Archive for the ‘Fabio Hernandez’ Category

Tia Iracema, o sexo e as palavras

29/05/2011

Palavras de Tia Iracema, a filósofa sexual que matou meu tio de câncer no pulmão de tanto fumar ao lado dele: “Palavras bonitas ditas por homens eu esqueci muitas vezes. Mas um sexo bom, jamais. Por isso, Fabio, ao levar uma mulher para a cama, aja mais e fale menos.”

A namorada mais velha

23/10/2010

Ele ficou velho para ela

Zapeio num desgoverno e falta de compromisso totais.
E então dou com Jude Law, num filme em que ele é um conquistador compulsivo e, depois, arrependido. Um predador que abjurou.
Uma cena me fez pensar.
Ele tinha um caso com uma mulher mais velha, feita por Susan Sarandon. Ele se sente em pleno comando, por razões etárias. Ao procurá-la, depois de um tempo, fica sabendo que ela está com outro cara.
Fica surpreso, decepcionado e indignado.
Quer saber o que o outro tem de melhor que ele. Ela está embaraçada, mas acaba falando.
“Ele é mais novo …”
Isso me lembrou um artigo de Mantraman em que ele falava de seu amor por Rebeldia, bem mais moça que ele. Mantraman, aliás Ciro Pessoa, dizia que escutava muitas vezes o aviso de gente dizendo que ela podia encontrar alguém mais novo que ele.
“Mas esquecem de dizer que eu também posso”, dizia Mantraman.
Foi o que fez, no filme, a namorada velhota – mas que ainda dava um senhor caldo – de Jude Law. Quando li aquela provocação no Mantraman, fiquei parado alguns minutos, pensando. Nunca tinha visto um raciocínio daqueles. No filme, viria uma segunda surpresa — a mesma lógica aplicada a uma mulher que gosta de juventude. Curioso como JL fica desconcertado com a franqueza SS no filme com a súbita, irremediável perda de seu grande ativo — a juventude.

 

“Não ponham piercing onde eu coloquei: na vagina”

18/11/2009

Essa carta merece atenção especial. Mais uma vez, um email fajuto para repartir conosco um drama real. Peço um pouco mais de calma nas análises. É uma jovem mulher que se anunciou como  Senhorita P, jornalista de Lisboa, a agora cosmopolita e vibrante capital de Portugal. Fiz uma ligeira edição, tentando basicamente trazer o português de Portugal para o do Brasil sem no entanto desfigurar o gracioso estilo original da Senhorita P, e espero ter sido mais competente nisso do que na vez anterior. Ali, tropeçando em letras,  troquei o fastio pós-coito de RR, nosso amigo que, na dúvida entre duas namoradas, optou por ambas e se estrepou, e agora está recebendo conselhos deste grupo, conforme se pode ver em textos anteriores. A Senhorita P  agora com a voz, que imagino dotada do bonito, marcante, lendário acento português, que me fala forte porque remete a Maria José, portuguesinha do Porto que passou um semestre em minha escola, num intercâmbio, e várias estações em meu coração:

Mulheres: não cometam o meu erro.  O facto é que escorreguei por ingenuidade e agora pago o preço. Ouvi numa roda casual feminina, numa festa, uma rapariga dizer que estava tendo orgasmos enquanto andava. Deus, eu jamais tinha conseguido um orgasmo com penetração, e olhem que não foi por falta de tentativas,  apenas por estímulo no clitóris, e alguém chegava ao paraíso simplesmente caminhando? Sou repórter de uma revista, e a curiosidade me fez abordar, na primeira oportunidade, a felizarda, que levava nos braços uma mala Prada berrante.

A rapariga, ligeiramente enfrascada de vodca, me olhou com um certo ar de superioridade, algum desdém, quando lhe perguntei se podia explicar direito o orgasmo andante. Mas não tive que insistir. Como todas as criaturas vaidosas e arrebitadas, ela estava ávida por falar de si mesma. Não contei a ela minhas dificuldades para alcançar o climax amoroso, ou ela se daria ares superiores de Cristiano Ronaldo, o Nojento.  Ela parou de falar somente quanto tocou seu telemóvel, um Blackberry como o meu. Mulheres como ela atraem como magnetos homens que colecionam mulheres.  “O segredo é um piercing na cona”, ela disse. “Quando ando, o piercing mexe no clitóris e fico tão excitada que parece que uma tempestade desabou sobre mim bem ali. Minha cueca fica encharcada.” Ela me contou que uma vez, chamada pelo chefe na multinacional holandesa em que trabalha, ‘orgasmou’ no trajeto, e teve que ir antes ao banheiro. O resto do relato da rapariga é desnecessário. Ela garantiu que sentia excitação praticamente todo instante, mesmo quando, nos almoços de domingo na casa da mãe, o pai antes da comida pedia a todos que orassem..

