Um romance está sendo escrito.
E é solicitada a ajuda de vocês. Ele é passado numa redação de jornal, e uma das tramas centrais é a atração que o diretor sente por uma estagiária.
A questão: ele deve ir adiante?
Um trecho:
Claudio acordou no meio da noite pensando em Daniela.
Devia ir adiante no que seu instinto mandava ou era melhor obedecer à razão?
Estava, no momento em que pensava nisso, com o que poderia ser definido como um estado de ereção pulsante. A imagem de Daniela provocava isso nele. Como esquecer a tatuagem em seu coração atrevido, que ela lhe mostrara por segundos petulantemente num bar, e na qual se lia seu nome, Claudio? Como esquecer, mais que tudo, o rabo de cavalo que dava a ela um ar de normalista?
À turgidez física se contrapunha a reflexão fria. Romances em redação são complicados, sobretudo quando a diferença de idade é muito grande. Entram em cena ciúmes perigosos. Passou pela cabeça de Claudio uma frase de Rochefoucault, o grande autor de máximas francês do século XVII: “O ciúme nasce do amor, mas não morre com ele.” Claudio tinha um exemplar com anotações do livro de Rouchefoucault. Regulamente o lia ao acaso durante alguns minutos porque o fazia lembrar, sempre, da miséria humana. Rochefoucault não tinha nenhuma fé na virtude das pessoas. “A maior parte de nossas virtudes são vícios disfarçados”, escrevera.
Não que os romances entre jornalistas tivessem que acabar em sangue, como foi o caso da paixão doentia que ligou o diretor do Estadão Pimenta Neves a uma jovem jornalista. Mas é difícil que terminem bem, pensava Claudio.
O problema é que a ereção não cessava.
Acendeu o abajur para ler. Fazia isso sempre que acordava no meio da noite. Não ficava se mexendo, torturado, angustiado. Simplesmente lia até voltar a dormir. Apanhou um livro de poesia de Auden. Abriu em qualquer página. Foi dar num poema que se chama Leap before you think. Pule antes de pensar.
The sense of danger must not disappear:
The way is certainly both short and steep,
However gradual it looks from here;
Look if you like, but you will have to leap.
Um sinal?
Não que Claudio acreditasse nisso. Era, tecnicamente falando, um materialista ateu. Só acreditava no que via. No que podia tocar. Desprezava superstições e superticiosos. Mas. Mas era curioso. Parecia feito para ele na questão de Daniela.
Era como se Auden estivesse lhe dizendo: vá em frente antes de pensar muito. Era exatamente esta a mensagem que vinha, também, de sua ereção que já se ia tornando dolorida.
Pense se quiser, mas você vai ter que se atirar.
Xxxxxx
Exatamente naquele momento Daniela estava na cama de seu apartamento com Lívia, designer de uma revista feminina. Não chegavam a namorar. De vez em quando, faziam sexo. Livia era lésbica. Daniela em certos momentos preferia homens, pela intensidade. Em outros mulheres, pela delicadeza. Naquela noite, ela estava fria, distante.
“São necessárias duas pessoas para que o sexo seja bom”, disse Lívia. “Estou sozinha aqui nesta cama. Cadê você, Dani?”
Dani estava em Claudio. Quer dizer, estava pensando em Claudio. Aproximou seu rosto do de Lívia e a beijou na boca com volúpia, mas era Claudio que imaginava alcançar ali com sua língua frenética.
14/04/2011 às 23:16 |
Recomendo o autor demitir o editor. Assim acabaria com o dilema e com o romance, que pelo visto não está agradando muito.
15/04/2011 às 00:03 |
Ual… adorei.
16/04/2011 às 16:27 |
Ele deve sim. Urgente.
17/04/2011 às 13:30 |
Estamos apenas de passagem.
entre ter ” razão e ser feliz ” fico com a segunda opção.
Viva a Vida.
30/04/2011 às 06:54 |
deve sim , até pq , vida só temos uma . Ja que a impermanencia é algo permanente , ele deve arriscar , se for errado , depois o tempo se encarrega de por tudo em seu lugar .
20/05/2011 às 02:54 |
Ah não, já te vi à beça. Para esse e começa outro,