acontecer a alguém é nascer, e eu parcialmente concordo. O sexo é uma trégua, um intervalo precário e glorioso, neste ciclo infindável de dor.”

“Peter?”

Ela passou as mãos pelo cabelo loiro, genuinamente branco como a neve que nos últimos dois invernos voltara a Londres. Peter achava tão inocente esse gesto casual que ficava tocado.

Uma menina, uma garotinha aos 23 anos.

“Hmm?”

“Se houvesse nas universidades uma disciplina de filosofia sexual, você poderia ser catedrático. Você é um filósofo sexual.”

“Quanta honra, Tania. Raras vezes recebi um elogio tão profundo. Pena que não possa contar isso para a minha mãe.”

Riram, os olhos de um fixados nos do outro.

“Peter?”

“YA lyublyu tebe.”

Isso era a única coisa em ucraniano que ele conhecia.

Te amo.

Que você acha da cientista que foi acompanhantes para pagar seus estudos?

20/05/2011

QUE FAZ UMA cientista jovem e bonita em busca de um doutorado caro demais para ela? A resposta para Brooke Magnanti foi: programas de 300 libras a hora. A acompanhantes brasilia Brooke Magnanti, que é sósia de Nadja no esplendor de fêmea libidinosamente loura, e que ali no link você pode ver entrevistada por uma megera loira que deve ser frígida,  conseguiu com o fruto de seu trabalho o dinheiro necessário.

Foi, deu, venceu.

Seu caso tem despertado discussões apaixonadas mundo afora.

Minha questão: você acha o método de Brooke digno de aplausos, vaias, ou o quê?

Penny Lane e Ruby Tuesday

19/05/2011

E eis que depois de séculos reaparece Penny Lane. Quer dizer, reaparece virtualmente. Está no Skype, gloriosa em seu vestido da Primark que permite ver o violino de Man Ray tatuado em suas costas.

Penny Lane não está sozinha. Está com Ruby Tuesday num bar.

Estão bêbadas o suficiente para não se importar com o fato de que me acordaram.

“Fabio, Fabio”, as duas gritam alvoroçadas.

São duas mulheres jovens, bonitas, desinibidas.

“Vem pra cá.”

Talvez eu até fosse, mas é um tanto quanto longe o bar.

“Queria te fazer uma surpresa”, diz Penny Lane. Os óculos dão a ela um ar de intelectual.”Queríamos.”

E então as duas se beijam diante da câmara, para mim. Parecia o beijo que Bogart dá em Ingrid Bergman em Casablanca. Apenas eram duas Ingrids.

Pensei se dariam um passo a mais. Penny Lane tem um piercing na forma de cruz no mamilo esquerdo. Será que Ruby avançaria nele?

Não. Não, pelo menos, na minha frente.

Elas estavam rindo.

“Nossa, estamos causando neste bar, que é totalmente careta”, disse Ruby.

O que levava duas mulheres atraentes como aquelas duas a se beijarem na minha frente? Faltam homens na cidade? Sentiriam uma misteriosa curiosidade sexual uma pela outra, mesmo sem serem lésbicas? Quanto a mim, me toma uma certa sensação de desperdício quando vejo duas mulheres se agarrarem. Mulheres bonitas, naturalmente. Se são feias, não me importo.

Penny Lane uma vez me disse que em certas ocasiões gosta da delicadeza de uma mulher. Parece que Ruby também. É extremamente feminina, com seu rabo de cavalo e os olhos da cor da lagoa de Itapoã, e no entanto parece comandar como um homem Penny Lane naquela mesa de bar.

Talvez nós, homens, sejamos muito grosseiros sexualmente. Minhas mãos não deslizam delicadamente pelo corpo de uma mulher, mas com voracidade crua.

Nos despedimos, e elas desligam o Skype.

Antes de voltar a dormir, penso na cena. E me pergunto o que eu faria se estivesse lá, ao vivo, com Penny e Ruby. Múltiplas possibilidades matemáticas, como diz um personagem de Woody Allen ao contar para um amigo que estava namorando com duas gêmeas.

E então volto a dormir.

É melhor que seja nada, e não pouco, o que antes foi tudo

16/05/2011

E então terminou assim.

Você não cuidou de mim e me perdeu.