Inocente que sou, apesar de repórter, assim que cheguei em casa fui pesquisar sobre o adereço milagroso. Descobri, no centro da cidade, perto do Bica do Sapato, onde almoço quando o jornal paga a conta,  uma casa que me pareceu fish. Apenas mulheres trabalhavam lá, e foi um fato crucial em minha escolha. Não gostaria que um homem que nunca vi mexesse em minha área privativa .  Mesmo em 2009 há quem, como eu, conheça o significado do pudor. Sim, mesmo sendo jornalista, enrubesço.  Quem me atendeu se apresentou como Adélia, morena de Algarve, soube depois, 27 anos, single mother, uma vez que o namorado a engravidou e largou e ela quis a criança. Tinha uma chávena de café nas mãos,  e disse que a moda do piercing íntimo tinha conquistado as raparigas de Lisboa . “Não viu que as mulheres aqui parecem mais satisfeitas, rindo sem motivo na rua?” Não entendi se era fato ou piada, confesso, Sr. Hernandez.

Ela me disse que havia diversas espécies de piercing íntimo, e me sugeriu um que me traria, celeremente, os resultados desejados, não exatamente nos lábios inferiores, mas perto, numa região menos sensível. Doeria menos, ela informou. Topei.  Com o carinho possível, Amália fez o que tinha que fazer. A dor que senti ali naquele momento, me faltam palavras para contá-la, Sr. Hernandez. Sabe quando seu dedo fica preso na porta de uma carrinha? Era essa espécie de dor.

Com o passar dos dias, a dor em vez de ceder piorou. Procurei minha ginecologista, que me deu uma bronca assim que ouviu a história. Ela me contou que tinha atendido muitos casos semelhantes, e afirmou que era uma das piores modas que tinha visto. Perigosa e cruel como um cossaco russo, como o senhor gosta de escrever. Receitou para mim medicamentos e alertou que eu poderia perder a sensibilidade na região. Infelizmente, foi o que aconteceu. Faz sete meses que tive o azar de escutar a gabolice de uma mulher metida numa festa. Não tinha orgasmo com penetração, e agora não tenho também com estímulo clitoriano. O prazer ficou para trás. Venho tentando eliminar o desejo por meio de meditações num ritmo de duas de 20 minutos ao dia, uma pela manhã, outra antes de dormir. Aderi ao budismo, nos últimos meses, e espero substituir o prazer carnal pelo prazer espiritual nos braços de Gautama.

Comentei o caso, desesperada, com uma amiga de minha redação. Ali me segredou que também fizera o mesmo, mas depois retirou o piercing porque muitos homens a viram como se fosse uma vagabunda. Às suas leitoras, digo apenas: pensem duas vezes. Ou até três, antes de colocar, na infame esperança de orgasmos andantes, um piercing na vagina.”

Machos, fêmeas e gays discutem o fastio pós-coito

06/11/2009

casal

Uma vez, escrevi sobre um tema sexualmente controverso: o fastio pós-coito. Para encurtar: aquele momento, depois do êxtase, em que nós queremos ver futebol, ou apenas não fazer nada, e as mulheres, quase sempre, tagarelar. Muitas vezes, e já falei nisso, os comentários superam o texto que os originou. Foi o caso. Decidi, por isso, fazer uma compilação de reações, com o que acredito enriquecer o debate  nacional sobre um dos temas mais delicados nas histórias de amor e desamor.

Quanto a você: com qual dessas opiniões mais se identifica? Melhor ainda: qual sua visão sobre esse assunto?

1) Mára: “Vocês homens perdem o prazer tão rapidamente. Nem notam que o prazer dado um ao outro flui literalmente por todo corpo! A textura da pele muda no depois de, o cheiro, o toque, mas isso tem que ser saboreado lentamente. Não dá pra ser na base do fast-food! Pena, vocês perdem tanto!”

