On Days Like These

26/04/2011

Peter e Tania estavam deitados na cama, invadidos pelo tédio pós-coito. Cada qual fumava um cigarro, como em filmes antigos.

“Que música era aquela?”, perguntou Tania em seu inglês com um charmoso acento ucraniano. “É tão, tão, tão linda.”

Peter gostava de colocar música na hora do sexo. Escolhera uma que ouvira num programa de rádio da BBC 2 apresentado por Elaine Page, uma grande cantora de musicais do lendário West End de Londres. Não poderia ser mais cafona, mais brega. Mas era profunda, verdadeira como só as músicas absurdamente românticas são. On Days Like These, cantada por Matt Munro, uma espécie de réplica britânica de Frank Sinatra nos anos 60. On Days Like These fora trilha sonora de um dos primeiros filmes de James Bond.

Era a história de um amor acabado, e de um homem que relembrava a mulher que amara. Peter cantarolou um trecho.

On days like these when skies are blue and fields are green
I look around and think about what might have been
and then I hear sweet music float around my head
as I recall the many things we left unsaid
it’s on days like these that I remember
singing songs and drinking wine
while your eyes played games with mine

“Me deu vontade de chorar”, disse Tania. “Será que um dia você …”

Ela parou no meio da frase. Peter notou que seus olhos verdes estavam molhados como o mar de Salvador. Estivou automaticamente os braços para confortá-la.

“Será que … você vai se lembrar de mim assim, no futuro? Um dia eu vou voltar para minha Ucrânia e você vai seguir sua vida de jornalista itinerante.”

Ele evitava pensar no futuro, porque era sempre fonte de apreensão, angústia, sofrimento. Lera em Epicuro que o sábio é um imprevidente, e procurava aplicar essa grande máxima a sua vida. Ninguém, exceto os loucos, olha para o futuro e vê coisas lindas. Para que olhar, então?

“O futuro está tão longe, Tania, mas tão longe que não vale a pena perder tempo falando dele.”

“Peter.”

“Hmmm?”

“Você. Você já escreveu coisa assim para alguma mulher? Nunca escreveram nada parecido para mim. Me sinto tão … tão vazia.”

“Sou um jornalista, não um escritor, Tania. As coisas que posso ter escrito para mulheres que amei e perdi devem ser muito ruins, francamente. Não tenho o lirismo, a melancolia necessária para fazer coisas sentimentais. Sou um … durão. Um homem durão, como um caubói daqueles faroestes antigos.”

Riram.

Então a puxou para si, e se amaram mais uma vez ao som daquela música tão tola, desta vez com uma sofreguidão que até então estivera ausente da rotina erótica leve e alegre que tinham criado.

Um homem faz o que tem que fazer

23/04/2011

Zapeio a televisão e paro em Shane, um clássico do faroeste.

Paro tudo e vejo. Mais uma vez.

Gosto do herói solitário, incorruptível, melancólico, gosto do homem que “faz o que tem que fazer”, como Shane diz e como Shane é.

Shane não quer mais usar a pistola com a qual é exímio. Rápido, certeiro.

Mas um homem faz o que tem que fazer. E então ele a tira da gaveta onde jazia para enfrentar os vilões que querem matar o dono do rancho em que ele trabalhava para tomar suas terras.

Ele tentara viver uma vida pacífica, mas não era isso que a fortuna imporia a ele.

Um homem faz o que tem que fazer. No caso dele, isso significava sacar a arma e matar vilões até que um deles algum dia fosse mais rápido.

A primeira vez que vi Shane me marcou, particularmente, a cena em que ele se despede da mulher do dono do rancho, que ele amava silenciosamente, respeitosamente. Homens como Shane, em sua pureza inexpugnável, jamais avançam sobre mulheres alheias.

Sou um obcecado por cenas de despedidas. Elas contêm toda a tensão, toda a grandeza épica que um caso de amor pode ter.

A mulher pergunta a Shane, ao vê-lo partir, quando voltariam a se ver. Ele avisa que está indo embora para não voltar.

“Nunca mais?”

“Nunca é tempo demais”, ele responde. Never is a long time.

Escrevi um romance aos 30 e poucos anos ao qual dei exatamente este título. O personagem principal esperara uma vida inteira para, numa despedida, poder dizer essa frase.