Espero que me perder não doa em você. Tenho a impressão de que não dói, exceto por alguma coisa localizada nas proximidades do orgulho e do amor próprio.

Coloquemos assim. Que doa o menos possível.

Você refez sua vida, e eu a minha. É sempre isso, não é?

Qual o ponto em fingirmos que é possível ressuscitar um sentimento morto, uma esperança que se perdeu gota a gota no decorrer dos dias em que estivemos juntos?

Amor já não posso dar. Amizade, não quero dar. Uma vez escrevi que é melhor que seja nada, e não pouco, o que anteriormente foi tudo.

E no entanto numa improvável emergência, e só nessa situação, você sabe que farei o possível para ajudar.

Meus planos já estão em outra direção, e os seus imagino também. Minha semente brotará em outro destino, e já não há nada que possamos fazer em relação a isso.

Aprendemos algumas coisas um com o outro.

Fiquemos com isso, que não é pouco.

Os conselhos de acompanhante Belle de Jour para que a mulher tenha uma vida sexual feliz

13/05/2011

ESCRITOR BARATO LÊ escritora barata. Há uma certa camaradagem entre nós, os esforçados soldados rasos das letras, os transpolins anônimos para Dostoievski, Tolstoi e Flaubert. Por isso peguei para ler o segundo livro da Belle de Jour, a cientista gostosa e quente que, para pagar um doutorado de mais ou menos 300 000 reais, fez durante 14 meses, entre 2003 e 2004, acompanhante df em Londres. Quase 1 000 reais a saída.

É um livro divertido, muito mais cômico e irônico do que erótico. Você mais ri que fica excitado, com certeza. É um erro grosseiro dizer que Belle de Jour, ou Brooke Magnanti, glamurizou a prostituição.  É o oposto. Ela tira todo o peso, toda a seriedade, toda a solenidade da vida de garotas de programa bsb. E também a lamúria, a autppiedade. Como sugeriram grandes filósofos, entre os quais Sêneca e Montaigne, ela ri da miséria humana, em vez de chorar.

Bem, ela entremeia seus relatos com listas e conselhos espirituosos para uma vida afetiva e sexual saudável e prazerosa. Não tem o tom doutoral e mofado das revistas femininas, mas sim a vivacidade petulante de quem sabe muito sobre sexo com lindas garotas e quer repartir, generosamente, com quem sabe pouco ou nada.

Me chamaram a atenção duas recomendações que ela faz, às leitoras, para tirar o sexo de uma eventual situação de tédio. Gostaria de ouvi-los, turma. A primeira: conversar abertamente com as amigas sobre sexo. Pode ser libertador e inspirador, segundo Belle. Boas práticas sexuais podem ser trocadas. Alguma coisa que alguém fez ou faz pode ter bons resultados para você na, como Tio Fabio dizia, fornicação.

A outra recomendação é: vejam pornografia, meninas. “Ao contrário da lenda, a mulher pode subir às alturas com um bom filme pornô”, diz ela, numa tradução livre. “Há situações interessantes e instrutivas.” Admito que sempre acreditei nessa tese, a de que mulher é avessa à pornografia. Meu limite pessoal foi a História de O e O Império dos Sentidos, que não chegam a ser pornografia.

Belle de Jour, com sua franqueza desconcertante, desmonta a questão da indiferença feminina ao sexo kinky do cinema pornográfico. A única mulher realmente entretida com erotismo que conheci foi Anais Nin, uma excelente escritora que nos anos 30, com seu jeitinho suave, chacoalhou Paris com seu amigo e amante Henry Miller, o autor de Trópico de Capricórnio. Anais, de quem recomendo qualquer volume de contos, escrevia histórias tórridas para um colecionador de erotismo a 1 dólar a página. Substituiu, aí, Henry Miller, e não raro escrevia na cama, caneta e caderninho, ao lado do marido bancário adormecido. A parceria entre Henry Miller e Anais Nin se transformou num filme muito bom, Henry & June.

Bem, ao debate sobre os pontos levantados por Belle de Jour.

O violino de Man Ray

10/05/2011

“Eu adoraria tocar violino”, Peter falou. “Um tio meu dizia que se você toca um instrumento nunca está sozinho.”