2) mara: “Nosso desejo ancestral de copular com todas as mulheres do mundo????????????????????? Editoras da Criativa, por que nós leitoras temos que ler um cara desse numa revista tão bacana?? Por quê?? Queremos coisas novas! Xô velharia!” [Na época, eu era colunista da Criativa.]

3) Milene: “GENTE, VAMOS ACABAR COM ESSA HIPOCRISIA. ELES SAO ASSIM E NÓS ASSADO…OS HOMENS SÃO PURO HORMÔNIO. Q HÁ DE SE FAZER ENTÃO??? CURTAM ESSA COISA GOSTOSA Q ELES TÊM DE NOS ADORAR SÓ PRA FAZER AMOR…RELAXEM E LITERALMENTE GOZEM,SEM SE PREOCUPAREM COM O DEPOIS.”

4) Clau: “Meninas! Perdoem-nos. Somos assim mesmo em nossa natureza sexual. Claro que vamos nos esforçar para melhorar, por que não?”

5) Marcello: “Isso é puro machismo de homens insensíveis. Mulheres não precisam só de sexo, mas sim de carinho. Agindo dessa forma, esses homens só fazem a nossa reputação ficar cada vez mais em baixa.”

6) Luca: “Acho que elas deveriam fazer mais…mais…e mais amor e não conversar tanto! “

7) Juliano: “Existe uma solução para o problema do ilustre colunista. Manter relações com outros homens. Só macho pra entender a cabeça de outro macho. Beijo, me liga.”

8 ) Fc: “Adorei o texto e falo isso não pelo fato de ser homem , mesmo porque sou gay , falo porque mesmo eu tendo relações com outro homem eu sinto essa necessidade de ter esse momento pois sexo sem a presença física e emocional de com quem acabei de transar.”

9) Ana Cláudia: “’O desejo nos acorrenta às mulheres; o momento pós-coito nos liberta’”. Que frase sábia!!!! Eu sou mulher e, sinceramente, não preciso ficar agarradinha e dando beijinhos em um homem que está “acabado” e com percepção alterada…Hhahahahahah Viro para o lado sem problemas. Homem é assim mesmo, com exceções.”

10) Jorge: “Será que os homens e mulheres nunca vão perceber que essa guerra de sexos só interessa aos homossexuais? Se o homem não lambe a mulher, é só conversar com ele! Alguns homens nunca pensaram nessa “necessidade” das mulheres. Mas não é porque você não foi lambida que precisa partir para o homossexualismo. O interesse dos homossexuais é criar um estereótipo do homem para jogar ele contra a mulher. Assim, a mulher vira “lésbica”. Se a mulher vira lésbica, sobram mais homens, sem mulheres e soltos, não?”

11) André: “Por mais que as mulheres queiram que façamos diferente, não dá para negar que nós homens, na grande maioria, agimos desta forma. Eu,infelizmente, me incluo neste rol de seres.”

12) ENGENHEIRO: “O grande segredo numa relação é um se entregar ao outro numa completa sintonia.. e se o outro após o sexo prefere “ficar viajando em gozo”… ótimo.. a mulher no caso acaba compreendendo.. principalmente após ver um texto destes…”

13) Beth: “Nada de se conformar com frases do tipo:” Homem ou mulher é assim mesmo.” Façamos cada um a nossa parte.”

14) Jorge: “Será que ninguém percebeu que esse texto não faz o menor sentido?”

15) Maurício: “Generalizaram. Eu e minha cara metade curtimos bastante o pós orgasmo. É mútuo. Ás vezes dormimos, às vezes conversamos; depende do que queremos fazer. Vai ver somos um casal de sorte!”

16) Karlinha: “Sou do interior. Casei virgem. Sai daqui, fiz facul e voltei mais moderna. Na minha vida universitária, transei com um carinha no mesmo dia em que o conheci. Nunca tinha feito isso de primeira, mas o tesão foi grande e deixei minhas culpas católicas para trás. A tímida indo para a cama no mesmo dia em que conheceu o cara. Mas fui e foi otimo. Gozei. Era a primeira vez que gozava com penetraçao. Depois do pós-coito ele pegou um cigarro e deu uma baforada que parecia nada, mas era importante. Só existia ali ele e o cigarro. Fiquei olhando aquela cena e pensei: é uma das cenas mais bonitas de amor que já vi. Ele e o seu cigarro. Fiquei superexcitada, pulei em cima dele, dei uma chupada naquele cigarro e voltamos a copular. Sem mais comentarios.”