Guardei esse romance na gaveta. Jamais quis publicá-lo.

Um homem faz o que tem que fazer.

Once upon a time in Parsons Green

18/04/2011

Peter estava com Tania no Seven Bells, um pub em Parsons Green. Era um de seus pontos prediletos de Londres. A pint era boa, a comida era boa, o preço era bom. Peter gostava de se sentar com os olhos voltados para a praça de Parsons Green. Ficava vendo as crianças de patinete, os casais namorando na grama, homens e mulheres lendo ou simplesmente deitados sem fazer nada. Peter jamais descobrira o mistério da grama londrina. Você não tem que usar uma toalha de anteparo para se deitar. Você pode sair do escritório para comer um sanduíche na grama, como num piquenique, deitar em seguida para descansar e depois basta se chacoalhar para poder outra vez voltar ao trabalho, sem ter que tomar banho ou trocar de roupa.

Nada é tão londrino quanto deitar na grama de um parque.

Peter pensava por que se apaixonara por Tania. Verdade que ela era atraente, verdade que seu acento ucraniano era extremamente charmoso, verdade que era simplesmente matadora a tatuagem do violino de Man Ray nas costas brancas de quem nasceu, cresceu e viveu com sol escasso. Verdade que, como uma Ibiza Angel que era, uma das lendárias massagistas do Empire, o cassino de Londres de Leicester Square, seus dedos sutis e ao mesmo tempoo intensos provocavam múltiplas sensações boas no homem. Verdade que no sexo ela parecia sempre faminta, voraz, disposta a agradar.

Mas não era isso. Ou não era apenas isso. Tania sabia fazer um homem se sentir único. Olhava nos olhos nas conversas, não perdia uma só palavra, ria das piadas. O riso não era alto e grosseiro: era suave e transmitia sinceridade. Tania não desviava a cabeça quando um homem bonito entrava no bar, no restaurante ou onde fosse. Peter, com ela, se sentia único e insubstitível.

Quem pode resistir a uma mulher assim?

“Você parece preocupado”, ela disse.

E estava mesmo. Mal tocara no prato, uma combinação de linguiça, purê de batatas e um molho agridoce. Claudio lhe telefonara na noite anterior. Queria desabafar. E ouvir o amigo.  Serra fora hostilizado por petistas numa andança pelo Rio. Alguma coisa fora atirada nele, e ele acabou fazendo uma tomografia. Imagens mostrariam, depois, que o que jogaram em Serra era uma bolinha de papel. Aparentemente, ele queria tirar proveito político do episódio. Estava atrás de Dilma e isso poderia ajudar. Mas o dono do jornal queria que Claudio escrevesse um editorial em que sublinhasse a intolerância dos petistas diante da divergência.

Claudio não era petista. Tivera problemas, na juventude, com petistas em disputas em movimentos estudantis. Mas era jornalista. Um editorial sério teria que questionar, muito mais que os braços que atiraram a bolinha de papel, o teatro de Serra. Não havia uma só marca de nada em sua cabeça. Como era de esperar, a tomografia não acusara rigorosamente nada.

Mas não era este o editorial que o dono pedira.

Claudio acabara escrevendo o que lhe fora mandado, depois de relutar. Cada palavra saíra com repugnância, mas saíra. Tinha que falar com alguém, e essa pessoa era Peter, seu velho amigo. Dissera que nunca se sentira tão irrelevante como jornalista. Estava pensando em se demitir. A perspectiva de escrever no futuro coisas como aquele editorial o apavorava. Pensava, quando jovem, que poderia mudar o mundo com o jornalismo. Agora percebia que não conseguia sequer mudar uma ordem do patrão.

Mas.

Mas o salário, os bônus, as obrigações pesavam, e não pouco. Peter aconselhou Claudio a não fazer nada até o final das eleições. Sugeriu que tirasse férias depois e viesse a Londres, onde poderia espairecer e decidir com calma seu futuro. De resto, Peter disse a Claudio que o espaço dos editoriais era dos donos, e não dos editores do jornal.

“Algum problema no Brasil?”, perguntou Tania. Ela estava comendo uma salada de folhas com brie derretido. Era vegetariana.