Ele estava passando os dedos pelas costas de Tania. Parecia hipnotizado pela tatuagem, reproduzida de uma foto de Man Ray de 1924 que foi uma das primeiras imagens surrealistas, “O Violino de Ingres’. Man Ray homenageara ao mesmo tempo o corpo feminino, comparado à beleza de um violino, e Ingres. Sua foto remetia à “Banhista de Valpinçon”, de Ingres, uma de cujas paixões era tocar violino.

Estavam na cama do apartamento de Peter em Londres. Tania estava suada, e Peter gostava de seu cheiro assim. Tinham acabado de dar uma volta de bicicleta pelo Bishops Park. O Bishops tinha este nome porque os bispos de Londres ficavam hospedados num palácio ali. Foram margeando o Tâmisa até o final do parque, no ponto em que aparece o estádio do Fulham. Quando estava só, Peter parava ali e se sentava no banco para ler. Sempre ficava por uns instantes também vendo um carvalho de mais de 500 anos do parque, um formidável desafio ao conceito budista de impermanência. Ao chegarem do passeio de bicicleta, Tania quis tomar banho, mas Peter não deixou.

“Peter?”

“Hmmm.”

“E se eu estiver grávida?”

“Vai ser uma festa. Uma festa de nove meses, Tania.”

Peter fora tomado, nos últimos meses, pelo impulso de espalhar sua semente pelo mundo. Dissera isso a Claudio, que respondera que era uma resposta infantil e imatura ao sentimento de mortalidade que fatalmente ataca um homem de meia idade.

“Você não vai esquecer que eu sou mulher, Peter?”

Não era a primeira vez que Tania falava nisso. Ela tinha medo de que um filho levasse o pai da criança a tratá-la não mais como mulher mas como mãe.

“Como eu poderia esquecer?”, pensou Peter, os olhos ainda fixados na tatuagem.

Virou-a então para si e se dedicou mais uma vez à tentativa — imatura e infantil, segundo Claudio, mas absurdamente agradável — de espalhar sua semente.

As mulheres e a cerveja

05/05/2011

Alguns anos atrás, li uma reportagem de uma jornalista que se fingiu de acompanhantes de Brasília para dizer o que se passava em um bordel de luxo de Brasília. Esqueci quase tudo que vi ali, exceto um detalhe: as meninas eram proibidas de beber cerveja. Não por razões de saúde, naturalmente. Mas porque, segundo os donos do lugar, o hálito da mulher fica ruim com a cerveja.

Nunca percebi esse problema, para falar a verdade. Mas também jamais esqueci a recomendação dada às marafonas.

Agora, vejo outra história que liga as mulheres e a cerveja, mas de uma forma mais dramática. Uma jovem da Malaísia tinha sido condenada a algumas bengaladas por ter tomado cerveja. É um país islâmico, e consequentemente rigoroso. Ela não chegou a apanhar.  Acaba de ser divulgado que ela se livrou da pena.

Mas me retornou à cabeça a controvertida relação entre a cerveja e as mulheres.

O gin-tônica perfuma o hálito, o uísque neutraliza e a cerveja, segundo muitos, ferra. Não que eu seja influenciável, mas se eu fosse mulher pensaria muito antes de tomar cerveja.

Não pelos quilos que eventualmente fosse ganhar, mas pelo risco de comprometer a ante-sala sagrada do amor: o beijo límpido, puro, perfumado.

O decálogo do homem fino

03/05/2011

Você é um homem fino?

Moralmente, quero dizer.

É fácil testar. Veja como você se enquadra nos dez tópicos abaixo. Tirei-os de um homem de letras da Inglaterra do século XVIII, Lorde Chesterfield. Fazem parte das recomendações que, em cartas, ele fazia a seu filho.
1) Acima de tudo, evite falar de si mesmo.
2) É melhor recusar um favor com classe do que garanti-lo vergonhosamente.
3) Olhos e ouvidos abertos, e boca quase sempre fechada.
4) Piadas ruins e risada alta fazem você parecer um bufão.
5) Nunca pareça mais sábio e mais inteligente do que as pessoas que estão a ser redor.
6) Não admire nada exageradamente.
7) Faça apenas uma coisa por vez.
8)  A paciência é o único meio de fazer que as coisas ruins não piorem.
9) Seja sério, mas não enfadanho.
10) Fale com frequência, mas jamais longamente.