17) Izabella: “Sinceramente não vejo a minima necessidade em conversar. Apesar de mulher também sofro de fastio pós-coito. Que coisa mais chata ter que falar sobre o nada, quando você quer só relaxar e sentir a adrenalina percorrendo suas veias! Chego a ficar mal humorada com esse lance de conversar. Da ultima vez, sem dó nem piedade, mandei calar a boca e me deixar quieta. Tuuuudo bem que depois levou quase duas horas para a pessoa convesar comigo de novo. Mas valeu a pena, tive meus 15 minutos de silêncio merecidos.”

18 ) Taisanto: “Não são só os homens que sofrem de fastio pós- coito, pois tbm sofro desse mal… A minha vontade é ficar quietinha, olhando pro nada, sem ninguém pra ficar falando, me azucrinando… Eu sou meio parecida com essa daí de cima, a Izabella, porém um pouquinho mais doce (brincadeirinha)..kkkkkk”

“Sou a esposa do professor com quem você está tendo um caso há mais de um ano”

21/10/2009

Mais uma história de dor, paixão, entrega completa chega à minha caixa de correspondência. Uma universitária com claros pendores literários desabafa comigo como se estivesse diante de um velho amigo. Fico quase comovido. Um leitor ter tamanha confiança em você a ponto de abrir seu coração por completo é uma recompensa improvável para um escritor barato. Para não perder a onda, vou chamá-la de Senhorita Z.  Basicamente, ela se apaixonou por um professor a quem chama num momento, poeticamente, de Adão e depois, espirituosamente, de Pecadinho.

A si própria, ela chama de Giselle. A Senhorita Z relutou e tentou se controlar quando se sentiu mental e fisicamente atraída por Pecadinho. Fora a diferença de idade, e ele ser seu professor, Pecadinho era casado. Mas os sentidos acabaram por vencê-la. Perguntei a ela se poderia, com nomes alterados e os devidos cuidados para não expor ninguém, publicar a história para que nosso grupo examinasse o caso e comentasse, talvez ajudando-a a se recompor para tocar a vida depois do final de um amor traumático. “Confio em você, Fabio. Como confiei, corpo e coração, em meu mestre.”

O caso está contido no último email que a Senhorita Z enviou a Pecadinho. Um relato de dor, angústia, êxtase, perplexidade, mas não de arrependimento.  Caudaloso, voluptuoso, e em certos momentos traindo a confusão que se apossou da Senhorita Z  ao se tornar aluna, pupila e amante de Pecadinho. A situação ganhou contornos desesperadores num certo dia em que alguém apareceu na porta da  Senhorita Z.  Era a outra, a grande rival na afeição de Pecadinho, aquela que merecera dele a aliança modesta que levava, orgulhosa, no indicador esquerdo. “Minha campainha tocou e ouvi uma mulher de 1,55, cabelos encaracolados, uns 38/39 anos, feição bem parecida com a minha, dizer (nunca vou me esquecer da cena): “Giselle, sou esposa do professor com quem você mantém um caso há mais de um ano. Temos um filho…” A vida da Senhorita Z haverá sempre de estar dividida em duas etapas: antes e depois da campainha cujo som foi cruel como um cossaco russo.

Abaixo, o email que a Senhorita Z enviou a Pecadinho. Reparem que começa num tom informal, numa quase ficção jornalística. Depois vem a exposição seca, contudente, apaixonada dos fatos.

“A estudante Giselle é apaixonada por um homem quase 20 anos mais velho e casado. Para complicar ainda mais, ele é professor dela. A relação já dura 14 meses. Ela resistiu à paixão, mas acabou se entregando. Apesar da dor e do remorso pela sua situação, Giselle conheceu as delícias de viver uma grande e enlouquecedora paixão”

Daria uma matéria e tanto!!! Mas eu escreveria assim:

Tirando a brincadeira, eu sempre soube que a gente tinha hora marcada. Encare esse e-mail como um desabafo sincero, para que possa conhecer o que falta por aqui dentro… Sei exatamente o dia em que me apaixonei por vc: dia 18 de janeiro, quando eu voltei de casa, e depois de um longo mês eu te vi novamente. Lembro como se fosse hj: vc pegou na minha mão e me olhou como quem está encantado, enquanto o frentista te esperava na janela do carro, mas vc nem percebeu. Naquele dia eu admirei vc. Olhei muito. Sabe, geralmente qnd nos vemos vc está de terno e gravata. Naquele dia eu só queria sua cara lavada, seus olhos sobre mim. Te ver sem moldura me fez implodir de paixão! Já nos conhecíamos há quase um ano quando vc invadiu o meu sossego! Fora quando te vi de terno pelos corredores da faculdade, me veio como uma aparição!