“Nada, nada”, disse Peter. Não iria aborrecer Tania com uma história de bastidor de redação.

“Minha mãe diz que um homem bom merece ser tratado como um rei quando está preocupado”, disse Tania.

“E …”, disse Peter.

“Você é um homem bom.”

“E …”

“Sou uma filha obediente.”

“E …”

“E parece que uma chuva caiu em mim. Estou completamente molhada.”

“E…”

“Então acho que a gente deve terminar logo essa comida””, disse Tania. Ela se inclinou para Peter, deslizou a mão direita sobre sua coxa, e viu que ele queria exatamente a mesma coisa que ela.

O editor deve levar a estagiária para a cama?

13/04/2011

Um romance está sendo escrito.

E é solicitada a ajuda de vocês.  Ele é passado numa redação de jornal, e uma das tramas centrais é a atração que o diretor sente por uma estagiária.

A questão: ele deve ir adiante?

Um trecho:

Claudio acordou no meio da noite pensando em Daniela.

Devia ir adiante no que seu instinto mandava ou era melhor obedecer à razão?

Estava, no momento em que pensava nisso, com o que poderia ser definido como um estado de ereção pulsante. A imagem de Daniela provocava isso nele. Como esquecer a tatuagem em seu coração atrevido, que ela lhe mostrara por segundos petulantemente num bar, e na qual se lia seu nome, Claudio? Como esquecer, mais que tudo, o rabo de cavalo que dava a ela um ar de normalista?

À turgidez física se contrapunha a reflexão fria. Romances em redação são complicados, sobretudo quando a diferença de idade é muito grande. Entram em cena ciúmes perigosos. Passou pela cabeça de Claudio uma frase de Rochefoucault, o grande autor de máximas francês do século XVII: “O ciúme nasce do amor, mas não morre com ele.” Claudio tinha um exemplar com anotações do livro de Rouchefoucault. Regulamente o lia ao acaso durante alguns minutos porque o fazia lembrar, sempre, da miséria humana. Rochefoucault não tinha nenhuma fé na virtude das pessoas. “A maior parte de nossas virtudes são vícios disfarçados”, escrevera.

Não que os romances entre jornalistas tivessem que acabar em sangue, como foi o caso da paixão doentia que ligou o diretor do Estadão Pimenta Neves a uma jovem jornalista. Mas é difícil que terminem bem, pensava Claudio.

O problema é que a ereção não cessava.

Acendeu o abajur para ler. Fazia isso sempre que acordava no meio da noite. Não ficava se mexendo, torturado, angustiado. Simplesmente lia até voltar a dormir. Apanhou um livro de poesia de Auden. Abriu em qualquer página. Foi dar num poema que se chama Leap before you think. Pule antes de pensar.

The sense of danger must not disappear:
The way is certainly both short and steep,
However gradual it looks from here;
Look if you like, but you will have to leap.

Um sinal?

Não que Claudio acreditasse nisso. Era, tecnicamente falando, um materialista ateu. Só acreditava no que via. No que podia tocar. Desprezava superstições e superticiosos. Mas. Mas era curioso. Parecia feito para ele na questão de Daniela.

Era como se Auden estivesse lhe dizendo: vá em frente antes de pensar muito. Era exatamente esta a mensagem que vinha, também, de sua ereção que já se ia tornando dolorida.

Pense se quiser, mas você vai ter que se atirar.

Xxxxxx

Exatamente naquele momento Daniela estava na cama de seu apartamento com Lívia, designer de uma revista feminina. Não chegavam a namorar. De vez em quando, faziam sexo. Livia era lésbica. Daniela em certos momentos preferia homens, pela intensidade. Em outros mulheres, pela delicadeza. Naquela noite, ela estava fria, distante.

“São necessárias duas pessoas para que o sexo seja bom”, disse Lívia. “Estou sozinha aqui nesta cama. Cadê você, Dani?”

Dani estava em Claudio. Quer dizer, estava pensando em Claudio. Aproximou seu rosto do de Lívia e a beijou na boca com volúpia, mas era Claudio que imaginava alcançar ali com sua língua frenética.

Paixão

11/04/2011

Quero que vocês me ajudem a refletir sobre uma frase de La Rochefoucauld: “A paixão faz do tolo um sábio e do sábio um tolo”.