Dali em diante, Pecadinho, vc seria pra sempre. Mas ainda sim eu comecei a me policiar, achando que era empolgação. Em qualquer lugar do mundo é uma situação muito delicada uma aluna se apaixonar por um professor. E eu sei bem disso. Na faculdade eu te namorava de longe… Meses se passaram e a paixão não diminuiu. Preferi deixar a razão de lado e me entregar à paixão, me expondo a todos os riscos que você me oferecia. Bom, vc sabe como ninguém que eu guardei essa paixão em segredo por um bom tempo.

Só quando março voltou, depois de um ano que eu havia te conhecido e te paquerado pela primeira vez, pensei: ‘Tenho que desabafar com alguém… Que droga de amiga de infância é essa que não pode nem ouvir?’… Chamei a Jussara pra sair e contei td. Ela ficou de queixo caído, mas ela me conhece bem. Disse que sabia que eu não era muito puritana, mas daí a manter um relacionamento desse tipo, ela nunca acreditava. Até pq (talvez vc saiba melhor que ela) quem está acostumada com td na mão, a tempo e hora que quer, não trataria com naturalidade essa situação. Mas fazer o que se eu estou na minha pele? Começamos a discutir a idéia de eu dividir meu sentimento com vc, mas ‘se rolar sentimento, não rola’ (expressão usada no nosso primeiro encontro) não saía da minha da minha cabeça. E ai ‘Se amar é perder eu não quero te amar e ficar sem você’ também tinha grande significado pra mim. Como sempre em nosso envolvimento tão peculiar, eu disse ‘gosto, gosto muito pra desistir sem falar’ por e-mail. Aliás, a tecnologia só trabalhou a favor do nosso namoro.

Escolhi um dia em que estivesse longe, pq se a dor me pegasse, em casa eu encontro conforto e muita atenção. Confesso que quase desisti, mas a gente estava numa situação delicada, então não havia nenhum motivo pra continuar escondendo. Eu só pensava em como vc leria aquilo. Imaginei sua expressão. Vc tão desavisado me intimidou. Na sua resposta vc foi meio tímido, um pouco assustado, mas doce como sempre. Me tratou com a ternura e o cuidado que eu precisava. Como não poderia deixar de ser, vc foi didático: : ‘Infelizmente, não tenho como estimular esse sentimento… Mas preciso dizer que sou um homem dividido. Gosto de duas mulheres’. O que pra qualquer pessoa seria uma ofensa, pra mim foi vitória. Conquistar um lugar que antes não era meu, pra mim veio como um troféu. Eu não tinha expectativa de que sua reação fosse diferente, só queria que vc soubesse o que eu sentia. Queria que vc entendesse que a paixão não escolhe hora, local, pessoa. E vc sabia muito bem disso e ainda me lembrou que todos nós corremos o risco do amor repentino, e eu era apenas uma vítima dessas surpresas que o coração apronta. Contar a vc me aliviou, foi um desabafo, como este e-mail de agora. Graças a Deus, daquele dia em diante, nunca mais fomos os mesmos. Nós criamos mais cumplicidade, que a vc diverte e a mim embaraça!

Vc passou a ter uma preocupação a mais e eu sei disso muito bem. Tomou bastante cuidado para que o sexo, que antes era muito desprendido, não me soasse como apenas sexo. Tanto que me lembro de vc perguntar se ainda poderia me dizer ‘trepa gostosa’!!! O que acontece quando nossos corpos se encontram nunca existiu pra mim. É uma coisa muito maior do que eu poderia imaginar. E eu sei bem que dificilmente acontecerá assim com outra pessoa. Sabe, uma vez a Sara me disse “Querida, vc vive a iminência do final, quando qualquer pessoa comum estaria fazendo planos e querendo mais. Vc não acha cruel?” Lembro de só responder: “Estou feliz”.

Hoje tenho um sentimento controlado. Não quero enlouquecer. Só vou gostar de vc, mesmo que vc não queira ou não me goste. Estou desarmada. Eu vou sobreviver, mesmo tendo te perdido. Nosso problema sempre foi de adequação. Vc não me pode, da mesma maneira que eu não te posso. Eu não cheguei na hora errada. Só atrasada. E mesmo assim, ainda tive a oportunidade. Maravilhoso demais!!! Sou muito alegre por isso. É como se fosse meu prêmio de consolação! Esteja convencido de que, nesses 3 últimos meses eu vou fazer de td para que nossa relação acadêmica não mude.

Sabe o que eu mais gosto na nossa relação? O segredo gostoso de poder conviver com vc, sabendo de td que rola fora da universidade (ou dentro!!) e poder conviver com isso como num filme! Ninguém nunca percebeu nada entre nós, mas meus colegas sempre ficavam intrigados com meus sumiços repentinos, com minhas saídas na hora do intervalo (pra te amassar) e com os bolos e biscoitos de café da manhã. Mas ninguém nunca suspeitou da gente. Isso é o que me fascina. Como eu posso enganar tão bem? Como eu tive a capacidade de te ter como um garanhão num banheiro sujo de serviço de uma universidade? Como eu posso ter sido ousada a ponto de me entregar a você num estúdio-escola de TV? Como??? Sei que outras pessoas vão aparecer, mas acho difícil que alguma relação seja páreo para tudo o que nós vivemos.

É a primeira vez que vivo uma paixão tão verdadeira, que consegue resumir muita troca de carinho e sexo bom ao mesmo tempo. Tento não me enganar, mas às vezes, fantasio vc comigo. Já imaginei nossos caminhos se descruzando e a gente se reencontrando no futuro. Já passou pela minha cabeça perguntar a vc se eu teria chance, caso vc não fosse casado. Mas preferi não mexer nesse assunto, porque a resposta, negativa ou positiva, seria dolorosa. Se vc respondesse que não, eu ficaria chateada, claro. Se vc dissesse que sim, aumentaria o tamanho da minha perda. Eu sofreria sabendo que vc é capaz de me querer, mas não me pode.

Sem querer, Pecadinho, vc me fez um favor: me tornou mais generosa. Talvez porque qualquer pequeno gesto seu -um sorriso, uma palavra- me conforta e me aquece. E, para se contentar com pouco, você tem de aprender a dar sem esperar nada em troca. Situação difícil pra pessoas mimadas! Pode se sentir vitorioso! Vc fez de mim uma pessoa muito generosa. Estar apaixonada por vc é exercitar a generosidade. Bom, minha paixão por vc está bem calma, mas continua intacta. Vou sentir saudades de vc, vou ter que ter disciplina pra não te ligar, não te procurar.

Mas sempre q eu te ver, sei que vou tremer por dentro, como naquele 18 de janeiro. Eu vou filtrar meu acesso a vc, porque sei que será difícil controlar o que sinto. Quando vc vem falar comigo, ou vou até vc, meu corpo estremece, meu coração dispara. Tenho ciúmes dos colegas que conseguem conversar com vc naturalmente. Mas nossa relação acadêmica, como prometi, não vai mudar. E não vou usar esse nosso segredo para obter nenhuma vantagem. E saiba que se, por ventura alguém descobrir nosso segredo, terei o maior prazer em confirmar pra td universidade td o que nós passamos juntos (brincadeiraaa)! Posso ter sido grossa e incompreensiva qnd me referi à sua vida como ‘problema seu’. Mas entenda que essa foi uma maneira de me proteger, e te proteger! Não sei nada da sua vida pessoal, e nem quero saber. Não tenho curiosidade nenhuma. A sua história e da sua família não tem nada a ver comigo Quis te dizer isso para, mais uma vez, expressar o que sinto por vc.

E tmb pra que vc conheça de verdade td o que se passou aqui dentro. Se eu pudesse voltar no tempo, sentiria de novo tudo o que senti desde que o conheci. Claro que seria o paraíso se eu pudesse te ter nos meus braços novamente. Na pior das hipóteses, se isso não acontecer, vou levar para a velhice uma bela história para contar. E quem acha que isso é pouco jamais sentiu alguma coisa parecida. E pra terminar: “pelo menos não vivo a pior culpa: a de não viver os meus desejos” Um beijo.