Once Upon a Time in London

04/04/2011

O Violino de Man Ray

“Eu adoraria tocar violino”, Peter falou. “Um tio meu dizia que se você toca um instrumento nunca está sozinho.”

Ele estava passando os dedos pelas costas de Tania. Parecia hipnotizado pela tatuagem, reproduzida de uma foto de Man Ray de 1924 que foi uma das primeiras imagens surrealistas, “O Violino de Ingres’. Man Ray homenageara ao mesmo tempo o corpo feminino, comparado à beleza de um violino, e Ingres. Sua foto remetia à “Banhista de Valpinçon”, de Ingres, uma de cujas paixões era tocar violino.

Estavam na cama do apartamento de Peter em Londres. Tania estava suada, e Peter gostava de seu cheiro assim. Tinham acabado de dar uma volta de bicicleta pelo Bishops Park. O Bishops tinha este nome porque os bispos de Londres ficavam hospedados num palácio ali. Foram margeando o Tâmisa até o final do parque, no ponto em que aparece o estádio do Fulham. Quando estava só, Peter parava ali e se sentava no banco para ler. Sempre ficava por uns instantes também vendo um carvalho de mais de 500 anos do parque, um formidável desafio ao conceito budista de impermanência. Ao chegarem do passeio de bicicleta, Tania quis tomar banho, mas Peter não deixou.

“Peter?”

“Hmmm.”

“E se eu estiver grávida?”

“Vai ser uma festa. Uma festa de nove meses, Tania.”

Peter fora tomado, nos últimos meses, pelo impulso de espalhar sua semente pelo mundo. Dissera isso a seu amigo Claudio, que respondera que era uma resposta infantil e imatura ao sentimento de mortalidade que fatalmente ataca um homem de meia idade.

“Você não vai esquecer que eu sou mulher, Peter?”

Não era a primeira vez que Tania falava nisso. Ela tinha medo de que um filho levasse o pai da criança a tratá-la não mais como mulher mas como mãe.

“Como eu poderia esquecer?”, pensou Peter, os olhos ainda fixados na tatuagem.

Virou-a então para si e se dedicou mais uma vez à tentativa — imatura e infantil, segundo Claudio, mas absurdamente agradável — de espalhar sua semente.

O mito da felicidade

26/03/2011

Ninguém é feliz no casamento.
Ninguém é feliz no adultério.
Ninguém é feliz na solidão.
Logo, ninguém é feliz.

Schoppenhauer escreveu: “A pior coisa que pode acontecer a alguém a nascer”. A essência do budismo: a vida é sofrimento.

Dá para discordar?

Diferenças

26/03/2011

A questão amorosa me traz muitas dúvidas e poucas certezas. Melhor: cada vez mais dúvidas e cada vez menos certezas. Uma dessas é que, para dar certo com uma mulher, você tem que amar basicamente as mesmas coisas. Vou adiante. O ideal é que os dois também detestem basicamente as mesas coisas. O resto é fantasia. Pensar que quando duas pessoas diferentes se juntam uma vai acabar mudando a outra é de uma ingenuidade comovente.

Sobre o casamento

23/03/2011

 

De um grande amigo meu, trago a discussão abaixo.

 

Casar é ruim para os artistas. Cerceia a criatividade. Faz a arte ceder espaço a trivialidades domésticas, como pagar as contas.

Este é um conceito universalmente aceito.

Emile Zola, o grande romancista francês de “Germinal”, se insurgiu contra. Assim como se rebelara, como jornalista, contra a má vontade com que o mundo empoeirado das artes em Paris recebera a inovação de pintores como Manet, Monet e Cezzane.

Em “A Obra” Zola aparece como Sandoz, um jovem jornalista. É o romance em que ele mais se coloca pessoalmente. Numa conversa com Claude, um pintor que está tentando viabilizar a carreira, Sandoz o critica por não casar com a mulher por quem era apaixonado. Ele próprio, Sandoz, avisa ao amigo que em breve vai casar.

Por Sandoz, Zola faz o elogio do casamento. A mulher, afirma ele, traz a disciplina, o equilíbrio necessário para que o artista possa se concentrar em seu trabalho.

Claude acaba se casando. Mas, paradoxalmente, dadas as opiniões de Zola, vive um casamento trágico. O pintor criado por Zolá tem um filho com problemas mentais e jamais se acerta na vida dentro de uma família. Acaba se enforcando.

Isso mostra que Zola talvez não estivesse tão convencido assim das virtudes matrimoniais. Ele próprio se casou formalmente, mas acabaria tendo dois filhos fora do lar.

Manet foi, segundo a maior parte das interpretações, a fonte de inspiração de Zola para o personagem de Claude. Mas também Cezanne, amigo de infância de Zola, é citado.

O que é inegável é que Cezanne não gostou nem um pouco do romance do amigo. A amizade entre os dois terminou nele.

Para a posteridade, talvez por obra de mulheres casamenteiras, não ficou o casamento miserável de Claude. Ficou o elogio conjugal de Zola, cujas palavras você encontra espalhadas em muitos lugares na internet.

Quanto a mim, minha opinião é que, bem, minha opinião não vem ao caso.

Bunga bunga

19/03/2011

Só para saber: alguém já ouviu falar de “bunga bunga” — aquelas festas, melhor, surubas do velho Berlusconi?

Se sim, detestam ou admiram?

Who knows when we shall meet again?

11/03/2011

João estava em seu Smart. Decidiu ligar o rádio ao acaso e ouvir a música que aparecesse.

Fazia isso de vez em quando, nos momentos de angústia e desalento, como se esperasse um sinal.

E então tocou uma música que ele ouvira loucamente anos antes.

Aquele refrão.

Who knows when we shall meet again, if ever.

Quem sabe quando nos veremos outra vez, se é que nos veremos?

Pensou nele mesmo, pensou nela, pensou nos dois, pensou nos sonhos que sonharam e no pesadelo que viveram.

E então o cantor cantou um trecho de despedida poético. Goodbye my love. The stars wait for me.

Aí João acelerou, porque tinha que seguir adiante.

A maior dor

06/03/2011

“Sabe o que mais me doeu no nosso final de caso?”, Lúcio perguntou a Alice.

“Hmm?”

“Foi o sentimento de ter sido tratado como um idiota. Aquelas suas histórias, aquelas suas explicações, aquelas suas desculpas. Aquelas suas mentiras todas. Se você achou que eu ia acreditar, que eu ia engolir tudo, é porque tinha uma opinião realmente ruim sobre mim. Esta é a maior dor que vou levar das nossas ruínas.”

 

 

‘Fiz por amor, não por submissão’

04/03/2011

Ela quer saber o que vcs acham

Nossa Desesperada do Piercing parece que gostou da conversa, como se pode ver no relato abaixo. Ah, sim. Me chamou a atenção uma frase da Desesperada: “O amor diz sim.”

“Fabio, os comentários são muito bons. Mas eu queria esclarecer que fiz o que fiz por amor, e não por submissão. Se X, meu amado, me pedir que transe com outro, transarei. Se me pedir que vá com ele a uma casa de sexo em grupo, irei. Se quiser me sodomizar, deixarei. Isso se chama amor. O amor diz sim. O amor nunca diz não. Antes que me recomendem um analista, vou avisando que eu sou própria sou psicóloga. De consultório lotado. Quanto ao piercing, cada vez gosto mais dele. Curiosamente, não vi ninguém dar uma opinião estética sobre meu seio com o piercing.”

‘Uma decisão tinha que ser tomada’

03/03/2011

 

Recebi  da nossa amiga desesperada uma mensagem que gostaria de compartilhar com vocês.

“Fabio, li todas as opiniões das pessoas de seu blog. Agradeço a cada uma delas, mas uma decisão tinha que ser tomada. E tomei. Neste exato momento, um piercing enfeita meu mamilo esquerdo. Ou, se você preferir, meu coração. Não vou dizer que não senti dor. Mas foi uma dor boa. Meu namorado está feliz comigo. E eu mesma estou mais feliz ainda. Me sinto mais mulher, se você entende. Não melhor que as outras, mas diferente.

Em nome da mãe

02/03/2011

E a nossa desesperada do piercing volta a me procurar. Agradece os conselhos que tem recebido da turma, que não batem aliás com minha visão, e acrescenta uma informação nova e relevante. “Fabio, esqueci de dizer uma coisa. Ele diz que quer o piercing porque assim ele lembra da mãe, que morreu quando ele tinha 15 anos. Ele me contou que a mãe tinha um piercing no coração.”

Bem, isso reforça minha posição. A desesperada, para mim, deveria colocar o piercing, que para seu amado tem um valor afetivo e sentimental, além de sexual.

Mas gostaria de ouvir vocês.

Uma mulher desesperada pede conselho

01/03/2011

 

De vez em quando me confundem com um consultório sentimental.
Uma leitora, por exemplo, me conta que o homem que ama pede uma prova de amor. Não uma qualquer. Ele exige um piercing no seio esquerdo.
Por que no esquerdo?
“Porque é o coração”, explica a leitora.
Ela está indecisa e desepesrada. Me pede um conselho. Tem medo da dor. Tem mede de infecções. Tem medo de depois ter problemas de amamentação.
Mas também tem medo de perder o ser amado.
Não sei o que responder. Como homem, tendo a achar que as mulheres deveriam atender todas as solicitações de seus maridos, namorados ou amantes, desde que não sejam absurdas. No fim elas acabam se beneficiando, porque terão um sexo melhor. Mas pode ser uma visão masculina, apenas.
Por isso peço a ajuda de vocês.

Pergunta do Dia

25/02/2011

Me diga uma coisa.

Você se sente, como eu, no meio de lugar nenhum, como eu? Planos desfeitos, sonhos ruídos? Amigos desleais, inimigos desonestos, chefes idiotas?

Se sim, junte-se como eu ao coro da música abaixo.

Silicone

21/02/2011

Juliana me liga. Eufórica.

“Vou colocar silicone, Fabio.”

Juliana tem seios lindos, aos 30 e poucos. Firmes, delicados. Por que acabar com eles e virar uma a mais da multidão das mulheres artificialmente infladas? Ela me conta o preço: 7 000 reais. Pigarreio ao ouvir, mesmo sem ter pigarro.

Dá para passar uma semana em Paris.

“Não aguento mais viver sob o terror de que um dia meus peitos vão cair, Fabio.”

Será que toda mulher vive sob esse terror? É o que me pergunto. Tia Iracema, a maior filósofa sexual que conheci, dizia que a maior vantagem do homem sobre a mulher é que nosso peito não cai.

Hmmm.

Há uma beleza esquisita, penso, nos seios já não tão firmes assim. É como se eles olhassem para nós e dissessem, “meninos, eu vivi”.

Mas este é um argumento que não vai dissuadir Juliana.

 

 

Pensamento do Dia 2

19/02/2011

Tia Iracema, em seu leito de morte, teve uma reflexão que quero compartilhar com vocês. Seus pulmões já não eram o que tinham sido antes, por conta de 800 000 cigarros fumados desde os 13 anos, mas a voz ainda assim era clara como uma manhã de junho no Hyde Park:

“O bilionário impotente é um miserável diante do mendigo potente.Não existe humilhação pior para um homem do que estar na cama com uma mulher nua e não conseguir entrar nela.”

Sobre o ciúme

16/02/2011

Reproduzo aqui um texto de um amigo que mora em Londres. O debate serve para nós.

“Segunda às 10 da noite é dia de tevê em casa.

Passa na BBC 2 Epidodes, a nova série de Matt Leblanc, o Joey de Friends. Ele faz o papel dele mesmo numa série de tevê.

Uma série dentro de uma série, assim como A Noite Americana, de Truffaut, é cinema dentro do cinema.

A história gira em torno dele, Matt,  e do casal inglês que criou a série.

A mulher tem ciúmes ferozes do marido. Dele com Matt, porque viram grandes amigos. Dele com a atriz loira da série, por motivos óbvios.

Há uma situação curiosa que conta muito sobre ciúme obsessivo.

Ele, o marido, submetido a uma situação limite, resiste. Não sai com a atriz.

Ela, a ciumenta, submetida também a uma situação limite, não resiste.  Cede.

A psicologia do ciúme é fascinante. O ciumento em geral enxerga a si mesmo no outro – sua fragilidade e vulnerabilidade diante de tentações. Acha que o outro vai fazer exatamente o que ele faria.

E então agride o parceiro porque a si próprio não dá.”